Publicada um ano antes do ataque do Hamas em 7 de outubro, a autobiografia do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresenta um cenário que tem uma semelhança assustadora com os eventos do dia mais mortal de Israel.
“O Hamas pretendia surpreender Israel iniciando a penetração simultânea de centenas de terroristas no país”, escreveu ele sobre um plano de uma década do grupo militante palestino que levou as forças israelenses a entrar em guerra em Gaza em 2014 para evitar esse ataque.
“Eles planejavam entrar em jardins de infância e escolas, assassinar israelenses e levar dezenas de reféns para Gaza pelos túneis. Isso poderia significar um desastre.”
Mas, em 7 de outubro do ano passado, os militantes do Hamas executaram seu plano em um ataque no sul de Israel, com uma diferença: os reféns não foram levados para Gaza por meio de túneis, mas através de uma cerca de fronteira rompida.
Os israelenses ainda estão se recuperando da morte de 1.200 pessoas, a maioria civis, e do sequestro de outras 240, incluindo crianças e idosos. O ataque desencadeou uma campanha militar israelense na qual cerca de 24.000 palestinos foram mortos.
Atônitos com a enorme falha de segurança, muitos querem a saída de Netanyahu.
Uma pesquisa publicada pelo não partidário Israel Democracy Institute em 2 de janeiro mostrou que apenas 15% dos israelenses querem que Netanyahu permaneça no cargo após o fim da guerra contra o Hamas, em linha com pesquisas anteriores que mostraram uma queda acentuada em sua popularidade.
Mas o líder, que há anos ostenta a imagem de sr. Segurança, não dá sinais de querer sair.
“Ele é desafiador. Aparentemente, tomou uma decisão estratégica para sobreviver politicamente. Acho que é um objetivo quixotesco e, mais cedo ou mais tarde, acredito que seus próprios pares lhe dirão que seu tempo acabou”, disse o analista político Amotz Asa-El.
A mudança política parece improvável no curto prazo, em meio aos combates em Gaza. Enquanto isso, Netanyahu prometeu continuar a guerra até a vitória completa sobre o Hamas, com os chefes de segurança alertando que o combate se estenderá por 2024.
Mas há sinais no governo de Netanyahu de que alguns estão disputando posições.
Relatos de disputas dentro do gabinete de segurança vazaram para a imprensa israelense e o ministro da polícia, de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir, em grande parte excluído de quaisquer decisões de guerra, atacou Benny Gantz, ex-chefe de defesa centrista de Israel que se juntou ao governo de emergência e ao gabinete de guerra de Netanyahu.
Protestos
Protestos de rua contra o governo que varreram Israel por quase um ano até o ataque foram retomados nas últimas semanas, exigindo a realização de eleições. Mas esses protestos ainda são relativamente pequenos em comparação com as manifestações em massa de 2023.
“É hora de ele voltar para casa, disse o gerente de marketing Noa Weinpress, em Tel Aviv. “Deveria ter acontecido no dia 8 de outubro”, acrescentou, opinando que, como não ocorreu, que ocorra agora, depois de cem dias.
Até mesmo alguns dos maiores fãs de Netanyahu parecem resignados com a inevitável partida de um líder que ainda admiram.
“Acho que ele vencerá a guerra e deixará o cargo com dignidade”, disse Yossi Zroya, membro do partido Likud de Netanyahu.
O sentimento foi ecoado por outros apoiadores que passeavam pelo mercado de Ramla. “Netanyahu é um gênio. Ele não é culpado pelo que aconteceu”, disse Rafi Kimchi, um negociante de diamantes que veio da vizinha Herzliya. “Mas acho que ele está acabado.”