Depois de as taxas dos contratos futuros de juros terem fechado a quarta-feira com quedas firmes, refletindo a decisão de política monetária do Federal Reserve, a tendência é que passem por ajustes de alta nesta quinta-feira, na esteira do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, avaliaram profissionais ouvidos pela Reuters.
O Fed manteve na tarde de quarta-feira sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, mas projetou cortes de juros de 75 pontos-base em 2024 mais do que o previsto anteriormente e inflação na meta de 2% em 2026.
A postura foi considerada mais branda do que em reuniões anteriores, o que levou as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) a cederem mais de 15 pontos-base em alguns vencimentos.
Na prática, conforme a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, com o Fed, o mercado “operou a possibilidade de aceleração” nos cortes da taxa básica Selic.
“Mas o comunicado do Copom volta com a ideia de que o BC vê o ritmo de 50 pontos-base de corte como adequado, o que o torna mais hawkish (duro)”, avaliou Victal.
Além de cortar a Selic em 0,50 ponto percentual, para 11,75% ao ano, o Copom repetiu em comunicado que antevê redução de mesma magnitude da taxa básica “nas próximas reuniões” ou seja, pelo menos em janeiro e março do próximo ano.
De acordo com Victal, com a sinalização do BC, e desconsiderando eventual nova influência de dados norte-americanos a serem divulgados nesta quinta-feira, a tendência é de que haja algum ajuste de alta das taxas futuras de juros de curto prazo no Brasil.
Esta também é a avaliação do economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, que projeta ajustes em especial nos contratos futuros para janeiro de 2025 e janeiro de 2026.
“Pensando só pela comunicação do Copom, e dado o movimento (de queda de taxas dos DIs) hoje (quarta-feira), esperaria uma correção para cima (dos juros futuros)”, disse Serrano, pontuando que as taxas de janeiro 2025 e janeiro 2026 tendem a subir um pouco.
Entre os contratos com prazos mais longos, o movimento tende a ser ditado novamente pelo exterior, como vem ocorrendo.
De acordo com Serrano, ao manter a expressão “próximas reuniões” para se referir ao futuro do ciclo, o BC reforçou a mensagem de que o ritmo de cortes a ser mantido é o de 50 pontos-base.
Para Caio Schettino, head de alocações da Criteria, tanto a decisão do Fed quanto a do BC brasileiro vieram dentro do esperado.
“Eu não via muito sentido tanto o Fed quanto o BC fugirem muito do que vinha sendo precificado. No Brasil, já havíamos precificado dois cortes de meio ponto percentual nas duas próximas reuniões e, com o mercado e o BC alinhados, não havia por que romper isso”, avaliou Schettino.
Câmbio
Para o mercado de câmbio, os efeitos da decisão do BC podem ser no sentido de nova queda para o dólar ante o real nesta quinta-feira, após a moeda norte-americana à vista ter encerrado a quarta-feira com quase 1% de baixa, na esteira do Fed.
Isso porque, ao reforçar a perspectiva de mais cortes de 0,50 ponto percentual e não de 0,75 ponto percentual, como chegou a ser aventado na curva brasileira a leitura é de que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos seguirá em níveis mais elevados, pelo menos por enquanto, o que favorece a atração de divisas para o país.
“Amanhã (quinta-feira), pode ser que o real se aprecie novamente, e não o contrário”, completou Serrano.