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Lula ainda prepara “perestroika econômica”, diz Gustavo Franco

“Um processo de crowding out [quando o aumento dos gastos públicos reduz os privados] pode ser mais tenso do que o habitual", diz Franco

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Presidente Lula durante visita às Obras da Ferrovia Transnordestina

A política econômica do Brasil vive uma certa “calmaria” que está prestes a chegar ao fim em um momento que pode ser “mais tenso do que o habitual”, avalia o sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, em um relatório mensal divulgado nesta terça-feira (9).

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Segundo ele, a calmaria vem com indicadores de atividade que não são especialmente bons, mas não são ruins, com os adjetivos variando para o mercado de trabalho.

“Já a política macro não possui coloração muito definida, ao menos por ora. A monetária é mais para ortodoxa, por conta da autonomia do Banco Central e das metas para a inflação. Mas a fiscal não é bem heterodoxa, tampouco a soma das duas. Talvez seja a véspera de um embate clássico em governos populistas: tight money, loose fiscal”, pontua.

Gustavo Franco
Gustavo Franco, ex-presidente do BC e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos (Imagem: Divulgação/ PSDB)

Tensão

Este momento pode ser prejudicado pela troca do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, eleito pela administração de Jair Bolsonaro. Vale lembrar, ainda, que a trajetória de queda dos juros pode estar perto do fim, sendo que Franco projeta uma parada após a próxima reunião de 8 de maio.

“Um processo de crowding out [quando o aumento dos gastos do setor público reduz os gastos do setor privado] pode ser mais tenso do que o habitual, sobretudo a partir do segundo semestre de 2024, por conta da definição do substituto de Roberto Campos Neto”. Para onde vamos? O ex-presidente do BC ressalta que a índole da política econômica na terceira presidência Lula permanece em processo de definição.

“Nem é uma política (fiscal) ortodoxa, a despeito das intenções declaradas, nem heterodoxa. Ao menos por ora. Nem gastança, nem austeridade. Não há propriamente superávit, nem déficit. Há intenções, hesitações e diferenças de opinião, mas só saberemos qual é a política fiscal ao final do exercício, feitas as contas do resultado. E não será um resultado planejado, mas o produto de forças contraditórias”, observa Franco.

Ele continua: “Não é bem o Congresso que pressiona na direção do keynesianismo, como no passado. O Congresso disputa recursos para suas emendas paroquiais, ou seja, almeja parcela maior sobre o total de gastos para alimentar gastos nas suas bases, cuja escala não é propriamente juscelinista. Não se trata propriamente de uma demanda por grandes obras com efeitos muito significativos sobre o aspecto geral da política fiscal. Nesse contexto, o Congresso não tem sido dominante, nem submisso no tocante à política fiscal”.

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Ou seja, o economista projeta que fiquemos nisso: nem bom nem ruim, mas a véspera de alguma coisa, por muito tempo ainda. “O aggiornamento, ou a perestroika, da política econômica lulista ainda está para acontecer”, projeta Franco.

A palavra perestroika significa reconstrução e foi uma política introduzida por Mikhail Gorbachev na União Soviética, em 1986.

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