Se você está em busca de uma boa dica de investimentos, hoje não é o dia para ler esta newsletter. Porém, se deseja entender um pouco mais sobre um conceito importante sobre finanças, chegou no dia certo.
Era uma quarta-feira, 21h30, quando eu estava voltando para casa após um dia exaustivo no escritório. Podcasts, gravações para o YouTube e reuniões com representantes de algumas instituições financeiras tomaram praticamente todo o meu tempo naquele dia.
No meio da rodovia Castello Branco, uma luz amarela acendeu no painel do meu carro: “EPC”, e logo em seguida, “RPM limitado a 4.000”. Eu não sabia ao certo o que isso significava, mas não é preciso ser nenhum expert em veículos para saber que algo estava errado.
No dia seguinte, contatei a empresa com a qual tenho um contrato de carro por assinatura há aproximadamente 5 anos. Após levar o carro para a revisão, fui buscar o carro reserva.
É importante ressaltar que, ao longo desses 5 anos, eu migrei da assinatura de um Ônix, um modelo básico, para um modelo T-Cross da Volkswagen: um SUV, mais alto, automático, com todos os itens de segurança possíveis e um motor bem potente. Era tudo o que eu precisava para enfrentar as estradas todos os dias a caminho do escritório e de volta para casa.
Para minha desagradável surpresa, a empresa me disponibilizou um Voyage antigo, com a lataria bastante danificada, motor 1.0, câmbio manual e sem os itens de segurança que, para mim, são essenciais, principalmente quando se pega a estrada todos os dias.
Não vou entrar nos méritos do desrespeito e do péssimo atendimento oferecido pela empresa da qual sou cliente há muitos anos, mas sim destacar um fato curioso.
Quando eu tinha 25 anos, comprei meu primeiro carro: um Peugeot 206 do ano 2004. Naquela época, se você me mostrasse uma foto do Voyage que estou dirigindo hoje enquanto aguardo meu carro voltar da revisão, eu provavelmente ficaria muito feliz. Isso porque, apesar de não estar em condições tão boas, perto daquele Peugeot, ele está muito bem.
O problema surge quando o comparamos com meu carro atual, um T-Cross. Migrar do Peugeot para o Voyage foi uma maravilha. No entanto, fazer o mesmo do T-Cross para o Voyage é decepcionante. Percebe-se que o resultado é o mesmo? Estou dirigindo um Voyage, exatamente o mesmo carro.
Qual o motivo da diferença tão gritante na percepção?
O psicólogo israelense Daniel Kahneman explorou essa questão em seus estudos. Em vez de carros, ele utilizou dinheiro como objeto de análise. Kahneman observou algo interessante: a dor de perder dinheiro é maior do que a alegria de ganhá-lo. Ele chegou a essa conclusão ao perceber que pessoas que ganhavam R$ 400 ficavam mais felizes do que aquelas que ganhavam R$ 1.000 e logo em seguida perdiam R$ 600, terminando com os mesmos R$ 400. (Os valores não eram esses mas o raciocínio é o mesmo)
O resultado final é o mesmo, mas o nível de felicidade das pessoas é completamente diferente. Na minha visão, isso não se aplica apenas ao dinheiro, mas também a bens materiais e ao conforto.
Uma pessoa que sai de um apartamento de 50 m² para um de 80 m² sentirá uma alegria muito maior do que alguém que sai de um apartamento de 150 m² para um de 80 m² devido a algum problema. Novamente, o resultado é o mesmo, mas a sensação é muito diferente.
Isso se aplica a dinheiro, objetos e até experiências.
Se você nunca viaja e decide se hospedar em uma pousada simples na praia, provavelmente vai aproveitar a viagem. No entanto, se está acostumado a viajar para a praia e se hospedar em bons hotéis, sua percepção de felicidade ao se hospedar na mesma pousada simples será bem diferente.
Se você raramente sai para jantar e de repente é convidado para um restaurante simples, tende a apreciar a comida e o ambiente. Por outro lado, se você frequenta bons restaurantes com regularidade, não é qualquer lugar que vai te satisfazer.
Mas qual é o ponto, Guilherme? Qual a sua ideia ao trazer esse tópico no texto de hoje?
Uma das primeiras frases que ouvi de um dos meus chefes ao começar a trabalhar na mesa de operações foi: ‘O luxo de hoje é a necessidade de amanhã’. Essa frase significa: cuidado para não se acostumar com um luxo que você não tem certeza de poder manter de maneira sustentável. Em outras palavras, não se acostume com algo que pode comprometer seu futuro financeiro.
Pode parecer trivial, mas essa é a atitude mais comum entre pessoas que começam a ganhar mais dinheiro.
Recebeu um aumento? Carro novo.
Uma promoção? Viagem para hotéis ainda mais luxuosos.
Um bônus melhor? Mudança para uma casa maior.
Não há problema em querer melhorar sua qualidade de vida, principalmente quando o aumento da remuneração é fruto do seu esforço no trabalho. O problema está, de fato, em querer fazer isso sem que seu novo padrão de vida seja sustentável.
Se, por acaso, o próximo bônus não for tão bom, o que você fará? Mudará de casa? Trocará de carro? Deixará de viajar? Saiba que nenhuma dessas decisões é simples, e que a dor da perda é maior do que a felicidade do ganho.
É por isso que eu prefiro dar passos lentos e cautelosos. Isso significa que a mudança de casa, apartamento ou carro só acontece quando percebo que o patrimônio acumulado até então seria suficiente para sustentar esse estilo de vida, mesmo que eu perdesse o emprego e ficasse sem renda por um bom tempo.
Claro que ninguém vive a vida pensando no pior, mas viver esperando o melhor, estando preparado para o pior, trará uma tranquilidade que poucas pessoas podem dizer que sentem.
Lembre-se: Se acostumar com os confortos que o dinheiro pode trazer é fácil, o difícil é fazer o caminho inverso.
Nunca se esqueça, o luxo de hoje é a necessidade de amanhã.
Abraços
Guilherme Cadonhotto
Expresso renda fixa: O luxo de hoje é a necessidade de amanhã
Essa frase significa: cuidado para não se acostumar com um luxo que você não tem certeza de poder manter de maneira sustentável
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