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Quem não agrada um chefe, nunca vai agradar um cliente

por William Ribeiro
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Sim, eu sei, o título é generalista. Todos conhecemos ou já tivemos chefes que são intragáveis. Para estes chefes, não importa o que você faça, o serviço sempre estará incompleto e imperfeito.

Mesmo ao superar o escopo ou as expectativas com relação à tarefa designada a você, na visão do chefe ingrato você não terá feito nada mais que a sua obrigação. O salário, as recompensas e reconhecimentos são os mesmos para as atividades (e funcionários) medianos, com relação aos excepcionais.

O arcaico modelo de gestão de pessoas do século passado continua, infeliz e estupidamente, sendo praticado por muitas empresas. Se o retorno da empresa para os funcionários independe dos seus resultados e desempenho, qual a motivação para eles superarem as expectativas e “darem sangue” pela empresa?

Trata-se da mesma inconsistência presente no socialismo, mas aqui empregada dentro das relações de trabalho. Ao tratar todos de maneira igualitária, o máximo que o empregador consegue é o nivelamento por baixo, pois a tendência é que todos sejam estimulados a apresentar resultados medíocres.

Mas o propósito deste artigo não é exatamente execrar estes empreendedores, que por si só já padecem de um destino trágico o bastante. Sem incentivos para descoberta e retenção de talentos (e com clima de injustiça pairando no ar), parece bastante improvável que empresas deste tipo perdurem por muito tempo.

O alerta é para que possamos repensar nossos hábitos no trabalho, deixando antigos rótulos, preconceitos e dilemas populistas para trás. Agradar o patrão não é um mero gesto de subordinação, mas sim o primeiro sinal de que estamos prontos para empreender um negócio próprio.

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O poder do intraempreendedorismo

Durante estes 15 últimos anos na condução de minha empresa, perdi alguns funcionários que foram se aventurar na incrível missão de se conduzir um negócio próprio no Brasil.

Claro que ninguém gosta de perder funcionários, mas confesso que sinto um orgulho enorme pela minha empresa ter feito parte, de uma maneira ou de outra, neste importante passo profissional destes funcionários.

As perdas mais sentidas foram as dos funcionários “pau para toda obra”. Aqueles que eram proativos, amigáveis, responsáveis… Bons para empresa e excelentes para o ambiente de trabalho como um todo. São pessoas que animam o astral da equipe e aquelas que você quer ter trabalhando perto de você.

Os funcionários chatos também costumavam sair para empreender. Enquanto estavam na empresa, sempre arrumavam uma desculpa para não fazer algo ou para alguma tarefa que não deu certo.

Pessoas deste tipo desagregam o time, arrumam confusão para tudo, e são os últimos a quem uma tarefa de confiança dentro da empresa é delegada. Segundo eles, a culpa sempre é dos outros: quando o culpado não é o chefe, é o governo, o capitalismo ou algum outro ente alheio às suas vontades.

Algumas distinções importantes, antes de prosseguirmos: ser proativo e determinado em nada tem a ver com ser um puxa-saco. Contra este, o radar detector de bajuladores é facilmente acionado: se a visão positiva que temos de um funcionário não for compatível com a ótica das pessoas que trabalham com ele, um sinal de alerta é acionado.

Do outro lado, chamo de funcionário chato, acima de tudo, aquele que é indisposto. Não está relacionado a não contestar o chefe. Aliás, muito mais vale um funcionário que expõe uma visão contrária do que aquele que sempre bate nas nossas costas (mesmo com o navio afundando).

Ressalvas feitas, vamos à reflexão: eu nunca vi um ex-funcionário, do grupo dos “chatos”, que tenha tido êxito em empreender após sair de minha empresa. Alguns deles, inclusive, sofreram bastante para se recolocar ou se manter no mercado de trabalho.

E qual a lógica disso? Façamos uma analogia do ambiente de trabalho como o próprio mercado competitivo. O chefe é o cliente a quem o funcionário deve manter satisfeito. Caso não o faça, um concorrente (outro profissional) pode tomar o seu lugar ao atender o cliente de uma maneira mais plena.

Só que a analogia para por aí. O chefe é um tipo especial de cliente, que possui um arsenal enorme apontado para si, justamente para defender o funcionário de abusos do “cliente” (chefe).

Este arsenal é a bizarra legislação trabalhista brasileira, que trata todos os empresários como fraudadores, abusadores e sonegadores em potencial.

Nada de presunção de inocência. Na visão do governo, todo empresário é um fora-da-lei, que deve ser monitorado constantemente mediante burocracia paga por ele próprio (via redução do seu lucro) e dos próprios salários dos funcionários (via tributos).

A arcaica CLT, senhora de mais de 70 anos, não mais atende às necessidades do mundo de hoje. Ela é responsável pela nossa infame marca de campeões do mundo de processos trabalhistas.

Em 2016, estima-se que tivemos absurdos 3 milhões de processos trabalhistas no Brasil. Para efeito de comparação, calcula-se que nos EUA (com população 60% maior que a nossa), seja da ordem de 70 mil processos por ano.

Em alguns setores, é quase uma tradição que o desligamento de um funcionário seja revertido em algum processo trabalhista. Muito contribui para isso o assédio de advogados (que são comissionados pelo valor da ação) e de sindicatos setoriais.

Desnecessário dizer que todos nós, empregadores e empregados, pagamos a conta desta baderna trabalhista. Os valores desprendidos pelo judiciário para atender tamanha demanda de processos superam os valores demandados nas ações trabalhistas.

Os trabalhadores estão superprotegidos, inclusive algumas vezes contra o próprio emprego. Já que é extremamente oneroso contratar via CLT, muitos trabalhadores não conseguem sair da informalidade.

Viremos então de lado, analisando a relação dos empresários com os consumidores dos seus produtos. O que encontramos de “proteção” contra os “abusos” do nosso cliente? Podemos processá-lo por assédio ou levá-lo à justiça por romperem o vínculo comercial conosco sem aviso prévio? A quem recorrer quando trabalhamos mais do que deveríamos para dar conta do recado?

Abomino expressamente qualquer empresário que abuse de seus funcionários, sobretudo os mais vulneráveis financeira e intelectualmente. Contra empresários assim, toda a força da lei.

Refiro-me unicamente à improbabilidade de certas pessoas terem sucesso no empreendedorismo. Se não conseguem ter êxito profissional, mesmo diante o absoluto cerco da CLT, seria uma enorme surpresa conseguir a satisfação de seus clientes em seus próprios negócios.

É bastante raro que a semente do empreendedorismo brote nas pessoas apenas pela ocasião de abrir o um negócio. Quando isto acontece, é possível que estas pessoas não tenham empatia e força de vontade suficientes para atender os anseios do seu maior patrimônio: os seus clientes.

Para os intraempreendedores, ter o negócio próprio é apenas uma questão de dinheiro e uma boa ideia. Não há limites para quem corre atrás e faz acontecer.

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O mindset dos intraempreendedores

Dois casos interessantes, de pessoas intraempreendedoras que trabalharam comigo, me vêm à mente.

Na primeira delas, este funcionário saiu para trabalhar em outra empresa. Seu novo emprego era bastante puxado: fazia muitas horas extras por lá, todas comprovadas pelo fatídico Registro de Ponto do Trabalhador.

Para a surpresa dele, estas horas-extras foram deliberadamente “esquecidas” pela empresa. Ele me procurou para saber a minha opinião, a respeito de processar ou não o seu novo empregador.

Eu disse que ele tinha o total direito de fazê-lo (se fosse a sua vontade), com chances absolutas de ganho de causa. Aliás, este é justamente o cenário de justiça na legislação trabalhista: o reparo de danos propositados e ilícitos contra o trabalhador.

Para a minha surpresa, mesmo diante a minha orientação, ele decidiu não tocar adiante o processo. Perguntado sobre as suas motivações, ele disse que tinha planos maiores para a sua carreira e qualquer perda de tempo adicional seria sair do seu foco.

Não comemoro a sua decisão em si, de abdicar dos seus direitos. Por si só, isto em nada contribui para que a empresa saia da ilegalidade. Mas, diante dos inúmeros cenários simulados para se ganhar indenizações trabalhistas no Brasil (veja o emblemático caso da fimose adquirida aqui), é surpreendente a decisão de se abrir mão dos direitos em prol de um bem maior.

No outro exemplo, perdi talvez o que tenha sido o maior talento que já passou pela empresa. Além de brilhante profissional, esta pessoa era extremamente dedicada, proativa e colaborava com todos seus companheiros de trabalho com enorme satisfação.

Depois de sair da empresa, batemos um papo sobre as suas motivações, em agir com “vontade de dono” da empresa mesmo não o sendo. A resposta dele foi tão simples como surpreendente ao mesmo tempo:

“Acordo cedo todos os dias para realizar o meu serviço. Não vejo nenhum motivo para não dar o melhor de mim naquilo que eu estou fazendo, e nisso tanto faz se o negócio é meu ou não. Aliás, quando trabalho para os outros, consigo assumir maiores responsabilidades, justamente por estar disponível e preparado para tudo o que vier. Correr atrás das coisas me faz aprender e ficar motivado, todos os dias”.

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Conclusão

Fazer diferente, aceitar desafios, agradar, atender bem e surpreender as pessoas, dar o melhor de si. Estes são atributos das pessoas que têm todas as armas para empreenderem seus próprios negócios com sucesso.

Se por um lado é difícil agradar o chefe, é ainda mais inglória a tarefa de se conquistar e manter os clientes. Eles nem sempre sabem o que querem e, sendo bastante sincero, muitas vezes nem nós sabemos onde os clientes estão.

Custa muito caro e é bastante arriscado consegui-los. Os clientes reclamam muito quando erramos no atendimento (quando damos sorte). Na maioria dos casos, porém, simplesmente desaparecem.

Mesmo quando os clientes estão errados, somos obrigados a ouvir suas grosserias e incivilidades (confirme com um dono de bar ou restaurante). Não tem Procon ou Sindicato para você reclamar do seu cliente.

Aliás, mesmo quando o seu cliente quebrar um contrato comercial, você vai pensar mais de mil vezes antes de processá-lo (e ele nunca mais voltar), como já aconteceu comigo mais de uma vez.

Convenhamos, então: ser empreendedor dentro do negócio dos outros é a maneira mais fácil, segura e barata de se criar o DNA empreendedor em nosso jeito de agir. De quebra, se sua empresa não é gerida com as bases do século passado, ser intraempreendedor vai segurar o seu emprego por um bom tempo.

Interiorizar esta maneira empreendedora de agir e pensar independe de estar trabalhando em seu negócio ou como empregado. Se você sonha em ter o seu próprio negócio, o melhor momento para começar é agora, dentro do seu próprio emprego. Tenha certeza: isso vai lhe economizar muito dinheiro no futuro.

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