O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que o Comitê de Política Monetária ainda enxerga o ritmo de corte de juros de 0,50 ponto percentual como adequado e tem visibilidade suficiente para prever a manutenção desse passo pelo menos nas próximas duas reuniões.
“A gente enxerga que 50 é um ritmo apropriado e que a gente tem uma visibilidade para as próximas duas reuniões”, disse Campos Neto no Fórum de Estratégias de Investimentos da Bradesco Asset Management, acrescentando que “a taxa terminal, independentemente de qual for, precisa ser restritiva”.
Segundo ele, a autoridade monetária não tem emitido uma orientação muito clara sobre a trajetória futura da taxa Selic porque há incertezas em várias frentes.
“Quando a incerteza é muito grande e você sinaliza os próximos passos, a probabilidade de você ter que trocar a sinalização é grande. Então você acaba tendo um valor esperado negativo… e sempre tem um custo de credibilidade”, afirmou o presidente do BC.
Nesse contexto incerto, ao longo das próximas duas reuniões do Copom o BC terá tempo suficiente para “avaliar vários fatores importantes”, disse Campos Neto, chamando a atenção para desafios internacionais, como as perspectivas para as economias de Estados Unidos e China.
No âmbito doméstico, ele destacou a pauta fiscal. Ao mesmo tempo que alertou para riscos em torno da meta de resultado primário do ano que vem, em meio a dificuldades do governo para aumentar a arrecadação, Campos Neto ponderou que há “uma agenda de aprovações importantes no Congresso que vão ajudar o fiscal à frente”.
Ele destacou como medida relevante o projeto que barra a concessão de incentivo tributário federal sobre subvenções estaduais para custeio de empresas, limitando o benefício apenas a investimentos.
O presidente do BC disse que o Brasil precisa fazer sua “lição de casa” na parte fiscal em meio aos desafios do cenário externo, já que a perspectiva de juros mais altos por mais tempo traz a possibilidade de impactos negativos na liquidez que podem afetar países emergentes.
Questionado sobre os impactos na condução da política monetária de possível alteração na meta fiscal de 2024 pelo governo, Campos Neto disse que o Banco Central não se direciona apenas pelo desempenho fiscal em si, mas por como isso afeta as variáveis relevantes para o Copom, como as expectativas de inflação e a curva de juros.
“Se o risco fiscal percebido no Brasil aumentar, também vai ter uma elevação do prêmio de risco e isso afeta nosso processo de decisão, mas o que eu quero enfatizar é que não afeta mecanicamente; depende das variáveis que sofrem essa influência.”
Seus comentários vieram horas após a ata da reunião do Copom da semana passada –em que a autarquia cortou a Selic em 0,50 ponto percentual pelo terceiro encontro consecutivo, a 12,25%– ter mostrado percepção do BC de que cresceu a incerteza sobre a capacidade do governo de cumprir as metas fiscais estabelecidas.