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Endividar ainda mais o povo para tentar evitar uma crise? Faz sentido?

por Ricardo Pereira
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Endividar ainda mais o povo para tentar evitar uma crise? Faz sentido?

Pense na pergunta do título: você acha que vale “enforcar” (endividar) ainda mais o brasileiro para evitar uma crise ou um eventual “vexame do PIBinho”? Ou para melhorar os números de forma efêmera e eleitoreira? Como e onde estão as profundas e necessárias reformas? Começo o artigo com perguntas porque mais um “pacote de estímulo” acaba de ser dado pelo governo.

O Banco Central e o Ministério da Fazenda lançaram nesta semana um pacote de estímulos econômicos que poderá aumentar a oferta de crédito em até R$ 25 bilhões. As medidas, recebidas com comemoração por parte dos bancos, na prática trazem um afrouxamento dos controles para concessão de empréstimos e normas voltadas para o financiamento de imóveis e veículos.

Estas medidas, se somadas àquelas anunciadas no mês de julho (que prometiam “oxigenar” o mercado com R$ 45 bilhões) são por parte de uma tentativa direta do governo de movimentar e aumentar a concessão de crédito para evitar uma crise (dentro do governo já há quem fale disso). Cabe lembrar que os bancos privados se mantiveram mais criteriosos nos últimos meses na hora de emprestar dinheiro em razão do aumento dos juros para conta do combate à inflação.

Quais as medidas anunciadas?

Foram anunciadas mudanças bastante específicas e que têm como alvo a compra e venda de imóveis e a concessão de crédito para compra de veículos. Comecemos pelas medidas anunciadas para o mercado imobiliário:

Medidas - Mercado Imobiliário

Os benefícios que as medidas trazem ao mercado imobiliário são válidos porque ao mesmo tempo agilizam e reduzem riscos e possíveis custos na compra da casa própria. O fato de abrir a perspectiva de utilizar um imóvel já quitado como garantia faz com que os juros sejam menores, de até 12% ao ano nos financiamentos. Esse dinheiro será subsidiado com recursos da caderneta de poupança.

As medidas são festejadas porque os últimos números divulgados em relação ao mercado de imóveis mostram uma desaceleração nas vendas. De acordo com o Secovi (Sindicato do mercado imobiliário), a venda de imóveis novos em São Paulo caiu 48,3% no 1º trimestre de 2014: é o pior número de um primeiro semestre desde que se iniciou a pesquisa.

Já as medidas para o mercado de automóveis visam “forçar” os bancos a emprestarem mais dinheiro para esse fim, agindo assim de maneira menos restritiva ao avaliar potenciais compradores. Confira as medidas anunciadas para o setor automotivo:

Medidas - Mercado Automotivo

Como fica a educação financeira nessa história?

A educação financeira se mantém firme no propósito de trabalhar as pessoas no sentido de definir suas prioridades, entender bem suas necessidades e só então planejar seus gastos e compras. Seguiremos defendendo o consumo consciente, seja na compra de um bem de valor mais baixo ou até mesmo nos mais altos como os automóveis e também os imóveis.

Sem essa de “Então agora com as medidas vou poder comprar”. Será que você pode mesmo? Cuidado! Vale lembrar que no Brasil, mesmo com a redução de juros sob o ponto de vista histórico, ainda temos juros bem elevados (muito maiores do que na maioria dos países do mundo).

Acredito que incentivar as pessoas a se endividarem ainda mais para realizar seus sonhos pode ser uma decisão muito perigosa. Eu gostaria muito de ver medidas do governo que pudessem conscientizar a população a respeito do futuro, especialmente no que diz respeito a nossa educação, infraestrutura e falta de competitividade.

Faltam ainda medidas de impacto que possam alavancar a formação de nossos cidadãos, não no sentido de mais gastos de qualquer jeito, mas usar com mais inteligência os recursos que já arrecadamos hoje no país. O mesmo vale para a saúde, que mesmo com orçamento considerável não é capaz de oferecer aos cidadãos um atendimento minimamente decente.

Os desafios do Brasil continuam. Crise à vista?

São muitos os desafios que precisam ser encarados de frente. Minha convicção é de que o desafio é mesmo na gestão, no planejamento e na forma como a máquina pública se porta perante o que precisa ser feito. Hoje, percebemos muita gente fingindo que trabalha e pouca fiscalização em termos de metas e mérito.

Não é apenas o dinheiro circulante que faz a diferença na criação de um país mais justo e rico. Injetar recursos pode aquecer temporariamente a economia (e parece ser essa a intenção tendo em vista a proximidade das eleições), mas onde estão as reformas tão importantes e pedidas há tantos governos? E a gestão responsável, enxuta e focada em resultados?

Se precisamos aprender a planejar nossos gastos pessoais e mudar a maneira de encarar o consumo (não caindo nas armadilhas do crédito fácil, por exemplo), precisamos também aprender a cobrar e exigir mais de nossos governantes. Exigir medidas realmente sérias e que não sejam paliativas, meros pacotinhos com vistas a evitar algo que há muito se comenta: uma verdadeira crise. Você concorda?

Foto “Man holding a rope”, Shutterstock.

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