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Um ano sem compras! Impossível?

por Adriana Spacca Olivares Rodopoulos
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Um ano sem compras! Impossível?“Um ano sem comprar”. Quando vi essa frase em um dos comentários sobre o meu último artigo publicado aqui no Dinheirama“Felicidade: o lançamento do século XXI” – fiquei bastante curiosa: como assim ficar um ano sem comprar? Resolvi investigar.

A autora do comentário, Marina, criou um blog para compartilhar sua experiência de ficar um ano sem comprar uma série de itens que ela considera supérfluos: Um Ano Sem Compras. Em função desse blog, acabei encontrando um sem número de outros que seguem a mesma linha. E gostaria de compartilhar com você, leitor, os meus achados sobre o tema, que do meu ponto de vista, “dão um caldo e tanto”!

O consumo e as mulheres
O primeiro ponto que gostaria de ressaltar aqui é que a maioria esmagadora desses blogs tem mulheres como autoras. Bem, até aqui não há nenhuma grande novidade, já que nós, mulheres, somos o grande alvo da publicidade, mas mesmo assim acho que vale a pena explorar um pouco o assunto.

A mídia passa constantemente a mensagem de que ser mulher é o resultado do que eu chamo de uma alquimia perfeita entre Barbie, Marília Gabriela e o estereótipo da Rainha do Lar. Ou seja, a mulher tem de ser linda, extremamente competente (do ponto de vista profissional e intelectual), além de excelente dona de casa e mãe amantíssima e presente.

Ora, com esse padrão de exigência era de se esperar que as mulheres tomassem a frente neste movimento de alteração de padrão de consumo.

Pensar para consumir
Outra questão relevante é que, do ponto de vista da Psicologia Econômica, utilizando o viés psicanalítico proposto pela Dra. Vera Rita Ferreira, essas mulheres estão exercitando o aparelho mental do pensar.

É como se estivessem fazendo musculação mental, deixando de utilizar os chamados “atalhos mentais” e começando a exercitar sua capacidade de percepção e avaliação na tomada de decisão, que nesse caso se refere ao consumo.

Ancoragem e comportamento de manada são dois desses “atalhos mentais” que podem comprometer, e muito, a vida financeira das pessoas no que se refere ao consumo.

Satisfação hoje ou tranquilidade amanhã?
Trocando em miúdos, um bom exemplo de ancoragem na tomada de decisão de consumo é a inabilidade do brasileiro em adiar uma compra. Isso se deve em grande parte aos altíssimos índices de inflação que tiveram seu auge na década de 80.

Quem viveu aquela época sabe muito bem que adiar o consumo não era a melhor das decisões em função da alta constante e exorbitante de preços. Um tempo em que não era possível planejar um orçamento com segurança.

Daí alguns comportamentos que se perpetuam até hoje, mesmo na vida de jovens que não viveram esse momento, como por exemplo, fazer estoque de produtos em casa.

Outro bom exemplo de ancoragem é o hábito do brasileiro em fazer “a compra de mês” no mercado. Hoje, com a economia estabilizada, não há necessidade de efetuar uma única grande compra, porque os preços se mantêm ao longo do tempo.

Resumindo, atitudes que faziam todo sentido para proteger e equilibrar as finanças das famílias há três décadas, apesar de não se aplicarem mais, continuam presentes no comportamento da maioria dos consumidores, funcionando como uma espécie de âncora que dificulta o exercício da nossa habilidade em planejar e adiar compras.

Maria vai com as outras…
Com relação ao comportamento de manada, a coisa seja talvez até mais complicada. Eu explico.

Por não sermos seres tão racionais como quer a Economia, acabamos adotando um padrão de consumo muito mais em função do grupo (a manada) a que pertencemos – ou até do qual gostaríamos de pertencer – do que em função da nossa realidade sócio-econômica.

“Diga-me o que consomes e eu te direi quem és” tornou-se a versão moderna do antigo ditado.

Quem é você? O que você compra?
Hoje, a nossa capacidade de socialização está muito mais ligada ao nosso padrão de consumo do que às nossas habilidades e características pessoais e sociais. Parece que há uma forma de inclusão social pelo que vestimos ou calçamos.

A dinâmica da família moderna é um grande exemplo dessa realidade. Os pais, em sua maioria, exercem apenas a função de provedores de um padrão de consumo que possibilite a inserção e aceitação dos filhos em determinado grupo.

Atualmente, a formação e educação das crianças está quase que totalmente delegada à terceiros, já que os pais precisam trabalhar para garantir uma renda que permita esse tipo de socialização.

Essa visão do consumo como ferramenta de ascensão social somada à nossa inabilidade herdada em planejar um orçamento já seriam suficientes para fazer um estrago considerável na nossa vida financeira e pessoal.

Entretanto, existem dois outros fatores que potencializam esse efeito, que são: a publicidade, como colocou muito bem a Mariana Prates em seu último artigo aqui no Dinheirama e a facilidade de acesso ao crédito.

Portanto, é preciso entender que as nossas decisões sobre consumo não são assim tão racionais e autônomas como muitos de nós pensamos. E os blogs que mencionei fornecem uma série de reflexões e questionamentos sobre o assunto que realmente nos fazem parar para pensar.

Mesmo que você ainda não esteja preparado para modificar o seu padrão de consumo, acompanhe, dê uma olhada de vez em quando, talvez você comece a olhar com estranheza algumas coisas que até então pareciam absolutamente normais.

Foto de sxc.hu.

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