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O que fazer, como aproveitar e o que evitar com a queda dos juros

por Conrado Navarro
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O que fazer, como aproveitar e o que evitar com a queda dos jurosEduardo comenta: “Navarro, depois do anúncio de taxas de juros mais baixas por parte dos bancos estatais, os bancos privados resolveram entrar na disputa e também ofereceram juros menores. Vale a pena mudar de banco? Os preços das coisas serão afetados com essa medida? Como ficam os consumidores diante dessa história? Obrigado”.

Começou anunciada como “decisão histórica” e terminou como um movimento de mercado. A queda nas taxas de juros cobradas pelos bancos estatais, originada a partir da pressão do governo por crescimento econômico, foi seguida por seus concorrentes privados.

Nossa taxa de juros real (descontada a inflação) é de 3% ao ano, valor mais baixo já registrado desde a adoção do Real. É fato que há uma mudança em curso e é provável que você esteja comemorando tudo isso que está acontecendo. É justo. Pretendo, com este artigo, explorar o que está diante de nós, mas de uma forma sincera e objetiva.

O governo declarou guerra ao elevado spread bancário e decidiu forçar a queda dos juros. Há algumas semanas, a presidente Dilma Rousseff afirmou que os juros, nos níveis atuais, representam um entrave ao crescimento do país. “Temos a necessidade de colocar nossos juros e spreads incluídos nos padrões internacionais de custo de capital”, ela disse.

O ministro Guido Mantega foi mais incisivo depois de ser cobrado pelos bancos privados. Ele disse que “em vez de trazer soluções anunciando aumento de crédito, os bancos privados fizeram cobranças de novas medidas do governo. Se os bancos são tão lucrativos, eles têm margem para reduzir taxas”.

Abordarei as questões recorrentes que temos recebido sobre o tema em forma de perguntas e respostas, acreditando, assim, facilitar a compreensão dos desdobramentos trazidos pelo tema.

O que é o spread bancário?
Spread (pronuncia-se spréd) bancário é a diferença entre o custo do dinheiro[bb] para o banco (representada pela taxa básica de juros, a Selic) e a taxa cobrada dos clientes. O lucro representa uma parcela do spread, que também é composto de impostos, compulsório, despesas administrativas e provisão contra inadimplência.

Segundo dados do Banco Mundial, de 2010, o Brasil tem um dos mais elevados spreads bancários do mundo, de 31,1%, perdendo apenas para o Congo (39,7%) e Madagascar (38,5%). No Chile, esse indicador é de 3%. No México, 4,1%.

As taxas de juros cobradas de consumidores e empresas caíram mesmo?
Caíram, sim! Os bancos públicos seguiram a ordem federal e “derrubaram” suas taxas de juros, permitindo aos consumidores acesso a linhas de crédito mais baratas e com prazos maiores. A realidade é que os juros de diversas linhas de crédito caíram.

Depois de uma tentativa frustrada de pressionar o governo, liderada pela Febraban, os bancos privados aderiram ao movimento e resolveram entrar forte na concorrência por novos empréstimos e financiamentos mais baratos.

A portabilidade de crédito, regulamentada em 2008 pelo Banco Central, garante que o cidadão possa escolher uma nova instituição e migrar sua dívida, desde que ela tenha característica semelhante à contratada no banco original. E já há quem tenha tomado essa decisão depois do anúncio de corte nos juros.

Cabe ressaltar que a redução das taxas destes empréstimos ainda não chegou de forma vibrante à economia real. Não se percebem preços mais baixos por produtos no varejo, por exemplo. O governo acredita que um consumo mais vigoroso e os reflexos destas mudanças surjam a partir do segundo semestre.

Então os bancos estavam “metendo a faca” nos consumidores?
Tenho notado e concordo com a indignação de muitos leitores. Afinal, baixar tanto assim significa que as taxas cobradas eram abusivas, altas demais? Ou isso ou teremos problemas ali na frente, principalmente com os bancos públicos, já que o Tesouro (eu, você, todos nós) poderá ser chamado a fechar certos “rombos”.

Quero crer que a questão é mesmo de falta de concorrência, ou seja, de taxas e lucros altos demais. Além disso, é preciso notar que os bancos estão baixando taxas das linhas que oferecem mais garantias, como empréstimo consignado (descontado em folha), financiamento de veículos (o carro é a garantia) e cheque especial e rotativo do cartão de crédito apenas de clientes[bb] que recebem os salários pelo banco.

Não se trata de um convite ao consumo?
Sempre que você oferece produtos (e o crédito, neste caso, é um produto) a preços mais baixos, a intenção é vender mais, aumentar sua base de clientes – afinal, é preciso “compensar” a redução dos preços com mais volume de vendas, de forma a não prejudicar a geração de lucro e a satisfação dos acionistas.

Logo, oferecer crédito mais barato tem o propósito óbvio de movimentar a economia através do incentivo ao consumo. A questão merece reflexão em dois aspectos:

  • O consumidor consciente, educado financeiramente e que sabe seus limites econômicos, poderá tomar mais dinheiro emprestado sem que as parcelas deste empréstimo fiquem maiores que as que ele já contraiu ou conhece. Neste caso, juros mais baixos significarão que ele poderá aumentar seu consumo sem que isso represente dívidas maiores;
  • Por outro lado, o “convite ao consumo” pode levar muitos brasileiros a se endividar simplesmente porque “agora as parcelas ficaram mais baratas”, mas sem que esse seja um assunto abordado dentro de um contexto de orçamento doméstico. Não adianta pagar mais barato quando há abuso no crédito tomado. O pensamento “se antes eu contrataria tanto e pagaria tanto, agora posso pegar tanto vezes dois e pagar um pouco mais que tanto” pode elevar o endividamento e aumentar a inadimplência.

Qual a grande vantagem do momento para o consumidor?
Um aspecto que ganha um peso fundamental nessa nova época de juros mais baixos é a renegociação de dívidas. Aproveitar que as linhas de credito tiveram suas taxas cortadas pode significar parcelas e/ou prazos de pagamento menores. Acredito que, mais do que pensar em consumir, a hora é de repensar as atuais dívidas e tratar de aliviar o orçamento familiar.

O passo fundamental neste sentido é o diálogo. Você tem que ir até o banco em que mantém seu empréstimo atual, sentar com o responsável e conversar. E, claro, pesquisar outras instituições e modalidades de crédito[bb] para avaliar qual a melhor saída para diminuir o seu saldo devedor. Modalidades como crédito pessoal (CDC) e crédito para aquisição de bens de consumo podem ser portadas com facilidade.

Vale a pena insistir no banco onde possuo conta ou migro para outro de cara?
Prefira o contato com a instituição onde já possui relacionamento. Antes, porém, investigue e pesquise quais as condições oferecidas por bancos concorrentes e faça questão de conhecer o que eles têm a oferecer. Visite a concorrência, escute as opções e faça algumas simulações.

Então, com sinceridade, volte ao seu gerente e apresente tudo aquilo que você conseguiu. Valorize o relacionamento existente e peça para que eles avaliem a possibilidade de melhorar (cobrir) as propostas que você tem em mãos. Diante de tanto “barulho” em torno do tema, é grande a chance de concederem a você algo bem interessante.

Agora, se a conversa com o responsável por sua conta não der em nada, não hesite em procurar outras instituições. A migração está acontecendo e os bancos públicos anunciaram crescimento expressivo na concessão de crédito depois do anúncio das medidas. No Banco do Brasil, por exemplo, essas operações aumentaram 45% nos primeiros cinco dias. Na Caixa, a alta foi de 17%.

E quem não está conseguindo as taxas anunciadas, como deve proceder?
Sempre há entrelinhas, letras miúdas e detalhes que passam longe da publicidade de massa. Neste caso, resumirei de forma objetiva o que está acontecendo: as taxas anunciadas não são para todos. Alguns bancos exigem que o cliente esteja recebendo seus salários por lá, outros fazem uma análise de crédito mais “rigorosa” e definem a taxa de acordo com ela e por ai vai.

A solução, portanto, está no diálogo franco com o atendente. Procure entender quais as vantagens oferecidas, quem pode aproveitá-las, se há contrapartida e quais as condições exigidas para que as taxas anunciadas sejam efetivamente colocadas em prática. Não se assuste se apenas parte do “prometido” se tornar realidade.

Como fica o perigo do endividamento excessivo e do aumento da inadimplência?
Trata-se de um perigo real, mas que ainda não assusta tanto em termos estatísticos. Se o brasileiro vai apenas aproveitar para ter mais crédito a custos menores (consumir mais, mas sem comprometer mais de sua renda) ou se vai “se esbaldar” com a guerra dos juros (endividando-se perigosamente), isso nós só saberemos no decorrer dos meses (anos).

Que fique claro que eu sou um defensor ferrenho da educação financeira. Portanto, temo pelo endividamento excessivo das famílias e não recomendo que o crédito seja usado de forma indiscriminada, só “porque ficou mais barato”. O fato é que o brasileiro se endivida “pouco” em relação a outros povos e paga suas contas em dia, então o tema ainda não causa calafrios em mais ninguém (só em mim).

Afinal, o que devemos fazer diante desse cenário?
As mudanças nos patamares de juros são bem-vindas, isso é inegável. Com o dinheiro custando menos, a economia ganhará fôlego e os consumidores inteligentes poderão consumir mais e melhor. Insisto: o que não dá é para usar essas conclusões para alimentar seu desejo de consumo e sair às compras porque “agora as condições estão imperdíveis”.

O planejamento financeiro realizado com cuidado, acompanhado de um orçamento doméstico constantemente atualizado e revisto, ainda é a chave para a realização de sonhos[bb] e para uma vida sustentável no longo prazo. O dinheiro deve ser sempre um meio, uma ferramenta, não um fim.

Todo mundo quer pagar menos, mas pagar mais barato não é sinônimo de comprar melhor. Avalie suas necessidades, limites orçamentários e metas. De repente pode valer a pena esperar antes de comprar isso ou aquilo através de um financiamento. De repente você não precisa de empréstimo coisa nenhuma. Mas aceite que você é o responsável por essa decisão e suas consequências.

Por fim, cuidado com o endividamento. Ele pode começar invisível, aparentemente bem administrado, mas logo poderá se tornar um problema grave, capaz de “detonar” sua vida familiar. Prefira sempre a liberdade e a formação de patrimônio ao preencher suas expectativas. Quem sabe de sua vida é você, não eu ou seu vizinho. Certo?

As informações foram úteis? Deixe seus comentários no espaço abaixo e também em meu Twitter: @Navarro. Até a próxima.

Foto de sxc.hu.

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