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O novo embate entre a poupança e os fundos de renda fixa

por Conrado Navarro
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O novo embate entre a poupança e os fundos de renda fixaJuliano comenta: “Navarro, assistimos recentemente o Copom reduzir em 1,5% a Taxa Selic – a taxa básica de juros de nossa economia. Agora em 11,25%, patamar mais baixo da história, parece-me que fundos de renda fixa (DI, por exemplo) cujas taxas de administração são altas não trarão rentabilidade tão interessante quando comparados a outras alternativas. Estou certo? Imposto de renda e taxa de administração alta não farão da caderneta de poupança uma opção mais interessante para 2009? Será que o governo vai permitir isso? Obrigado.”

O assunto é muito relevante. Por comodidade, insistência de gerentes e até mesmo desinformação, milhões de brasileiros investem em fundos de investimento conservadores com taxas de administração maiores que 1,5% – número que considero razoável. Na prática, isso significa receber menos juros e correção do que seria possível com risco equivalente, mas um pouco mais de interesse e conhecimento. Preste atenção: eu disse fundos de investimento conservadores, o que significa produtos que investem basicamente em títulos (públicos e privados).

A razão para fugir de produtos deste tipo, com altas taxas, é simples. Qualquer investidor pessoa física pode adquirir títulos pré e pós-fixados, privados (CDB) ou públicos (Tesouro Direto), de forma direta e sem ter que pagar taxa de administração. Como os retornos com estes produtos sempre foram relativamente altos, poucos se preocupavam. Agora, com o prenúncio de mais quedas na Selic, a situação mudou: a boa e velha caderneta de poupança já é melhor que muitos fundos por ai – e você verá números sobre isso.

Você acredita na queda progressiva da Selic?
Esta pergunta é importante pois ditará suas atitudes em relação ao produto conservador de investimento que deverá escolher. As vozes do mercado já projetam nossa taxa básica de juros na casa de um dígito ao final de 2009, podendo chegar a 9%. Para se ter uma idéia, o contrato de juros futuros negociado no pregão da Bolsa de Mercadorias e Futuros que vence no final de ano está no patamar de 9,90%.

Diante dos cada vez mais sentidos impactos da crise internacional e dos rumos da economia nacional, parece que o caminho de baixas sucessivas na taxa Selic veio mesmo para ficar. Isso, claro, se a inflação não voltar a assustar – razão óbvia para se voltar a elevar os juros básicos. Não creio em uma nova explosão do consumo como a que vimos recentemente. Logo, tudo indica que finalmente rumamos para uma taxa de juros de um dígito. Quem diria, hein?

A renda fixa “apanha” da caderneta de poupança
O jornal Valor Econômico de ontem deu destaque para a importante comparação entre as rentabilidades de fundos de renda fixa e da caderneta de poupança. Segundo o jornal, simulações feitas por uma consultoria indicam que, nos próximos 12 meses, usando a atual projeção de juros futuros (de 9,95%), a poupança renderia 6,39%, empatando com um fundo DI com taxa de 2% ao ano – que não é tão fácil de encontrar. A tabela a seguir, extraída da mesma edição do Valor, mostra como a competitividade entre os produtos de renda fixa e a poupança tendem a esquentar bastante:

Rentabilidade da Poupança versus renda fixa
Fonte: Valor Econômico – 16/03/2009

Repare como a poupança vence todos os confrontos quando a taxa de administração é maior que 1% ao ano. Além da taxa, incide também sobre os fundos o Imposto de Renda, cuja alíquota varia de acordo com o período no qual o dinheiro fica aplicado (de 22,5% até 15%). Das observações e da tabela lanço algumas observações:

  • Se você acredita que a economia e seus termos mais distantes do dia-a-dia (como a Selic) não influenciam a rentabilidade de seu dinheiro, fique esperto. Entender um pouco de “economês” e sua influência no dia-a-dia de nossas aplicações é tão importante quanto ter dinheiro para investir;
  • Se você sempre achou a poupança atraente, fique esperto. Ela é interessante porque não tem taxa de administração, nem incidência de IR. Mas é preciso levar em conta a rentabilidade líquida e os riscos do investimento. Há quem nem conheça os CDBs ou títulos públicos pré-fixados e defenda a poupança. Você é assim?
  • Se você aceita taxas de administração de até 3% sem reclamar, fique esperto. Quando for investir seu dinheiro, preste atenção no rendimento líquido da aplicação. Ou seja, quanto de retorno você vai ter depois da taxa de administração e da incidência do IR. Afinal, momentos como atual serão mais freqüentes em sua vida futura;
  • Se você for usar o dinheiro em menos de um ano, a caderneta de poupança é a solução ideal no momento. Por conta da taxa de administração e IR para os fundos e do IR para o CDB, a rentabilidade dentro de um ano é mais atraente na caderneta de poupança. Cerca de 0,65% ao mês contra 0,55% dos fundos DI e 0,64% do CDB.

Em suma, a situação é semelhante àquela vivida em 2007 – quando também falamos da atratividade da poupança -, mas parece que desta vez perdurará por mais tempo. Economia em ritmo mais lento, inflação sob controle – e lá embaixo -, diminuição no ímpeto de consumir e oferta de crédito mais controlada são algumas razões para acreditar que os juros de dois dígitos serão deixados para trás.

Então que tal piorar a poupança?
Claro, por que não? Se ela está tão atraente frente aos fundos de investimento conservadores, vamos deixá-la com rentabilidade menor e menos atraente. Este é exatamente o raciocínio do governo, até por pressão das instituições e da necessidade de manter clientela para seus títulos. Segundo expectativa do mercado, o Banco Central aplicaria um redutor no cálculo da TR (Taxa Referencial), que faz parte da composição da poupança. Expectativa. Por enquanto apenas especula-se que o governo deva alterar algo para deixar a caderneta de poupança menos atraente.

Portanto, fique atento ao noticiário econômico e às cenas dos próximos capítulos deste embate. Por hora, a boa e velha caderneta de poupança mantém a dianteira e atrai muitos investidores. Mas, amanhã a história pode ser outra. Ufa. Bons investimentos!

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Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.

Crédito da foto para stock.xchng.

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