O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que tem a impressão de que Israel possui a “primazia” de não cumprir decisões tomadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), acrescentando que não vê explicação para o comportamento do país em sua ofensiva em Gaza que, sob pretexto de destruir o grupo militante islâmico Hamas, já matou milhares de crianças e mulheres, segundo autoridades palestinas.
“Me parece que Israel tem a primazia de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas”, disse Lula durante declaração à imprensa no Cairo ao lado do presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi.
Em sua fala, Lula ainda lamentou voltar ao Egito, país que visitou durante seu primeiro mandato na Presidência, sem poder discutir questões como o crescimento econômico mundial e a distribuição de renda, devido ao crescente conflito no Oriente Médio e a continuação da guerra na Ucrânia.
Ele apontou que as instituições multilaterais criadas para evitar os conflitos militares internacionais não estão sendo capazes de cumprir seu papel, o que exigiria uma reformulação de suas estruturas.
“O que é lamentável é que as instituições multilaterais que foram criadas para ajudar a solucionar esses problemas não funcionam. Por isso o Brasil está empenhado para que a gente consiga fazer as mudanças necessárias nos órgãos de governança global”, afirmou.
O presidente também voltou a pedir a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com a inclusão de mais países, o fim do direito de veto por parte de alguns membros e a presença de países que sejam “pacifistas” e não estimulem a guerra.
Lula reiterou seu pedido “urgente” por um cessar-fogo definitivo em Gaza para que seja possível a entrada de ajuda humanitária ao povo palestino, indicando que não haverá paz sem o estabelecimento de um Estado palestino reconhecido internacionalmente.
“Não haverá paz sem um Estado palestino convivendo lado a lado com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, disse.
O conflito entre Israel e Hamas começou em 7 de outubro, quando o grupo militante lançou um ataque contra o sul do território israelense, provocando a morte de pelo menos 1.200 pessoas e o sequestro de 250 reféns.
A retaliação de Israel tem, desde então, gerado o deslocamento de milhões de palestinos e uma crise humanitária no enclave. De acordo com autoridades de Gaza, mais de 28 mil pessoas já morreram devido à ofensiva israelense.
Israel chegou a ignorar em novembro um pedido do Conselho de Segurança da ONU por pausas a fim de permitir ajuda humanitária em Gaza, mas aceitou uma curta trégua ainda no fim do ano passado em troca da libertação de dezenas de reféns capturados pelo Hamas.