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Dinheirama Entrevista: Renato De Vuono, Sócio-Editor do Site Café com Finanças

por Conrado Navarro
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Dinheirama Entrevista: Renato De Vuono, Sócio-Editor do Site Café com Finanças

A educação financeira é nosso grande tema neste espaço. Abraçamos com muito orgulho a missão de disseminar conhecimento, experiências e informações sobre dinheiro, família e qualidade de vida. É sempre muito legal saber que podemos contar com inúmeros outros profissionais e amigos nesta jornada.

Uma destas pessoas especiais é Renato De Vuono, Formado em Propaganda e Marketing pela ESAMC de Campinas. Renato fez estágio remunerado na Disney Co. na Flórida e hoje ministra palestra sobre “Fidelização de Clientes através da Filosofia Disney”. Foi fundador/idealizador, sócio e diretor financeiro da WEME/Galileo. Idealizador e fundador do site Café com Finanças, foi também Planejador Financeiro na Life Finanças Pessoais.

Conversamos sobre as dificuldades ao lidar com o tema e, principalmente, em como convencer as pessoas da importância deste tema. Além disso, Renato nos brinda com ensinamentos fantásticos tirados de sua própria história. Acredite, você está diante de uma das entrevistas mais completas sobre o assunto que existem por ai.

Acompanhe nosso papo:

Renato, na sua opinião por que é tão difícil convencer as pessoas da importância da educação financeira?

Renato de Vuono: Salve Conrado!  Antes de mais nada, gostaria de agradecer a oportunidade que me deu em contribuir com o Dinheirama e, agora, a oportunidade de ser entrevistado por você. É uma grande honra!

Agora respondendo a sua pergunta: esse é um questionamento que me faço diariamente e, entre tantas as conclusões, uma em que acredito muito é que há uma forte “âncora cultural”. Explico. A âncora, como todos sabem, é o “freio de mão” do navio e, se muito pesada, pode levar a embarcação toda para o fundo do mar. O brasileiro então arrasta (quando não afunda com ela) essa carga cultural de “pouco caso” com o dinheiro.

E o mais interessante de tudo é que, ao contrário do que se pensa, esse descaso não é privilégio dos mais desfavorecidos. Muito pelo contrário, o número de super-endividados em famílias com renda superior a R$ 240mil/ ano é alarmante.

As pessoas de alta renda, inclusive, são as mais resistentes a necessidade da educação financeira, por não sentirem qualquer pressão em seus caixas – o problema é quando a conta chega. Assim, quando observei que os “maus tratos” com o dinheiro ocorrem em todas as faixas de renda, para mim ficou claro que é algo que está na nossa cultura.

Há que se dizer que até 1994 o Brasil tinha uma inflação que chegou a superar 900% ao ano, e em um cenário como esse, é muito difícil fazer qualquer planejamento financeiro. Nesse ponto, explica-se parte do imediatismo para o consumo que remonta a essa época quando não se podia ficar com dinheiro parado, pois no outro dia ele já não era capaz de comprar quase nada.

Mas isso foi há 20 anos, e qual a explicação para as pessoas continuarem agindo assim? Repito: nunca houve por aqui a cultura da poupança, do planejamento. Com a maior oferta de crédito, isso ficou ainda mais distante. As pessoas compram primeiro e depois pensam como vão pagar.

Veja o exemplo da casa própria. É cultural. Foi embutido em nossa mente que temos que ter nossa própria casa a qualquer custo. E se isso causar uma grande pressão no caixa das famílias (e porque não no estado emocional delas) através do endividamento bancário, ninguém parece se incomodar; é algo socialmente aceito como correto.

Não se percebe que ao pagar 100% do valor do bem em juros aos bancos, estas famílias podem estar comprometendo sua aposentadoria ou a faculdade dos filhos, porque lhes falta objetivos bem definidos. De repente um amontoado de tijolos e ferro se tornou mais importante que o bem estar das famílias.

Com tudo isso que cerca o cotidiano financeiro do brasileiro, falar de educação financeira vira um papo quase exotérico – as pessoas têm muito preconceito com aquilo que não entendem.

Outro traço cultural é o do “Sempre fizemos assim e sempre funcionou”. Isso era algo que meu avô me dizia. Resumindo: se vi exemplos em minha família de pessoas que não se planejavam e acabaram “dando certo”, porque vou fazer diferente? É o “nosso jeitinho”, parafraseando a famosa música, do “deixa a vida me levar”. Vivo um dia de cada vez, e o dia que sobrar, guardo.

Por fim, está em nossas raízes não termos objetivos e metas bem definidos. Nós simplesmente – por nós, entenda-se o brasileiro – vamos fazendo conforme dá. E como não há plano, as pessoas não percebem que daria para se fazer muito mais, para realizar muito mais.

Por isso é muito difícil convencer pessoas que não têm entre seus valores pessoais o planejamento de que a educação financeira é importante. É o mesmo que dizer que eles precisam aprender a ler cartas de tarô. E só percebem que pagam (e muito caro) por não ter esse tipo de conhecimento, infelizmente, quando se deparam com uma situação inesperada ou quando já não conseguem gerar renda suficiente a partir de seu trabalho.

A realidade brasileira de juros elevados e crédito facilitado criou nos jovens uma realidade de endividamento precoce e elevado. Como você enxerga esse desafio e o que tem dito a esse público sobre consumismo nos dias de hoje?

R. V.: Quem acompanha o Café com Finanças (clique para conhecer se você não acessou ainda) já se familiarizou com a expressão “durma no consumo” que é derivada daquela conhecida “durma no problema”.

O que quero dizer com isso é: esfrie os ânimos primeiro e depois pense em comprar. Somos seres emocionais movidos pela necessidade de ter prazer, e o consumo é um dos muitos meios para esse fim. O que as pessoas não percebem que a vida delas não fica melhor adquirindo mais coisas.

Dito isso, enxergo esse como um dos grandes (se não o maior) desafio de nosso tempo. Os jovens são, por natureza, impulsivos e imediatistas; são presa fácil da mídia que nos vende dia a dia um estilo de vida onde as pessoas são definidas pelo que tem. Na ânsia de replicar esse comportamento, acabam trocando os pés pelas mãos.

Pior que isso é que, depois, no convívio social, há sempre uma disputa velada de quem tem o melhor smartphone, o melhor carro, as melhores roupas. Eu diria que essa é uma das armadilhas sociais criadas pelas empresas, que, invariavelmente, causará prejuízo a elas próprias no futuro.

É muito difícil convencer os mais jovens da necessidade de se planejar. Tudo parece muito distante. Aposentadoria então… “Coisa de velho! Até lá eu fiquei rico e dei um jeito nisso”. Estou escrevendo um livro cujo título é “Imortal”. Ele trata desse assunto: como as pessoas aproveitam pouco a vida já que não pensam que ela é finita.

E, por isso mesmo, quanto mais jovem se é, menos se mede as consequências de seus atos. Por isso disse que esse talvez seja o maior dos desafios. Mais interessante ainda, essas pessoas não entendem que mais importante do que quanto ganham é como gastam seus recursos.

Antes de dizer algo a esse público, meu maior desafio é atrair a atenção deles. Numa sociedade bombardeada por informações 24/7 aonde quer que as pessoas estejam, conseguir atenção é um grande desafio. E, mesmo que consiga, vencer o orgulho e o preconceito das pessoas é uma barreira quase intransponível.

E, como efeito colateral do sem número de dados ao alcance de um toque na tela, todo mundo acha que sabe de tudo, e as pessoas se fecham para as informações que poderiam gerar transformações relevantes.

Veja o tamanho do problema: dificuldade de se conseguir atenção somada ao orgulho e preconceito. No fim, as pessoas se tornaram leitoras de “headlines” e ficaram, literal e culturalmente rasas. Citam teorias que desconhecem a origem, frases com autores trocados; é o caso clássico de volume em detrimento da qualidade.

Então, para conseguir acesso aos mais jovens, eu preciso gerar desconforto. Preciso “cutucar” a ferida, descobrir seus sonhos e anseios, mostrar quão distante estes estão e leva-los a refletir sobre quais comportamentos os estão levando para o caminho errado.

Sobretudo, é uma chamada de despertar do tipo: assuma a responsabilidade sobre sua vida se quiser fazer algo diferente. Digo isso, porque está na moda terceirizar a responsabilidade sobre toda sorte de problemas; é sempre culpa dos pais, do vizinho, da crise internacional, do governo… Aliás, nosso governo é campeão de jogar a responsabilidade para os outros.

Por fim, quando mudamos o “mindset” e assumimos o volante é que as grandes transformações acontecem. É esse o desconforto que procuro gerar: “Quem está no comando da sua vida?”. Tenho conseguido bons resultados ao mostrar, por exemplo, que a tão sonhada viagem para o exterior deu lugar a roupas, baladas e celulares da moda.

A caderneta de poupança ainda tem um grande apelo para uma boa parte da população (você inclusive escreveu sobre isso aqui no Dinheirama). O que você pode dizer para quem ainda prefere a poupança como principal investimento? Quais as alternativas?

R. V.: Conrado, em casa de ferreiro o espeto é de pau. Tenho dificuldade de convencer meus familiares a mudar a postura, tão forte é a tal âncora cultural que faz com que o brasileiro tenha uma relação quase incestuosa com imóveis e poupança.

Mais uma vez apelo para a dor, já que o aprendizado pelo amor, não está dando resultados. A pergunta que faço: “Você gosta de perder dinheiro?”. A resposta é invariavelmente “Não!”. Então por que está aplicando seu dinheiro na poupança?

Mas é como disse em meu último texto aqui no Dinheirama: as pessoas são tão acostumadas a perder dinheiro que nem percebem – daí o porquê a falta de educação financeira custa tão caro. Então, para quem perde passivamente 20 a 30% na compra de um carro zero, fica muito difícil constatar as perdas de um investimento que rende pouco (mas rende) como a poupança, porque elas – as perdas – não são nominais.

Antes disso ainda tento fazer as pessoas refletirem, novamente, acerca de seus objetivos. Pois de nada adianta falar qual investimento é melhor se não se sabe qual será o destino daquele recurso.

Sob essa ótica, a poupança pode ser a melhor alternativa para uma reserva cujo uso possa ocorrer no curto prazo. Nesse caso, a liquidez é mais relevante que a rentabilidade. Por isso os objetivos são mais importantes que os investimentos em si, já que estes têm que servir aos propósitos das pessoas e não o contrário.

A partir desse ponto, fica muito mais fácil mostrar a importância de se investir bem seu dinheiro para ter resultados compatíveis com seu plano de vida.

Passada essa fase, quando se entende a importância e se constrói uma reserva líquida para os momentos de turbulência, olhamos para recursos que podem ficar parados no mínimo um ano. Aí, via de regra, eu recomendo os Títulos do Tesouro – o famoso Tesouro Direto.

Sabe Conrado, sou daquela filosofia de que o menos é mais, e simplicidade é fundamental. O Tesouro é simples, rentável e seguro. Como a gama de títulos é ampla, dá para usar diferentes papéis para diferentes objetivos. Por exemplo, LFTs para objetivos de curto prazo e NTNs para os de mais longo.

Além disso, temos novamente a questão cultural: a grande maioria das pessoas é avessa ao risco e não possui recursos suficientes para diversificar. Então, para que inventar? A diversificação em renda variável (para o investidor médio) deve acontecer, a meu ver, quando já se tem uma quantidade importante de recursos investidos no Tesouro. Ainda mais em um cenário de juros altos como o nosso.

Claro que o senso comum diz que temos que diversificar e, no longo prazo, o mercado de ações traz um componente importante para a carteira. Novamente, tudo depende de onde se quer chegar. Quando falamos de investimentos que servirão a objetivos com prazos maiores que 10 anos, a renda variável é importante, desde que se invista de maneira constante e consistente.

Falando em mercado de ações, eu não concordo que, mesmo que seja permitido investir pequenas quantidades, que isso seja vantajoso para o investidor. No mercado à vista temos taxas e emolumentos, de modo que quando só se pode investir pouco por mês, e desse modo, para construir uma carteira interessante, muitas compras terão de ser feitas, o montante dos custos não justifica o investimento.

Isso serve tanto para os ETFs (fundos de índice) quanto para qualquer outro papel que seja negociado em bolsa. A saída aqui seria o investimento em fundos de ações. Contudo, considero seu custo alto demais, principalmente pelo que os fundos disponíveis para o pequeno investidor estão conseguindo entregar nos últimos 6 anos.

Por isso, repito: é melhor ter bom montante em títulos do governo para, a partir daí, diversificar procurando um balanceamento mais agressivo na carteira. Traduzindo em números, uma pessoa que tem, por exemplo, R$ 10 mil investidos (desconsiderando a reserva líquida) deve ficar tranquila no Tesouro.

Já alguém que tenha R$ 100 mil pode pensar, de acordo com seus objetivos (desculpe ser repetitivo, mas é de suma importância), em investir no mercado acionário. Mas sempre lembrando de Warren Buffett, de maneira simples e focada: nada de resolver bancar o “super trader” e acabar ficando sem nada. Foco, constância e consistência.

Por fim, falando ainda de bolsa, tem algo que eu acredito, porém não tento convencer ninguém, já que é que tem a ver muito mais com percepção do que com qualquer embasamento técnico. O mercado acionário do Brasil é muito incipiente: temos em torno de 600 mil CPFs cadastrados na Bovespa, com pouco mais de 100 mil ativos.

Num país com 200 milhões de habitantes, isso é o mesmo que nada. SE o Brasil trilhar o caminho natural das economias mais maduras, devemos ver os juros caírem drasticamente nas próximas décadas. Onde investem seu dinheiro os cidadãos de países com juros baixos? Na bolsa de valores.

Nesse cenário, não haverá outra alternativa senão essa. O brasileiro vai ter que, forçosamente, acostumar-se com ideia e, por necessidade, aderir a ela. Quando esse dia chegar, a bolsa não será mais só um ensaio como é hoje, será uma realidade. E assim poderá superar os 200 mil pontos.

Onde quero chegar? Quem se mantiver firme na bolsa desde já poderá rir à toa num futuro próximo. Esse me parece um caminho inevitável, desde que não nos transformemos em algo parecido com a Venezuela. Mas nada disso tem validade se as pessoas não tiverem claros seus objetivos.

Um dos temas que mais nos chama atenção é a maior expectativa de vida das pessoas e o descaso com essa realidade durante a vida profissional. A ficha em torno do desafio da longevidade ainda não caiu? Ajude-nos a despertar as pessoas para isso.

R. V.: Não, a ficha não caiu. E tenho dúvidas se um dia vai cair. Como comentei, esse é o tema do meu livro – o ser humano, inconscientemente, não acredita que um dia que vai morrer. Mesmo que saibamos disso, evitamos pensar no óbvio. A partir daí, o futuro vira uma imagem desfocada, embaçada. E sem foco… nada funciona.

Percebe que para mim esse sempre foi um desafio humano, sobretudo da sociedade pós Revolução Industrial, do que algo fruto da maior expectativa de vida? Mas a quem podemos culpar? Ao mesmo tempo em que estamos vivendo mais, a vida continua sendo frágil e imprevisível. Natural que a grande maioria busque realização imediata, é da natureza humana.

Por isso chamo as pessoas para a pedra fundamental da vida plena: equilíbrio. A vida é rápida, efêmera, frágil, sabemos de tudo isso e mais, mas não temos qualquer controle sobre nenhuma dessas variáveis. Então que tal nos planejarmos para viver bem hoje e amanhã também?

Não concordo de jeito nenhum com a noção de viver o presente de forma miserável para ter uma velhice abastada, até porque quanta coisa que faz sentido com 30 anos que não fará nenhum aos 70? Então que tal fazermos uma profunda reflexão sobre o que nos faz bem hoje, de fato, para eliminarmos o que não interessa (e acredite, é onde mais se desperdiça dinheiro) e assim garantirmos um futuro confortável?

Vou exemplificar: se uma pessoa tem 30 anos, uma renda de R$ 5 mil, vive dentro de sua capacidade (não se endivida) e está contente com seu padrão de vida, supõe-se que em uma idade mais avançada ela terá necessidades muito parecidas. Ao passo que gastará mais com plano de saúde e remédios (ou não, quem sabe?), gastará menos com outras coisas. Enfim, são cenários.

Se ela poupar R$ 700,00 por mês, acumulará aproximadamente R$ 1,5 milhão até os 60 anos. O que poderá gerar uma renda vitalícia de R$ 7.500,00 (sem mexer no principal) aplicando na poupança. Será que é impossível poupar 14% de sua renda sem abrir mão de viver as coisas boas da vida hoje? Não estamos falando de 30, 40%. Estamos falando de 10 a 15%.

Falo com convicção que dá para poupar boa parte desses recursos procurando e fechando alguns ralos. Mudando alguns maus hábitos e, principalmente, mudando a postura. É esse despertar que procuro nas pessoas: viva bem hoje e, com pequenos e contínuos esforços, viva bem amanhã também.

E se os mais jovens perceberem isso logo que começarem a ter renda, menos esforço terão que fazer. Uma pessoa que começa a poupar com 20 anos conseguirá juntar o mesmo montante poupando pouco mais de R$ 250,00 por mês. E se conseguir aumentar o aporte, mais cedo conseguirá não depender mais da renda do trabalho. Parece um sonho, mas é plenamente possível.

O esforço é relativamente pequeno se há disciplina. O maior esforço está na mudança da postura. Por isso repito: assuma o controle, pois seu futuro se faz hoje. Claro que me sinto frustrado que a maioria acha que “pensar nisso não é para mim”, “vou rezar para o INSS melhorar”, “jogo na loteria toda semana”.

Há todo tipo de racionalização para fugir da responsabilidade. Mas logo me recomponho, pois se eu ajudar ao menos uma pessoa no caminho, já terá valido a pena. Tenho certeza de que você e sua equipe pensam e agem da mesma forma.

Conte-nos um pouco de sua história com o dinheiro e de onde veio o gosto por aprender, praticar e compartilhar lições tão importantes sobre educação financeira.

R. V.: Minha história é bastante curiosa, pois posso dizer que o tema me encontrou, e não eu procurei por ele. Aliás, as ciências exatas “judiavam” de mim durante o ensino médio. Tudo o que eu queria ser era um músico famoso ou cineasta, nem passava pela minha cabeça que um dia eu faria parte desse mercado.

Mas logo cedo, aos 15 anos, comecei a empreender: juntei um equipamento velho de som que eu tinha e fui ser “DJ” em festas de aniversário. E como o negócio deu certo, comecei a ganhar dinheiro. Nesse momento tive que aprender a me relacionar com o “tal do cascalho”.

Dizem que aprendemos pelo exemplo, e, muitas vezes, o mau exemplo tem uma força transformadora tão poderosa que talvez o bom exemplo não tenha (só um palpite). Me incomodava muito a maneira como minha família cuidava do dinheiro.

As contas nunca fechavam, meu avô sempre nos socorria, sempre tinha uma tal “dívida” que eu não entendia bem o que era, só sabia que meus presentes de Natal não vinham por conta dela, um verdadeiro caos financeiro. Frente a isso, tudo o que eu sabia é que e não queria aquilo para mim.

Quando tive que escolher em que faculdade entraria, meu avô, que era quem pagava meus estudos, não concordou com Cinema, tampouco Música. Mas, sabe-se lá o porquê, concordou com Publicidade. Para mim, era uma profissão que aliava três coisas que eu gostava muito: música, cinema e redação – pelo menos na minha cabeça, já que no primeiro mês de aula vi que a realidade era bem diferente disso.

E se eu te contar que foi a música que despertou o gestor financeiro, você acreditaria? O tempo passou, tranquei a faculdade, montei uma banda e fui tentar realizar esse sonho. Mas eu queria fazer algo profissional, então virei o “Departamento Administrativo” da banda.

Tínhamos gestão de fluxo de caixa, capital de giro, fundo de reserva, fundo de emergência, fundo para investimentos e tudo mais que uma empresa teria, e eu jamais tivera treinamento formal para isso. Em tempos de agenda vazia, nossas reservas nos mantinham. E foi precisamente aí que comecei a desenvolver minhas noções de gestão financeira, curioso não?

A banda acabou, voltei para a faculdade e durante os anos que seguiram tive 3 módulos de finanças e, contra todas as probabilidades (eu ia ficar de DP em Finanças quando tranquei para cuidar da banda), me apaixonei pela coisa toda simplesmente porque eu me propus a isso e tive excelentes professores. Sempre fui ávido por aprender coisas novas e com as finanças não foi diferente. A cada nova descoberta, mais eu queria saber.

Meu avô me chamou para trabalhar em sua empresa para cuidar do financeiro que, em suas palavras, ele não ligava muito, uma vez que se a empresa tivesse boas vendas, cuidar do dinheiro era secundário. Aí descobri com quem minha família aprendeu a cuidar do dinheiro…

A diferença é que meu avô tinha extrema facilidade de fazer negócios e gerar receitas vultuosas. Porém, boa parte disso era consumido pela inexistência da gestão desses recursos. Como santo de casa não faz milagre, pouco antes de terminar a faculdade abri minha agência de propaganda com outros dois sócios, justamente para fazer aquilo que me diferenciava dos outros alunos do curso: saber finanças.

Durante os quase 6 anos que fiquei na Galileo (que um ano antes de eu sair se chamava WEME), notei que meus sócios e meus colaboradores (além de amigos) me procuravam com frequência para pedir orientações acerca de sua vida financeira pessoal. O resto é história! Como sempre gostei de me relacionar, foi rápida a conexão por dividir aquilo que eu sabia e, no processo, aprender mais ainda.

Quando vi, estava com o Café com Finanças no ar, dando palestras e fui convidado pela Life Finanças Pessoais para me tornar parte do time de Planejadores Life.

Acredito que no trajeto descobri que eu não me encaixava no perfil pragmático que um empresário tem que ter. Meu negócio, meu propósito nesse planeta, era ajudar pessoas, de forma autônoma e autêntica. E muitas vezes para isso você tem que abrir mão do lucro e até rever valores que entrem em conflito com esse propósito.

Ganhar dinheiro teria que ser consequência de um trabalho bem feito, de seguir meu coração e não objetivo. E como valeu a pena! Uma das mais importantes descobertas, por assim dizer, quando resolvi seguir meu coração, foi descobrir justamente que a grande maioria das leituras sobre o tema dinheiro, via de regra, apontavam para a mesma direção: por mais que tentassem falar ao coração das pessoas, dissociavam as pessoas de suas emoções – como se isso fosse possível.

Ao acreditarmos nessa mentira de que é possível separar razão de emoção, criamos um grande grau de frustração, pois não demora a perceber que uma não existe sem a outra. Nascemos 100% emocionais e aprendemos a lógica com a sociedade. Então, se as emoções são inatas e predominantes, concorda que é uma grande bobagem sequer tentar ser um ser 100% racional?

É justamente esse o alicerce do CCF: tratar pessoas como pessoas, respeitando suas emoções e, portanto, suas fragilidades. E para dar legitimidade ao que falo, exponho as minhas fraquezas e fracassos ao público para que essa conexão seja verdadeira, e todos entendam que, não fosse o aprendizado através dos erros, eu jamais teria a chance de acertar e dividir essa experiência com eles.

O interessante é como as coisas vão acontecendo quando se tem a vontade genuína de se fazer o bem, pois de leitor e admirador do Dinheirama, hoje sou colaborador. Então, se eu pudesse resumir o sentimento todo: eu amo me comunicar com meus semelhantes, e nessa interação, o fato de sempre poder ensinar algo e ao mesmo tempo aprender.

Adoro a riqueza de um bom debate e (sou um otimista incorrigível) de acreditar que a humanidade evoluirá em suas diferenças, sempre, através da troca de experiências.

Renato, muito obrigado por sua participação. Por favor deixe uma mensagem final sobre educação financeira e também informações para o leitor que quiser conhecer melhor seu trabalho e manter contato. Até a próxima.

R. V.: Conrado, sou imensamente grato pela abertura que me deu no Dinheirama. Para quem chegou até aqui, fica a seguinte mensagem: assuma a responsabilidade por sua vida. A mudança do mundo acontece dentro de nós mesmos.

Não tenha medo do dinheiro, ele é seu aliado. E para tal, não tenha medo de aprender, de se informar. Mais do que isso, não tenha preguiça. Aprender é como poupar, um pequeno esforço todo dia que fará uma diferença enorme daqui muitos anos. E lembre-se: de nada adianta tudo isso se não possuir objetivos de vida bem definidos; o dinheiro é apenas uma ferramenta para auxiliá-lo na busca de uma vida plena.

Quem quiser conhecer melhor meu trabalho, acesse o site do Café com Finanças em www.cafecomfinancas.com.br – lá você poderá assinar nossa News com conteúdo exclusivo, assistir nossos vídeos e baixar conteúdo.

Se preferir, entre em contato diretamente comigo pelo e-mail renato@cafecomfinancas.com.br para saber sobre eventos, palestras, cursos e as outras atividades que promovemos.

Um grande abraço a todos e até a próxima.

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