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Cartões de loja: caros, confusos e desnecessários

por Conrado Navarro
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Cartões de loja: caros, confusos e desnecessáriosVocê entra em uma loja de departamentos ou em um grande varejista, escolhe alguns produtos e enquanto aguarda na fila e escolhe a forma de pagamento alguém lhe aborda gentilmente, com uma expressão feliz e olhos bastante focados. Você ouve uma proposta: “Oferecemos a possibilidade do pagamento em maior número de parcelas, sem juros, participação em sorteios, além de descontos e benefícios exclusivos em cada compra. Tudo isso de graça ao optar por nosso cartão”.

O discurso é sempre o mesmo e pretende convencê-lo de que aceitar o cartão da loja não vai lhe trazer nenhuma mudança no cotidiano. Vende-se a idéia de você não perde nada ao optar por um cartão deste tipo. O máximo que pode acontecer é você usá-lo de vez em quando e ainda obter bons descontos. Você é induzido a pensar “Hum, tanto faz. Legal”. Pura falácia! Cuidado.

O cartão de loja não é seu aliado nas compras, sinto decepcioná-lo. Ele é um instrumento de fidelização e faturamento. Ponto. Poderíamos ir além, discutindo se sua agressiva estratégia de massificação não pretende também gerar consumidores ainda mais despidos de consciência financeira e focados apenas no consumo facilitado através dos altos custos (e lucros, na outra ponta) do crédito. O que você acha?

Mitos e verdades sobre os cartões de loja
O texto de hoje tem caráter educativo, portanto facilitarei o entendimento de minhas opiniões montando uma pequena lista dos principais motivos de confusão e problemas quando o assunto são os cartões de loja. Reflita sobre seus principais mitos e verdades:

  • Cartão de loja também é cartão de crédito? MITO! É muito comum que se confunda o cartão de loja com o cartão de crédito. O cartão de loja pode ser um cartão de crédito. Pode, mas na maioria não é, pois não há bandeira alguma a ele associada. A ProTeste fez um excelente estudo com 15 opções de cartões; destes, apenas 3 funcionavam como cartões de crédito. O funcionamento, no entanto, é semelhante: há fatura, cobrança de juros no crédito rotativo e tarifas;
  • Cartão de loja é totalmente grátis, sem anuidade e tarifas? MITO! As propagandas informam que o cliente não terá custos se usar o cartão, mas isso não é verdade. A maior parte das opções disponíveis gera custo sob nomes como “tarifa de manutenção”, “taxa de extrato” ou “custo de manutenção”. A moda agora é também oferecer – pasme! – seguros como pacotes adicionais aos serviços, todos com valores embutidos no parcelamento. Informe-se muito bem antes de aderir;
  • Cartão de loja oferece parcelamento fixo, sem juros? MITO! O foco da publicidade é na questão do valor fixo das parcelas, mas geralmente há incidência de juros. Não raro, ao apresentar o cartão da loja no ato do pagamento, o profissional responsável tenta induzi-lo a parcelar no maior número possível de parcelas. Lojas de departamento costumam ser as únicas a oferecer parcelamento do valor anunciado sem acréscimo;
  • Cartão de loja oferece melhores condições de pagamento e descontos? MITO! No caso dos descontos, a matemática é simples: o “benefício” está precificado em outros itens e na margem dos pagamentos com juros. Não há desconto real, pechincha. As condições de pagamento, geralmente voltadas para a opção de parcelas fixas, são péssimas: juros da ordem de mais de 100% ao ano (e 400% a.a. para o rotativo), mais caros que um empréstimo pessoal ou consignado.

Ué, mas só foram citados os mitos. E as verdades? Este artigo tem como referência a maioria dos cartões, então há (poucas) exceções, mas a verdade é que você não precisa de um cartão de loja. Seu atual cartão de crédito, cuja data de vencimento e características você já conhece bem, resolve muito bem as situações de compra em que o cartão de loja seria necessário. Dinheiro vivo e cartão de débito completam a mais que suficiente cesta de meios de pagamento de qualquer brasileiro.

Com foco no dinheiro, o produto virou estratégia.
Se analisar com atenção as práticas detalhadas neste artigo, chegará a uma conclusão simples e óbvia: o produto que você compra nas lojas é a isca, o gatilho, a razão da compra. O faturamento galopante das redes vem mesmo da comodidade oferecida pelos cartões próprios. O antigo crediário evoluiu. Logo, a prática não é nova, mas continua perigosa.

Não entendeu? A empresa lhe empresta o dinheiro necessário para que você leve os itens que escolheu, acrescido de juros, permitindo o pagamento parcelado. Ah, mas isso não caracteriza um empréstimo? Exato, o varejo descobriu que ser banco é muito mais interessante que ser loja e que ser os dois pode ser ainda melhor, afinal o produto vendido tem sua margem própria de lucro.

Conclusão: as instituições gentis ao oferecer o inocente “cartão facilitador de compra” ganham nos juros, como uma financeira, e ganham nos produtos, como uma loja. Não há nada de criativo nesta constatação. Quer negociar melhor? Prefira usar o cartão de crédito que você já tem, jogue fora os cartões de loja e pague sempre à vista e com desconto. Se você insistir, as lojas acabarão aceitando. Afinal, o consumidor desinteressado sempre paga por quem pede desconto. Simples assim.

PS: Você está diante do artigo número 1000 do Dinheirama. São três anos dedicados à educação financeira e tudo aquilo que envolve a boa tomada de decisão. Economia, investimentos, empreendedorismo, pedagogia, sustentabilidade, finanças pessoais, resenhas e muito mais. Tudo só vale a pena porque você nos visita e nos prestigia. Muito obrigado! Continuamos aqui se você continuar por ai. Divulgue nosso trabalho e participe sempre!

Crédito da foto para freedigitalphotos.net.

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