A política econômica do Brasil vive uma certa “calmaria” que está prestes a chegar ao fim em um momento que pode ser “mais tenso do que o habitual”, avalia o sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, em um relatório mensal divulgado nesta terça-feira (9).
Segundo ele, a calmaria vem com indicadores de atividade que não são especialmente bons, mas não são ruins, com os adjetivos variando para o mercado de trabalho.
“Já a política macro não possui coloração muito definida, ao menos por ora. A monetária é mais para ortodoxa, por conta da autonomia do Banco Central e das metas para a inflação. Mas a fiscal não é bem heterodoxa, tampouco a soma das duas. Talvez seja a véspera de um embate clássico em governos populistas: tight money, loose fiscal”, pontua.
Tensão
Este momento pode ser prejudicado pela troca do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, eleito pela administração de Jair Bolsonaro. Vale lembrar, ainda, que a trajetória de queda dos juros pode estar perto do fim, sendo que Franco projeta uma parada após a próxima reunião de 8 de maio.
“Um processo de crowding out [quando o aumento dos gastos do setor público reduz os gastos do setor privado] pode ser mais tenso do que o habitual, sobretudo a partir do segundo semestre de 2024, por conta da definição do substituto de Roberto Campos Neto”. Para onde vamos? O ex-presidente do BC ressalta que a índole da política econômica na terceira presidência Lula permanece em processo de definição.
“Nem é uma política (fiscal) ortodoxa, a despeito das intenções declaradas, nem heterodoxa. Ao menos por ora. Nem gastança, nem austeridade. Não há propriamente superávit, nem déficit. Há intenções, hesitações e diferenças de opinião, mas só saberemos qual é a política fiscal ao final do exercício, feitas as contas do resultado. E não será um resultado planejado, mas o produto de forças contraditórias”, observa Franco.
Ele continua: “Não é bem o Congresso que pressiona na direção do keynesianismo, como no passado. O Congresso disputa recursos para suas emendas paroquiais, ou seja, almeja parcela maior sobre o total de gastos para alimentar gastos nas suas bases, cuja escala não é propriamente juscelinista. Não se trata propriamente de uma demanda por grandes obras com efeitos muito significativos sobre o aspecto geral da política fiscal. Nesse contexto, o Congresso não tem sido dominante, nem submisso no tocante à política fiscal”.
Ou seja, o economista projeta que fiquemos nisso: nem bom nem ruim, mas a véspera de alguma coisa, por muito tempo ainda. “O aggiornamento, ou a perestroika, da política econômica lulista ainda está para acontecer”, projeta Franco.
A palavra perestroika significa reconstrução e foi uma política introduzida por Mikhail Gorbachev na União Soviética, em 1986.