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Dinheirama Entrevista: Adriana Rodopoulos, sócia-fundadora da Oficina de Escolhas

por Bernadette Vilhena
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Dinheirama Entrevista: Adriana Rodopoulos, sócia-fundadora da Oficina de Escolhas

Dinheirama Entrevista: Adriana Rodopoulos, sócia-fundadora da Oficina de EscolhasHá um ano temos a oportunidade de compreender as questões ligadas à economia do ponto de vista da Psicologia Econômica. Conhecimentos importantes trazidos por Adriana Rodopoulos em sua coluna quinzenal aqui no Dinheirama.

Adriana é Economista pela PUC, com extensão em Psicologia Econômica pelo COGEAE-PUC, integrante do Grupo de Estudos sobre Psicologia Econômica supervisionado pela Dra. Vera R. de Mello Ferreira e é sócia-fundadora da Oficina de Escolhas (clique e conheça).

Ela gentilmente aceitou compartilhar mais conhecimentos dentro desse instigante universo das questões econômicas e seus desdobramentos. Acompanhe:

Adriana, a partir de sua experiência como você vê o avanço dos estudos e pesquisas em Psicologia Econômica no Brasil?

Adriana Rodopoulos: Bem, levando-se em conta que a área aqui no Brasil começa a ganhar força só em 2007 com a tese de doutorado “Psicologia Econômica – origens, modelos, propostas” defendida pela Dra. Vera R. de Mello Ferreira, considero que a pesquisa em Psicologia Econômica tem evoluído bastante.

De lá para cá teses, dissertações e monografias vêm sendo produzidas na interface Psicologia-Economia em sua maioria por economistas, administradores e alguns psicólogos.

De uma maneira geral, os trabalhos acadêmicos produzidos por economistas privilegiam a pesquisa de temas ligados ao mercado acionário, perfil dos investidores, perfil dos profissionais de finanças, finanças comportamentais.

No caso dos administradores, o interesse maior se dá sobre processos decisórios em cenários de incerteza e risco, decisões financeiras sobre custos e capitais, fatores não econômicos em processos de fusão e aquisição de empresas.

Já as pesquisas produzidas por psicólogos se concentram em temas como significado do dinheiro e do salário, comportamento econômico de crianças e jovens, decisões econômicas familiares, consumo e poupança, educação financeira para pais.

E para o próximo o Núcleo de Musealização de Psicologia Econômica e Educação Financeira – NUMIP! O NUMIP é um projeto sob a coordenação da Dra. Vera R. de M. Ferreira que faz parte do processo de revitalização do Museu de Valores do Banco Central do Brasil.

Ainda em fase de elaboração a ideia é que ele seja um espaço para que o público possa experimentar os conceitos da Psicologia Econômica, e que ao mesmo tempo, ofereça um acervo atraente e robusto para pesquisadores. Este representa um grande marco para a Psicologia Econômica no Brasil e estamos todos ansiosos para ver o resultado!

Para quem se interessar, o próximo curso de extensão ministrado pela Dra. Vera R. de M. Ferreira acontecerá na FIPECAFI-SP nos dias 28, 29 e 30 de novembro (clique para detalhes). E dia 19/11 haverá a palestra gratuita “Psicologia Econômica: você sempre escolhe o melhor para você?” (clique para detalhes), também ministrada por ela, na FGV.

“A longevidade é algo novo para nós e isso tem um impacto em nosso comportamento financeiro. Estamos aprendendo a pensar em longo prazo”. Sua afirmação é importante e traz consigo muitos ensinamentos. Você pode partilhar mais informações sobre essa transição em que nos encontramos?

A. R.: Se levarmos em conta que a nossa expectativa de vida quase dobrou nos últimos 200 anos e que antes disso ela se manteve praticamente estável, o longo prazo é algo novo para nós em termos de espécie.

Até bem pouco tempo atrás, a espécie humana de um modo geral, vivia cerca de 40 anos. Então, não havia tempo para que vivêssemos as consequências do que tínhamos feito ao longo desses anos, fossem elas agradáveis ou não.

A forma como vivemos os nossos primeiros 40 anos passa a ter um impacto sobre o resto de nossas vidas. A questão hoje não é apenas chegar ao topo antes dos trinta, mas o que fazer para não despencar de lá nos próximos 40 ou 50 anos!

Estamos, pela primeira vez na história humana, tendo que plantar hoje, e amanhã, e depois de amanhã, e depois de depois de amanhã, para só então colher os frutos lá na frente. Em outras palavras temos que repetir comportamentos que não nos trazem nenhuma recompensa imediata ao longo do tempo para que consigamos nossa recompensa e isso não é muito natural para nós.

Como coloquei num dos artigos que escrevi para o Dinheirama, estamos vivendo uma fase onde o planejamento assume uma importância vital na forma como vamos viver a segunda metade de nossas vidas. Utilizando a metáfora desse artigo, estamos pela primeira vez, tendo que preparar uma festa para receber o nosso eu futuro.

Somos muito bons com o curto prazo! O pulo do gato é fazer com que os nossos comportamentos recorrentes de curto prazo interfiram positivamente com o longo prazo.

Neste sentido, a contribuição da Psicologia Econômica é fundamental, não apenas em termos de políticas públicas, mas também no sentido de instruir o indivíduo e fazê-lo compreender que há dois tipos de processamento de informação, um automático e que funciona muito bem no curto prazo e outro reflexivo para dar conta do longo prazo.

Quando entendemos como esse processo acontece ficamos mais alertas aos gatilhos que podem disparar nosso sistema automático em situações onde este sistema não é o mais apropriado. Conseguimos melhorar o interjogo entre essas duas formas de pensar. E isso nos ajuda a alinhar o curto e longo prazo.

As crianças e adolescentes vivenciam hoje o desafio típico de uma sociedade voltada para o consumo. Prejuízos significativos em sua relação com o dinheiro podem acontecer quando essas vivências não são conduzidas de maneira adequada. Dentro desse cenário o que você orienta aos pais que estão preocupados com a educação financeira de seus filhos?

A. R.: Acho que o grande desafio que enfrentamos hoje como pais sobre essa questão é o consumismo.
Pegando emprestada a frase do Instituto Alana “ninguém nasce consumista”, acho importante que os pais olhem para essa questão como uma doença, uma espécie de distúrbio do consumo. E como qualquer doença, é preciso que haja uma conjunção entre fatores internos e externos para que ela se manifeste.

Com relação aos fatores internos, o ato de consumir é muito parecido com o ato de comer: são imprescindíveis para a nossa sobrevivência. Então não dá para demonizar o consumo se queremos que nossos filhos tenham uma relação saudável com essa parte importante do comportamento econômico. Outra semelhança entre essas duas atividades é que elas são prazerosas. Consumir é gostoso. Então, estamos falando de educar o desejo, o impulso.

Agora quanto aos fatores externos, pela minha experiência, é onde se encontram os maiores problemas. A maioria das famílias, inclusive aquelas que têm uma preocupação com o tema, acabam expondo seus filhos demasiadamente ao risco de se tronarem consumistas. Para ilustrar o que estou querendo dizer, vou contar uma história rápida.

Tenho um casal de amigos que veio muito de baixo e hoje tem uma situação financeira bastante tranquila e não são deslumbrados. Quando o filho ia completar 8 anos, eles resolveram dar uma viagem à Disney de presente.

Pouco antes da viagem, a mãe me contou que o viu fazendo uma lista das coisas que ele queria comprar. Ela então, na melhor das intenções, explicou para o menino que quando a gente viaja, o importante é entrar em contato com a cultura local, aprender coisas novas e não comprar.

Ok, não é que eu não concorde com ela. Mas a pergunta é: será que a Disney é um lugar que favorece o contato com outra cultura que não seja a do consumo?

O quero dizer com isso é que até as famílias bem intencionadas acabam colocando ou deixando seus filhos em ambientes e situações muito “infectados” pelo consumismo, quando eles ainda não desenvolveram “mecanismos de defesa” suficientes.

E para finalizar, assim como ter hábitos alimentares saudáveis contribui para a saúde física, mas não são os únicos responsáveis; os hábitos de consumos são responsáveis por uma parte da vida financeira. Incentivar a poupança, o investimento, a doação e o planejamento são igualmente cruciais.

Uma questão que continua sendo recorrente apesar de tanta informação a respeito, é o gasto com os supérfluos! Ouço muito as pessoas reclamarem que não conseguem resistir a um produto novo e compram sem pensar, com isso comprometem constantemente sua renda mensal. Dentro dos processos de tomada de decisão, por que é tão difícil seguir as regras básicas: gastar menos do que ganho e evitar compras sem necessidade?

A. R.: Eu acho que aqui tem duas coisas importantes:

  • A primeira delas é que as pessoas que têm essa dificuldade costumam ter uma visão muito infantilizada da função do dinheiro. Se você perguntar para uma criança pequena para que serve o dinheiro ela provavelmente vai responder algo como “dinheiro serve para comprar coisas”;
  • O segundo ponto é que estamos vivendo uma época em que há uma valorização do padrão de consumo que se sobrepõe à valorização do indivíduo. É como se medíssemos a importância das pessoas em função do que elas consomem.

E aí a lógica fica muito robusta: se são as coisas que eu consumo que me valorizam diante do grupo, e se o dinheiro serve para comprar essas coisas, então se eu consumir menos, além de ser desvalorizado ainda vou ficar com um excedente de uma coisa que não serve para nada. É muita perda! E nós não lidamos bem com perdas. Aliás, nos esforçamos muito mais para não perder do que para ganhar.

A pessoa que gasta mais do que ganha, vê qualquer limitação aos seus gastos como perda sem nenhuma contrapartida de ganho. E esse é o resultado de um funcionamento mental com alta interferência do sistema automático: visão de curto prazo, tentativa de evitar o desprazer e busca de prazer.

E nesse caso não há informação que dê jeito, porque informação não altera funcionamento mental, ela é apenas matéria-prima. É como a farinha do bolo: não adianta usar a de melhor qualidade se o forno e a batedeira não estiverem funcionando direito.

Conheci a Oficina de escolhas, um espaço de aprendizagem comprometido com o desenvolvimento das pessoas. Conte-nos sobre esse seu projeto Adriana.

A. R.: A Oficina De Escolhas é uma tríade formada por mim, meu marido, Yannis Rodopoulos, que cuida da parte administrativa e pela brilhante psicóloga clínica Rosana Altavista, com mais de 30 anos de estrada sendo muitos deles ao lado do psiquiatra Paulo Gaudencio.

Nosso trabalho tem como base o funcionamento mental na tomada de decisão, alvo de estudo não só da Psicologia Econômica, mas da Ciência Comportamental Aplicada.

Partimos do princípio de que a vida de cada um é o produto das escolhas feitas ao longo do tempo. Entender e apropriar-se do processo que gera essas escolhas é o primeiro passo para que as pessoas possam tomar melhores decisões e, assim ter uma vida mais plena.

Afinal, não há como fazer surgir uma nova forma de pensar se não conhecermos as engrenagens que movem o nosso pensamento! Agradeço imensamente a oportunidade, a você Bernadette e a toda a equipe do Dinheirama.

Convido o leitor a conhecer nosso trabalho acessando www.oficinadeescolhas.com.br. Até a próxima.

Foto: divulgação.

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