Mônica comenta: “Navarro, sou recém-formada e estou no mercado de trabalho há menos de um ano. Uma das coisas mais importantes que ouço é: ‘aprenda a investir e comece cedo’. Gostaria de sua ajuda para colocar em prática essa decisão de investir para evitar gastar todo o dinheiro do salário. Como posso começar? Obrigada”.
Um comportamento interessante, relacionado com dinheiro, sempre chamou minha atenção. Nas conversas sobre finanças pessoais, a pergunta mais frequente e geralmente disparada logo no início do papo é “Qual é o melhor investimento hoje?”. A maioria das pessoas quer o “mapa da mina”, o “tiro certeiro”, na inocente tentativa de ganhar muito dinheiro, muito rápido.
Se você procura o “melhor investimento” puro e simples, a má notícia é que ele não existe. Por outro lado, se você quer investir melhor seu dinheiro, a boa notícia é que o melhor investimento depende muito mais do seu perfil, dos seus objetivos e do quanto você pode/quer investir do que de algum agente externo.
Ou seja, investir melhor depende mais do seu comportamento, do que você sabe e deseja colocar em prática do que de algum banco ou instituição que ofereça este ou aquele “produto sensacional”. Escrevi mais sobre isso em outro artigo, clique aqui para ler.
Separei cinco dicas que podem ajudá-lo a equilibrar melhor suas expectativas em relação aos investimentos, acompanhe abaixo.
1. Fuja de oportunidades fantásticas demais
O amigo te chama para entrar em um “negócio quente”, capaz de trazer um retorno mensal fantástico depois de apenas poucas horas trabalhadas por dia. Muito dinheiro, em pouco tempo e com pouco esforço. É tentador, não é mesmo? É muito provável que se trate de um negócio insustentável, uma ilusão.
Cuidado! Oportunidades milagrosas de rentabilizar seu dinheiro não existem. Construção de patrimônio é um processo lento, cuidadoso e que deve ser feito com bastante dedicação e informação. Sugiro que você:
- Evite investimentos de alto risco com rentabilidade prometida;
- Procure sempre informações sobre a empresa/instituição junto aos órgãos reguladores de mercado;
- Só invista em produtos/empresas devidamente regulamentadas e cujas operações você entende.
Atitude desejada: só invista em produtos autorizados e que você entenda.
2. Mantenha o assunto “dinheiro” no seu cardápio semanal
Como escolher uma alternativa de investimento inteligente se não ligamos para o assunto, não lemos a respeito e ignoramos as oportunidades gratuitas de entendê-los melhor? São muitas as fontes de conteúdo interessante e de fácil acesso disponíveis hoje em dia, desde a leitura de sites como esse a cursos gratuitos (online e presenciais).
É preciso entender que o “melhor investimento” não vai “bater à sua porta” da noite para o dia. É preciso estar envolvido com o tema, ainda que de forma superficial (mas não ingênua), para que termos como LCI, FII, ETF, CDB, Selic e etc. não soem como uma inútil sopa de letrinhas.
Atitude desejada: crie uma rotina semanal de contato com o universo das finanças pessoais.
3. Automatize seus investimentos
A tecnologia hoje permite que façamos investimentos a partir de nossos computadores, usando para isso Internet banking e as facilidades dos sistemas de informação dos diversos bancos e corretoras. Isso significa que você pode programar seus investimentos de forma que os aportes (ou transferências) sejam feitos automaticamente em uma data pré-estabelecida.
Tornar o investimento uma tarefa mais simples e integrada ao seu orçamento evita que você conte com o dinheiro para gastá-lo no seu dia a dia. Automatizar os investimentos afastará sua família da terrível decisão de “só investir quando sobrar algum dinheiro” (nunca sobra, afinal de contas, não é?).
Atitude desejada: programe e automatize seus investimentos de acordo com seu fluxo de caixa.
4. Tenha uma reserva de emergência
E se você perder o emprego repentinamente? E seu marido (ou esposa) perder o emprego? E se surgir um problema de saúde que necessite de um tratamento caro? Emergências acontecem e nossa tendência é pensar nelas apenas quando elas são a nossa realidade, o qué um erro grave.
Ter um montante aplicado em uma opção líquida e acessível garantirá a tranquilidade necessária para lidar com a emergência da forma que ela merece. A proposta aqui é permitir que a família mantenha sua rotina, concentrando os esforços em tratar apenas do problema. Além disso, quando oportunidades arriscadas surgirem, esse “colchão” lhe dará sossego para experimentá-las sem comprometer o dia a dia.
Atitude desejada: poupe e mantenha acessível uma reserva equivalente a dez meses de renda líquida familiar.
5. Associe investimentos a metas com prazo de validade
O resultado de um histórico econômico atribulado e repleto de piadas sem graça tornou o brasileiro um indivíduo desconfiado. Essa constatação serve para lembrá-lo de que nossa avaliação de curto, médio e longo prazo está prejudicada. Curto prazo são 12 meses, não “o mês que vem”. Longo prazo são 10 anos, não “o ano que vem”. Viu só?
Ao definir objetivos claros e associá-los com um prazo, tornamos mais simples a tarefa de precificá-lo e encaixá-lo no nosso orçamento. Saber o que você quer, definir um período para correr atrás disso e só então buscar o investimento adequado tornará a escolha mais acertada (mais rentabilidade, relação risco/retorno etc.).
Atitude desejada: defina objetivos de curto, médio e longo prazo e invista mensalmente uma quantia para cada uma dessas metas.
Investir melhor depende de você!
Você já parou para pensar nas razões que fazem você gastar seu precioso dinheiro? É claro que grande parte do que você ganha você usa para satisfazer necessidades básicas, tais como alimentação, transporte, moradia e por ai vai. Mas o que dizer dos gastos motivados pelas expectativas sociais e emoções?
Faço esse convite à reflexão para apontar o maior defeito da maioria dos não poupadores: o investimento não é uma prioridade familiar.
Vamos mudar nosso comportamento em relação aos investimentos? Comece por você! Leia mais, experimente conversar mais sobre o tema, coloque em prática as atitudes aqui listadas de forma gradual e mantenha a educação financeira sempre como um valor.
Por fim, preciso dizer que é muito gratificante poder compartilhar reflexões sobre dinheiro, investimentos e finanças pessoais em geral. Digo isso porque “grana” é um tema bastante particular, tratado em muitos lares como um tabu e cercado de influências externas (sociedade, expectativas, posição social, desejos, emoções etc.).
Que bom que podemos tratar a educação financeira sem amarras e de forma honesta, não é mesmo? Deixe suas considerações no espaço de comentários abaixo ou siga-me no Twitter – sou o @Navarro por lá – e vamos continuar esse papo. Obrigado pela companhia e até a próxima.
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