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A crise, o investidor e o preço das ações

por Carlos Alberto Debastiani
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A crise, o investidor e o preço das açõesQuando pensamos no valor de uma ação, logo nos vem à mente o conceito utilizado para formar um indicador de balanço chamado VPA (Valor Patrimonial da Ação). Esse indicador é utilizado para determinar quanto vale “realmente” uma ação, ou seja, qual é o seu valor de balanço (ou valor contábil). Ele é calculado dividindo-se o valor total do patrimônio líquido da empresa pela quantidade de ações que ela possui na data de divulgação do balanço. Como as empresas costumam divulgar prévias de seu balanço anual nos balancetes trimestrais, podemos calcular um novo VPA ao final de cada trimestre – já que é comum que o patrimônio líquido das empresas sofra variação nesse período.

O VPA nos dá uma idéia de quanto receberíamos em dinheiro, por cada ação que possuímos, se aquela empresa encerrasse suas atividades naquele trimestre e vendesse todo o seu patrimônio para distribuí-lo aos seus acionistas. No entanto, o preço praticado pelo mercado[bb], ao negociar uma ação, quase nunca é compatível com o VPA, já que é dessa disparidade que se extrai o lucro nos negócios com ações.

Os preços de mercado de uma ação são estabelecidos, em parte, pela expectativa que os investidores[bb] têm sobre os negócios futuros da empresa, sobre sua capacidade de expansão e as possibilidades de conquistar e manter um crescimento constante e consistente.

A relação entre Preço e Valor Patrimonial
A fim de obter uma avaliação mais aproximada da relação entre o valor de balanço e o valor praticado nas negociações, criou-se um indicador de mercado chamado P/VP (Preço / Valor Patrimonial) que traça exatamente esse paralelo. Esse indicador de mercado utiliza, em sua fórmula, o VPA. Ao dividir a cotação da ação pelo VPA obtemos um indicador da magnitude dessa discrepância, que mostra o ágio (ou deságio) que o mercado está disposto a pagar por aquela ação.

Um P/VP de 1,5 significa que a ação está sendo negociada com ágio de 50% pelo mercado. Podemos calcular o P/VP a cada trimestre, quando um novo balancete é divulgado, ou até mesmo diariamente, já que as cotações de mercado mudam todos os dias. A evolução do P/VP ao longo do tempo nos mostra se o ágio pago por aquela ação está crescendo ou diminuindo e nos dá uma idéia do maior ou menor interesse do mercado por aquele papel.

É comum que o P/VP seja maior do que 1 e improvável que seja menor que isso já que, neste caso, a ação estaria sendo negociada abaixo do valor que está lastreado por patrimônio. Essa situação só ocorreria, em tese, se a empresa corresse risco de falência ou em situações em que seu patrimônio fosse tomado.

Em tempos de crise, como o que vivemos agora, notamos que o VPA normalmente se mantém estável, com pouca variação (a não ser que a empresa tenha que vender seu patrimônio para saldar dívidas) enquanto o P/VP sofre uma queda considerável, puxado pela pressão de venda que força uma baixa nas cotações. Essa movimentação é normal e se deve à uma redução das expectativas dos investidores quanto aos negócios dessa empresa.

A crise internacional e seus reflexos
No entanto, o desespero que tomou conta do mercado no segundo semestre de 2008 mostrou situações atípicas no comportamento desse indicador em diversas empresas. O medo da crise parece tê-la deflagrado de fato. Empresas cujos negócios não tinham envolvimento direto com o financiamento de crédito, nem com exportações/importações e nem com a demanda por commodities começaram a apresentar forte queda, sem nenhum amparo de origem fundamentalista. Algumas chegaram a ser negociadas por metade de seu VPA sem que seu balanço informasse qualquer razão para isso.

De fato, o cenário aponta que enfrentamos, talvez, a maior crise de nossa história – e falo a nível mundial e não somente no que diz respeito ao Brasil. Apesar disso, até os analistas americanos mais pessimistas assumem que essa crise deve se resolver até 2010, quando acreditam que a economia americana deve retomar o crescimento. É fato que o Brasil está, hoje, muito mais preparado para enfrentar crises do que já esteve no passado. Os fundamentos de nossa economia estão muito mais sólidos do que os de outros países emergentes e somos menos dependentes da demanda externa.

Considerando estas afirmações, se o horizonte de investimento for de longo prazo o momento atual pode ser altamente propício para a compra de ações, principalmente aquelas que se encontram com um P/VP extremamente baixo (ou até menor do que 1) sem amparo em fundamentos. A tendência para esses papéis que foram depreciados indevidamente pelo desespero das vendas é de uma retomada rápida, assim que as nuvens de incerteza começarem a se dissipar sobre o mercado.

Algumas dessas reações já começaram e é possível encontrar papéis com larga margem de valorização nos últimos 2 meses de 2008. Cabe ao investidor atento procurar, nos balanços dessas empresas, a discrepância ilógica entre seus fundamentos e a queda exagerada no P/VP, para que possa efetuar ótimos negócios no longo prazo.

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Carlos Alberto Debastiani é empresário, investidor e autor dos livros “Candlestick”, “Análise Técnica de Ações” e “Avaliando Empresas, Investindo em Ações”.

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