Helder comenta: “Navarro, estou investindo bastante do meu tempo em leituras sobre investidores e suas estratégias de investimento. Uma das coisas que procuro é entender quais são os principais equívocos associados às decisões que tomamos quando decidimos investir nosso capital. Você tem uma lista dos principais erros relacionados aos investimentos? Obrigado”.
Sempre que o assunto é dinheiro e investimentos, seja com clientes ou em uma simples conversa de amigos, faço questão de deixar uma coisa bem clara: o sucesso (ou o fracasso) ao investir não depende apenas da matemática, mas de compreender, respeitar e lidar com a natureza humana.
O Dinheirama vem tratando da relação “homem-ciência-dinheiro-sentimento” na seção “Psicologia Econômica”, onde fica claro que lidar com a natureza humana é, sem dúvida, nosso maior desafio. A palavra-chave relacionada a este desafio é emoção.
Segundo uma definição clássica e muito utilizada pela Professora Vera Rita de Mello Ferreira, “emoção é impulso, é parente próxima de instinto, é o que nos impele a buscar satisfação e agir nesse sentido”.
Viu outra palavra importante? Satisfação. A definição acima serve para explicar porque adoramos consumir e fazer compras; ou porque é tão fácil ficar animado quando alguém apresenta uma oportunidade fantástica de investimento; ou ainda porque arriscamos tanto quando o mercado vai muito bem.
5 principais erros dos investidores iniciantes
Formular uma lista com os principais erros cometidos por investidores é uma tarefa bastante complicada. Primeiro, porque são muitos os erros. Segundo, porque eles têm origens em características subjetivas, o que os torna peculiares e únicos a depender do perfil do investidor. E, terceiro, porque eles são sempre potencializados pela emoção.
Ainda assim, arrisco-me a apontar cinco erros bastante perigosos, especialmente para quem investe há pouco tempo. Vejamos.
1. Superestimar a probabilidade de eventos positivos
Tudo que o investidor novato quer é ter a certeza de que seu dinheiro renderá muito e que, em pouco tempo, seu patrimônio será multiplicado por um fator bem interessante. Alguns vão muito além: querem investir pouco e ter um retorno expressivo. Vocês não imaginam quantos e-mails eu recebo com mensagens ao estilo “Tenho R$ 5 mil e gostaria de ficar milionário blá-blá-blá”.
Que ótimo que há o desejo de investir e transformar-se em um milionário (isso desencadeia emoções importantes no processo), mas superestimar as oportunidades disponíveis só tende a gerar mais angústia e ansiedade. Ora, como é lidar com a realidade de saber que aquele super negócio que seu amigo ofereceu, um típico esquema de pirâmide, quebrou?
A emoção toma conta. O investidor vai da euforia do investimento inicial, quando ele superestimou a chance de tudo dar certo e ele ficar rico logo, para o susto da realidade. O resultado pode ser um perigoso trauma.
Atitude desejada: conheça muito bem o investimento que pretende fazer, suas características, riscos e histórico.
2. Tirar conclusões a partir de poucos dados
Outro caso comum é o do investidor que é apresentado a um excelente produto (fundo de investimento, digamos) e decide investir logo depois de ouvir a explicação do representante da empresa (pode ser um “pastinha” ou profissional próprio). É o que espera o ofertante do produto, mas é melhor que não seja assim.
Ofereço algumas questões relevantes que devem ser plenamente respondidas e entendidas antes da decisão de investir:
- A empresa que oferece o produto é devidamente registrada e tem autorização para oferecer produtos financeiros? Consulte a CVM, Banco Central e afins para ter certeza;
- Desde quando a empresa existe e quantos fundos ela gerencia? É importante conhecer a empresa, seus sócios e sua história;
- Qual o patrimônio total administrado pela empresa? O volume gerenciado dá dimensão de quantas pessoas já investem e confiam na empresa;
- Qual o histórico de rentabilidade dos produtos da empresa? Dê preferência a empresas que existam há mais tempo e cujas estratégias tenham sido testadas em crises como a de 2007, por exemplo.
Estas são algumas perguntas. Você pode e deve fazer muitas mais, além de comparar, conversar com os gestores e visitar a empresa. Cercar-se de cuidados antes de decidir onde investir é a atitude correta quando se trata de preservar e multiplicar seu patrimônio. Afinal, o dinheiro do dia a dia é suado, não é mesmo?
Atitude desejada: perguntar muito sobre a empresa, sua história, seus produtos, clientes, patrimônio e histórico em relação ao mercado.
3. Relutância em admitir erros (ou teimosia)
A decisão se mostra incorreta e o resultado não é o esperado. Há quem siga fiel ao sentimento de que tudo vai melhorar, criando laços perigosos com os ativos de sua carteira. Agir assim significa associar-se forma silenciosa ao ego, quando o recomendado seria respeitar uma estratégia.
A palavra-chave, portanto, é estratégia. É preciso defini-la e respeitá-la. Definir limites de perdas (stop loss) e ganhos (stop gain) e prazos para o investimento (curto, médio e longo prazo) é o básico para evitar que as emoções somem tanta força na hora de tomar suas decisões.
Ao lidar com os investimentos, o foco não é saber quem está errado, mas compreender o papel da estratégia. Se ela não funcionou, é hora de revisá-la e experimentar variações. Se deu certo, será que foi um golpe de sorte ou as variáveis foram mesmo cobertas e corretamente analisadas? Ter uma estratégia evita que você valorize demais sua péssima capacidade de estimar (Erro 1, lembra-se?).
Atitude desejada: crie um plano de investimentos coerente com seus objetivos, preferindo realizar pequenos lucros mais vezes a esperar a “grande tacada”.
4. Acreditar que seu sucesso se deve à sua sabedoria, e não ao mercado em alta
Atualmente, este é um erro pouco comentado no Brasil. O mercado de ações, onde esse erro é mais frequente, anda bem estranho por aqui. O número de investidores pessoa física não cresce há algum tempo. Não há euforia, o que exige cuidado e experiência para ter bons resultados em um mercado “de lado”.
Os especialistas costumam dizer que quando a alta das bolsas é notícia muito frequente na mídia menos especializada, “é provável que essa seja uma boa hora para sair (vender) e realizar lucros”. Já vimos isso acontecer no passado recente e o convite à reflexão é simples: quão eficiente é sua estratégia quando o mercado não está soprando a favor?
Porque, convenhamos, é fácil ver a carteira subir bastante quando todo o mercado impulsiona a bolsa para cima. O que fazer, no entanto, quando a situação é diferente do ideal? Comece aprendendo técnicas de investimento diferentes, como proteção através de opções de compra/venda, aluguel de ações etc.
Atitude desejada: investir também em momentos de mercado lateral ou com tendência de baixa, testando e aprendendo estratégias diferentes (hedge, opções, contratos e etc.).
5. Confundir familiaridade com conhecimento
Em relação aos seus primeiros passos, começar a investir é sinônimo de comprar as Blue Chips que saem todos os dias no jornal? Esta pode ser uma decisão interessante para o longo prazo, mas muitos investidores agem assim simplesmente porque leram a recomendação em alguma revista e não porque entendem que essa seria a “coisa certa” a fazer.
Fulano ouviu dizer que o Tesouro Direto é uma aplicação bacana. Legal, mas isso torna a aplicação realmente interessante para ele? Depende. Depende do seu horizonte temporal do investimento, do montante a ser aplicado, do seu perfil e por ai vai.
É desejável que você acompanhe o noticiário especializado e tenha opinião formada sobre as diversas alternativas de investimento disponíveis. Só não confunda a familiaridade com o tema com conhecimento para investir de forma mais confiante – essa confusão abre espaço para a emoção e os resultados podem ser desanimadores.
Atitude desejada: valorize a familiaridade com o assunto e, a partir dela, aprofunde-se nas alternativas de investimento que parecem mais apropriadas para seu perfil.
Confundi mais que ajudei?
É bem possível que ao chegar até aqui você acredite que investir é bem mais complicado do que você imaginava. Talvez por isso você, inconscientemente, invista apenas naquelas opções tradicionais, simples e que você já conhece há muito tempo, como a caderneta de poupança ou os fundos de renda fixa.
A proposta é mesmo convidá-lo a rever sua postura diante das decisões que vem tomando em relação patrimônio familiar. Quero desafiá-lo a sair da zona de conforto. Adianta eu tentar convencê-lo dizendo que investir melhor representa uma decisão fundamental para quem busca independência financeira? Isso você já sabe.
Se a provocação faz sentido, termino com a sensação de dever cumprido. Se ainda não “cheguei lá”, prometo insistir mais, mais e mais. Deixe seus comentários e fale comigo também no Twitter – sou o @Navarro por lá. Até mais.
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