Os argentinos vão às urnas neste domingo em um segundo turno presidencial de resultado incerto, com duas visões profundamente antagônicas para o futuro do país em disputa e um eleitorado que sofre com problemas como inflação de três dígitos e aumento da pobreza.
A eleição coloca frente a frente o ministro da Economia peronista Sergio Massa, que comanda a pior crise econômica do país em duas décadas, e o libertário radical Javier Milei, que é ligeiramente favorito de acordo com as pesquisas eleitorais.
Milei está prometendo realizar uma terapia de choque na economia, com propostas de fechar o banco central argentino, abandonar o peso e reduzir os gastos, reformas essas potencialmente dolorosas mas que repercutiram bem entre eleitores zangados com os problemas econômicos do país. Ao mesmo tempo, as suas ideias espalharam temores de austeridade em outras pessoas.
Com muitos argentinos não se sentindo representados por nenhum dos dois candidatos, muitas pessoas têm caracterizado a eleição como uma escolha do “mal menor”: o temor das medidas econômicas de Milei ou a continuidade da crise com Massa. Muitos argentinos afirmam que não comparecerão às urnas.
Seja quem for o ganhador, a eleição vai sacudir o cenário político do país, sua economia, o comércio de grãos, lítio e hidrocarbonetos, e os seus laços com a China, os Estados Unidos, o Brasil e outros países.
“Nenhum dos candidatos me dá certeza sobre o futuro”, afirmou Josefina Valente, uma aposentada de 63 anos que votou em Buenos Aires nesta manhã. “Venho votar por obrigação, para que tenhamos uma mudança no país de uma vez por todas.”
A história da corrida presidencial até aqui tem girado em torno do crescimento surpresa de Milei, um economista de 53 anos e ex-comentarista de TV. Julio Burdman, diretor da consultoria Observatório Electoral, afirmou que o cenário político mudará para sempre, seja qual for o resultado.
“Esta eleição marca uma profunda ruptura no sistema de representação política na Argentina”, disse. “Creio que todas as forças políticas que conhecemos serão transformadas.”
Milei tem uma pequena vantagem nas pesquisas de opinião, mas a maioria delas mostra uma corrida apertada e incerta. Massa, de 51 anos, um político experiente, vem recuperando votos com cortes nos impostos e campanhas que destacam os planos radicais de Milei para reduzir o gasto público.
“As políticas de Milei me dão medo, e é por isso que votarei em Massa. Não é por convicção. Como dizem por aí, é melhor o mal que eu já conheço”, afirmou neste domingo a professora Susana Martínez, de 42 anos.
Os apoiadores do libertário dizem que ele é o único capaz de destronar a “casta” política, como Milei chama os seus colegas mais tradicionais. “Você não pode votar para o atual governo nessas condições. E um voto em branco vai favorecê-lo. Milei é a única opção viável para que não acabemos na miséria”, afirmou o contador Santiago Neria, de 34 anos.
Quem vencer, terá de lidar com os cofres vazios no governo e no banco central, uma dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma inflação próxima a 150% e uma série de controles de capital.
O Congresso também será fragmentado, sem maioria de nenhum dos lados. O vencedor precisará do apoio de outros grupos políticos para aprovar leis. A coalizão de Milei não possui governadores ou prefeitos.
A votação começou às 8h e será encerrada às 18h (no horário local). Os primeiros resultados são esperados algumas horas depois.