A mineradora Vale (VALE3) inaugura nesta terça-feira a primeira planta de briquete de minério de ferro do mundo em Vitória (ES), em um passo histórico em sua estratégia rumo à descarbonização e ampliação de sua base geográfica de clientes, que atualmente tem grande exposição à China.
Capaz de reduzir em até 10% as emissões de CO2 na siderurgia, o briquete foi desenvolvido pela Vale em meio a várias iniciativas para diversificar seu portifólio e atender uma demanda global crescente por soluções para a transição energética.
Com o início da produção, a empresa se prepara para começar a atender uma fila de cerca de 30 empresas interessadas em testar o inédito produto, sediadas principalmente na Europa e no Oriente Médio.
Uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, a Vale também anotou pedidos de companhias em vários países, incluindo o Brasil, o que já garantiu uma demanda pelo briquete por pelo menos 18 meses, conforme disse à Reuters anteriormente o vice-presidente-executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli.
Testes com carga na primeira planta capixaba instalada em Tubarão foram realizados em agosto, permitindo a inauguração da unidade de 2 milhões de toneladas de capacidade por ano ainda neste ano. Uma segunda unidade, com capacidade para produzir 4 milhões de toneladas, deve entrar em operação no início de 2024, somando investimentos de 1,2 bilhão de reais.
A Vale prevê que em 2024 sejam produzidos cerca de 2,5 milhões de toneladas de briquetes, enquanto a empresa aumenta a produção para atingir a capacidade total futuramente.
Testes com o produto por clientes já foram realizados anteriormente em siderúrgicas no exterior, mas em volumes menores, produzidos em uma planta-demonstração da companhia em Pindamonhangaba (SP), com capacidade de 110 mil toneladas por ano. A unidade já produziu mais de 70 mil toneladas de briquete para testes.
O briquete, que começou a ser desenvolvido pela Vale há cerca de 20 anos e foi anunciado em 2021, é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes, que confere elevada resistência mecânica ao produto final.
O produto poderá substituir sinter, pelota e granulado em altos-fornos e pelota em fornos de redução direta, cortando em até 10% a emissão de gases do efeito estufa na produção de aço em relação ao processo tradicional. A siderurgia é responsável por cerca de 8% das emissões do mundo.
O briquete reduz ainda a emissão de particulados e de gases como dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX), além de dispensar o uso da água na sua fabricação.
Próximos passos
A Vale está agora desenvolvendo a versão do briquete para a rota de redução direta, tipo que será utilizado nos “Mega Hubs”, complexos industriais voltados para a fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono que a companhia estuda implantar no Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã), no Brasil e nos EUA.
“Testes experimentais foram realizados com sucesso e a empresa já iniciou o primeiro teste industrial, em um reator na América do Norte”, disse a empresa em nota.
Nesses Mega Hubs, a Vale produzirá os briquetes, que serão utilizados na fabricação de HBI (hot-briquetted iron ou ferro-esponja), produto intermediário entre o minério de ferro e o aço.
Espera-se que nos hubs a Vale construa e opere as plantas de concentração e briquetagem de minério de ferro, fornecendo a matéria-prima para as plantas de HBI, que serão construídas e operadas por investidores e/ou clientes.
Com a utilização de hidrogênio verde como fonte de energia futuramente, o HBI poderá viabilizar a produção de aço com zero emissão de gases de efeito estufa, segundo a empresa.
Dentre as inúmeras iniciativas, a Vale também assinou com o Porto do Açu um acordo para estudar a construção de um mega hub no Estado do Rio. A mineradora anunciou ainda com a Petrobras um protocolo de intenções para avaliar iniciativas conjuntas em soluções de baixo carbono.
As iniciativas fazem parte da estratégia da Vale para reduzir em 15% as suas emissões de escopo 3 até 2035, mas também de alavancar sua competitividade frente a suas principais concorrentes australianas.
A empresa também busca reduzir suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030, como primeiro passo para se tornar uma empresa carbono zero em 2050.