Operações estruturadas têm se tornado cada vez mais comuns nas carteiras de investidores nacionais. Neste contexto, não estamos nos referindo aos Certificados de Operações Estruturadas (COEs), mas as operações estruturadas diretamente nas contas de investimento, utilizando opções de compra e venda.
Embora possam parecer boas alternativas de investimento, isso raramente é o caso, e neste breve texto, exploraremos alguns dos seus problemas mais comuns. Um contrato de opção, como o próprio nome sugere, concede a você a opção de comprar ou vender um ativo em uma data e a um preço pré-determinados, independentemente do que está acontecendo no mercado. Para simplificar o conceito e facilitar o entendimento, usaremos um pequeno exemplo.
Suponhamos que você queira comprar uma ação daqui a seis meses, mas acredita que seu preço estará significativamente acima do valor atual. Nesse caso, você pode investir em um contrato que lhe oferecerá a opção de adquirir a ação pelo preço atual, daqui a seis meses, mesmo que seu preço de mercado esteja muito mais alto. Se o preço de mercado for mais baixo do que o preço da opção, você simplesmente não exerce a compra, tendo gasto apenas uma fração do valor do ativo para investir na opção.
O mesmo princípio se aplica quando você já possui uma ação e deseja se proteger contra uma possível queda no futuro. Nesse cenário, você pode investir em uma opção de venda e exercê-la pelo preço acordado, assegurando que você limite as possíveis perdas. Caso a queda não ocorra, mais uma vez, você terá desembolsado apenas o custo do contrato de venda.
Em um nível mais profundo, quando você investe em uma opção de compra, alguém deve assumir o outro lado do contrato e receber uma taxa como compensação pelo risco de ter que vender a ação a um preço mais baixo. O mesmo se aplica a uma opção de venda, com a contraparte obrigada a comprar a ação a um preço mais alto do que o mercado e, em troca, recebendo um prêmio por assumir esse compromisso.
Como é possível perceber, existem quatro posições possíveis em relação às opções: aqueles que compram opções de compra, aqueles que vendem opções de compra, aqueles que compram opções de venda e aqueles que vendem opções de venda. Quem compra as opções obtêm um seguro, enquanto quem vende as opções recebe uma taxa por fornecer esse seguro.
A origem dos problemas com opções
Embora a ideia das opções seja simples e funcional, ela abre um leque de possibilidades para operações especulativas. Isso ocorre porque é viável assumir posições em ambas as extremidades para limitar perdas ou obter ganhos máximos, vender opções para gerar renda, apostar em alta, queda ou estabilidade do mercado, entre outras estratégias.
Talvez a estrutura mais popular no Brasil envolva atualmente a ideia de construir operações de “renda fixa” usando uma combinação de opções. Em geral, a ideia é investir em renda variável com uma proteção contra perdas substanciais, onde você conhece o valor máximo que pode perder — uma ideia atraente para a maioria da população brasileira.
No entanto, conforme comum nos mercados financeiros, tudo o que parece bom demais para ser verdade geralmente é. Isso ocorre porque as pessoas frequentemente não consideram haver custos associados a essas operações, e esses custos podem ser significativos para o investidor, mas altamente lucrativos para quem oferece o produto.
Entre os custos mais comuns das operações estruturadas estão as taxas de corretagem para a compra dos contratos de opção, comissões pagas a assessorias financeiras e corretoras, bem como eventuais taxas de administração. No caso das comissões, dependendo da operação, o custo pode chegar a quase 10% do valor investido.
Em outras palavras, você começa com uma desvantagem, e precisará de um retorno pelo menos igual a esse valor para recuperar seu investimento inicial. Além disso, seu capital fica geralmente bloqueado por longos períodos, muitas vezes de três, quatro ou cinco anos, para obter resultados que geralmente são insatisfatórios.
Por outro lado, se você desejar encerrar uma operação estruturada com opções, enfrentará outro problema, pois a instituição financeira provavelmente não estará disposta a recomprar a operação pelo mesmo valor inicial. Isso pode resultar em perdas substanciais, que frequentemente atingem cerca de -40% a -50% do valor total investido.
Além disso, é interessante mencionar um estudo realizado por pesquisadores da FGV em relação a um produto semelhante, os Certificados de Operações Estruturadas (COEs). Segundo o levantamento, aproximadamente 90% desses produtos tinham um perfil de risco-retorno inferior ao de um investimento no Tesouro Nacional Prefixado, considerado um dos investimentos mais seguros do país. Além disso, o Tesouro Nacional oferece a vantagem de resgates diários e não incorre nas inúmeras taxas associadas aos COEs.
Embora não seja possível extrapolar diretamente as conclusões desse estudo para as operações estruturadas que envolvem opções de compra/venda, é razoável supor que os resultados sejam semelhantes. Isso ocorre porque os COEs são, em essência, outra forma de vender a mesma estrutura, com todos os problemas que isso acarreta para os investidores.
Por que as operações estruturadas têm crescido?
Embora não possuamos dados precisos sobre o assunto, parece que o número de operações envolvendo opções tem aumentado significativamente no Brasil. Isso é preocupante, pois observamos que, na grande maioria dos casos, tanto aqueles que recomendam quanto aqueles que investem nesses produtos não têm um entendimento sólido do que estão fazendo. Isso nos leva a questionar por que essas estratégias estão ganhando tanto espaço.
A resposta, embora repetitiva, envolve o conflito de interesses que permeia aqueles que recomendam ou vendem essas operações. Como mencionado anteriormente, as comissões para esse tipo de operação são substanciais, podendo atingir até 10% do valor investido, incentivando sua comercialização indiscriminada.
Tanto as instituições financeiras quanto as assessorias de investimentos não têm seus ganhos afetados pelos resultados dos investimentos dos clientes, e, portanto, os investidores acabam suportando as consequências no final. Portanto, a recomendação é que, da próxima vez que tentarem persuadi-lo a investir em opções, você opte por se abster.