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Economia brasileira: mais um praticante do slackline

por Alvaro Bandeira
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Economia brasileira: mais um praticante do slackline

Economia brasileira: mais um praticante do slacklineVocês conhecem um novo esporte modismo hoje mais praticado nas praias brasileiras? O slackline consiste em se equilibrar em uma fita presa entre duas árvores ou pedras e realizar manobras arrojadas de equilíbrio. Nossos pais diriam que seria “andar na corda bamba”, algo que se via nos circos de saudosa memória.

Pois bem, com as últimas medidas adotadas pelo governo, podemos dizer que a área econômica é a mais nova praticante do “slackline. Na nossa visão, o governo está andando na corda bamba da inflação. Senão vejamos.

Somente na última semana o governo tomou duas medidas para segurar a taxa de inflação que já no próximo mês ameaçava estourar o teto da meta de 6,5%. Concedeu empréstimo emergencial para as distribuidoras de energia e reduziu a zero os impostos federais sobre a cesta básica.

Com isso conseguirá reduzir algo como 0,6% na inflação da cesta básica e vai conseguir manter a queda da tarifa de energia de 18%, que de outra forma acabaria sendo repassada aos consumidores pelo uso constante da energia térmica.

Não podemos esquecer outras manifestações sobre os preços administrados, com as negociações feitas com governos (Rio, São Paulo e outros) sobre as tarifas de transportes, deslocando para meados do ano e evitando o estouro logo no início de 2013. Porém, com o aumento do diesel, a elevação de tarifas de transporte é inevitável nos próximos meses.

Convém lembrar também que a formatação de cálculo do IPCA foi alterada e suavizou as variações do índice. É bom dizer que foram atualizações bem vindas em função de itens que ficaram mais expressivos ao longo do tempo.

Somem tudo isso com outras desonerações já realizadas e outras prometidas pelo governo, e agreguem reduções de IPI para autos, linha branca materiais de construção, etc. e teremos quadro temporário mais suave para a inflação. Certo?

Ledo engano. A inflação em 12 meses segue subindo e no último índice apurado para fevereiro já atingia 6,31%, bem próxima do teto de variação da banda. O pior, abstraindo os efeitos dessas últimas medidas, deveria subir ainda mais ao longo do primeiro semestre, só declinando no correr do segundo semestre.

Como aparentemente todas essas decisões de governo são transitórias e pontuais para determinados setores, o que passa é que o governo está administrando tão somente o índice IPCA e não tentando debelar as causas da inflação. Resultado disso é que os efeitos são efêmeros e as pressões sobre preços de bens e serviços não foram debeladas. Ou seja, estão atuando somente sobre as consequências.

Tentando ser um pouco benevolente com o governo, diríamos que estão fazendo isso porque não conseguiriam aprovar reforma tributária com alguma urgência. Ocorre que a unanimidade dos economistas já pleiteia reformas tributárias por muitos anos e nada foi feito. Fatiar essa reforma, como disse Mantega, vai deixar a economia “cambeta”.

De outra feita, não estão atuando no sentido de recuperar a produtividade da indústria (somente alguns setores são estimulados); os investimentos privados não estão chegando; a burocracia estatal e aprovações ambientais inibem projetos “green field”; o risco regulatório eleva; o comércio internacional se retrai (saldo negativo da balança); e mesmo as obras dos PACs estão com largos atrasos.

Como o governo tem o precedente de maquiar as contas públicas, já há quem indique que estão maquiando também o IPCA. Nada como faz a Argentina, que vai direto na fonte (e por isso sofre punições), mas sem ir ao cerne de nossa ineficiência de formatar políticas econômicas.

As mudanças são inúmeras (o que desestabiliza) e constantes, e os efeitos até aqui duvidosos. A presidente Dilma pode se frustrar novamente. O comércio e a indústria podem tentar recompor margens, os produtos elaborados e semi-manufaturados vão ficar de fora dessa queda de tributos federais e há pressão inflacionária no segmento de serviços, principalmente no transporte de mercadorias (diesel, rodovias, portos, etc.).

Igualmente, algumas pressões não são resolvidas por aumento de juros. Aliás, a autonomia do Banco Central também ficou complicada, já que a redução de juros virou política de governo, sempre citada pela presidente e por todos os seus ministros.

A política econômica parece mesmo estar praticando “slackline”, tentando, com equilíbrio precário, permanecer em cima da fita. Está mesmo faltando planejamento de longo prazo. Isso nos lembra Peter Drucker, quando diz que “o planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro de decisões presentes”.

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