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Dinheirama Entrevista: Odete Reis, palestrante de educação financeira

por Conrado Navarro
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Dinheirama Entrevista: Odete Reis, palestrante de educação financeiraUm dos aspectos mais gratificantes deste trabalho de conscientização financeira é saber que, a cada dia que passa, novos profissionais decidem dedicar suas carreiras a melhorar a relação das pessoas com o dinheiro. Ainda melhor é poder conhecer e reconhecer o importante papel que a educação financeira tem no atual cenário de crescimento econômico (pelo menos é o que os brasileiros percebem) e maior possibilidade de consumo (expansão do crédito).

No começo deste mês, tive a honra de conversar com Odete Reis, palestrante de “Economia Financeira e Comportamental” e Colunista da Rádio Sempre Mais FM 90,7. Formada em Administração, Odete ocupou, por cinco anos, cargo de gerente de mercado e capitais em instituições financeiras, como Bradesco. Atuou também como Assistente Executiva trilingue (português, alemão e inglês) por trinta anos nas empresas multinacionais Hoechst, AgrEvo, Aventis e Behr Brasil.

É Educadora Voluntária no Formare – Fundação Iochpe, onde desenvolve com os jovens de 16 a 18 anos atitudes positivas com o dinheiro, desde o primeiro salário. Conversamos sobre a atual situação do país, as possibilidades de consumo e investimento que o “novo Brasil” oferece e a importância de respeitarmos nossa condição financeira familiar. Acompanhe e deixe seu comentário ao final da entrevista:

Odete, ao olhar do brasileiro mais simples, humilde, vivemos uma época muito positiva, de renda crescente e pleno emprego. A realidade é de fato essa, mas há uma crise financeira complicada “lá fora”. Permanecer alienado pode ser perigoso?

Odete Reis: Temos agora uma nova classe consumidora que precisa urgentemente de aprendizado em relação ao dinheiro, pois, apesar da evidente disseminação da educação financeira no Brasil, é indiscutível que o que já foi feito não passa de uma gota no oceano.

Este público imenso que está chegando está se deparando com incontáveis decisões financeiras importantes pela primeira vez na história de suas famílias. Logo, está extremamente exposto a armadilhas. Permanecer alienado não só é muito perigoso para essas famílias, mas também para o país, pois com a globalização a crise nos afeta diretamente.

A ascensão social deve ser comemorada, é claro, mas também deve ser acompanhada de perto – principalmente do ponto de vista do consumo. Quais os perigos, sob a ótica familiar, de tantas opções de compra e crédito?

O. R.: Com esta rápida ascensão social, 70% das pessoas estão com problemas financeiros – e não importa se ganham bem ou mal. O problema não está na remuneração, mas sim no gastar descontroladamente. O perigo está nas famílias cada vez mais endividadas no país das taxas de juros mais altas do planeta (ainda que as taxas médias de juros pagas pelo consumidor estejam em queda).

É necessário aprender a diferença do desejo supérfluo e do necessário. Quando as pessoas aprenderem a identificar essa diferença – que o desejo é momentâneo e a necessidade é duradora -, irão deixar de consumir por compulsão e passar a usar seu dinheiro de forma a garantir um futuro com mais qualidade de vida.

Tenho a impressão de que muitos jovens, principalmente aqueles acostumados às facilidades da Internet, estão angustiados e ansiosos, com baixa tolerância à frustração. Você concorda? O que houve? Como mudar esse quadro?

O. R.: Concordo plenamente. Nossos jovens não aprenderam a lidar com as frustrações e isto também se aplica ao consumo. Eles são imediatistas, querem tudo para agora. Os jovens precisam ouvir mais vezes “não” por partes de seus pais ou responsáveis para que se tornem adultos com mais tolerância. Sabendo que a vida é feita de escolhas, é importante aceitar que muitas vezes não teremos tudo que queremos.

Observo que pais disciplinados em relação aos seus filhos, com horário de voltar para casa, hora das refeições, banho e controle de mesada, criam filhos disciplinados em todas as áreas, da alimentação às finanças pessoais. Certamente esses jovens serão bem menos propensos ao descontrole financeiro e serão mais capazes de planejar a superar suas dificuldades.

Os pais tem delegado o dever de educar às escolas. Tal atitude pode ser desastrosa se considerado o trato ao dinheiro, afinal perde-se o exemplo principal, o modelo. Você acha que a educação financeira ainda é pouco compreendida e valorizada?

O. R.: É claro que o ambiente escolar deve ser também palco para reflexão e transformação dos alunos, no entanto, em todo o mundo a educação financeira é um assunto que cabe prioritariamente às famílias. Transferir essa responsabilidade para as escolas é ingenuidade ou oportunismo.

Acontece que, na maioria das vezes, os pais também não tiveram educação financeira, então fica a questão: como passar este conhecimento, este modelo, para seus filhos? Neste caso, o aprendizado na escola será válido, embora não o suficiente. É preciso que haja troca entre pais e filhos, diálogo e também participação ativa no processo de formação do cidadão.

Não acredito que a educação financeira seja pouco compreendida e valorizada. Vejo como uma questão cultural que demandará algum tempo para que as pessoas, especialmente das classes mais baixas, compreendam sua importância na qualidade de vida.

Ironicamente, o dinheiro é também um assunto bastante popular, de apelo, já que faz parte do nosso dia a dia. Quais as razões que levam uma família a ignorar a importância do planejamento financeiro? Pressões sociais agravam essa relação?

O. R.: Vivemos muito tempo com uma inflação altíssima, onde não havia como fazer planejamento. Some a isso o fato de que o brasileiro não aprendeu educação financeira nas escolas nem em sua casa e temos um problema maior. A falta de planejamento é também cultural.

O Brasil tem estabilidade econômica há apenas quinze anos e somente há cinco anos a inflação ficou estável. Com a moeda estável, ficou mais fácil para o brasileiro perceber que pode se organizar, mas ele ainda não tem essa cultura. Embora isto esteja mudando devagar, vejo em minhas palestras que as pessoas de maior conhecimento já iniciaram um planejamento de suas finanças. É um movimento crescente.

Entendo que os fatores que mais levam as famílias a gastarem sem controle são: as pressões sociais, a fonte de crédito rápido e sem burocracia e a falta de maturidade na relação ao dinheiro. Misture isso e temos uma situação familiar bem complicada.

Se você pudesse resumir em poucos passos a tarefa de organizar e tomar as rédeas das finanças, o que diria? Por onde começar? Existem atalhos? E armadilhas?

O. R.: O caminho para se ter uma vida financeira sob controle começa por um passo simples, mas que tem efeito bastante poderoso: colocar todas as receitas e gastos em uma planilha. Esta planilha pode ser de papel ou em versão eletrônica. O importante é se identificar com a ferramenta que escolheu.

As armadilhas geralmente acontecem nos primeiros seis meses. De cada dez pessoas que se propõem a acompanhar as próprias contas, sete desistem até o quinto mês. Para muitos, essa não é uma tarefa gostosa. A realidade é que gerenciar as finanças é um passo fundamental para as pessoas que querem ver seu rico dinheirinho crescer.

Do ponto de vista financeiro, planejar requer realmente grande esforço e muito boa vontade. É primordial a persistência. Sempre digo que é como escovar os dentes, têm que fazer um pouquinho todos os dias. Brinco em minhas palestras que temos 1.440 minutos no dia; por que não tirar apenas 10 minutinhos para cuidar do seu preciso dinheirinho e obter equilíbrio financeiro?

O resultado é fantástico! Para não desanimar, pense que fazer todas as anotações funciona como montar um inventário de sua vida financeira. Foque nos resultados que quer atingir: finanças equilibradas, dívidas quitadas e sonhos realizados. Seja persistente.

Odete, muito obrigado pela disponibilidade. Por favor deixe uma mensagem para os leitores que desejam mudar sua relação com o dinheiro em 2012.

O. R.: Lembre-se também que você não precisa só guardar dinheiro. É preciso dar sentido a ele e gastá-lo bem. Para quem sabe gastar, o dinheiro rende. Para quem não sabe, não há renda que baste. Desejo a todos os leitores muito alegrias e sucesso em 2012, lembrando que o futuro é construído no presente, por isto é fundamental começar seu planejamento agora! Obrigado pelo espaço e parabéns pelo trabalho. Quem quiser me conhecer melhor, pode acessar www.odetereis.com.br.

Fotos: divulgação.

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