A espanhola Acciona decidiu reduzir sua presença no setor de energia renovável no Brasil devido a dificuldades para viabilizar novos projetos de geração nos últimos anos, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
O redirecionamento estratégico, pouco mais de dois anos após a companhia ter decidido apostar no mercado brasileiro de geração, ocorre em uma conjuntura difícil para rentabilizar novos parques renováveis, dados os preços de energia em baixa, custos com dívida e equipamentos em alta, além de questões pontuais como dificuldade de conexão com a rede de transmissão.
Uma equipe de 40 pessoas do time de energia renovável no Brasil será reduzida para “cinco ou seis” funcionários. Os remanescentes vão focar em estudos de projetos e acompanhar as condições de mercado para avaliar eventual retomada da aposta da companhia, de acordo com uma fonte.
Segundo essa pessoa, que falou na condição de anonimato, devido à sensibilidade do tema, a carteira de mais de 1 gigawatt (GW) de projetos renováveis que a Acciona possui no Brasil, principalmente da fonte eólica, deverá ser devolvida aos empreendedores originais, uma vez que a companhia não conseguiu tirar os projetos do papel devido à baixa rentabilidade e riscos associados.
Procurada, a Acciona afirmou que, para se adaptar às condições atuais do mercado, a filial Acciona Energía decidiu reestruturar seu negócio no Brasil, “focando sua atividade no desenvolvimento de projetos e na oferta de serviços energéticos”.
“O Brasil continua sendo um país chave para a Acciona como um todo, e para a Acciona Energía em particular”, acrescentou a empresa.
Ao final de 2021, a Acciona assinou um acordo com a Casa dos Ventos para a aquisição de dois projetos eólicos em desenvolvimento, o que representou a entrada a companhia no setor de renováveis no Brasil.
Desde então, o cenário para empreendimentos “greenfields” de eólica e solar se tornou mais desfavorável no Brasil, principalmente pela queda dos preços da energia no mercado livre, motivada por uma recuperação dos reservatórios das hidrelétricas –principal fonte da matriz nacional– e pela perspectiva de sobreoferta de energia no país no médio prazo.
Baixo retorno
Os preços em baixa desestimulam contratações de energia de longo prazo por parte de consumidores, o que dificultou o fechamento de contratos-âncora que viabilizam novos projetos. Os empreendedores passaram a ter dificuldade de “fechar a conta” em meio a custos mais elevados com equipamentos e dívida e outras questões regulatórias do setor elétrico.
Uma das fontes apontou ainda a elevada competitividade do mercado brasileiro de renováveis, com grandes companhias nacionais e multinacionais já instaladas há bastante tempo no país.
“O cenário não é o melhor para quem quer entrar… Tem uma situação bastante depreciada do ponto de vista de retorno de investimento aqui, e isso não tem como melhorar muito nos próximos meses, quem sabe até nos próximos um ou dois anos.”
De acordo com outra fonte, a companhia deverá se concentrar mais em outros segmentos de negócios que atua no Brasil, como as áreas de construção e serviços, concessões e novos investimentos em saneamento.
A Acciona tem sido ativa no mercado brasileiro com o braço de infraestrutura, com o qual participou dos últimos leilões de transmissão de energia, e em transporte e mobilidade, tendo disputado o certame de rodovias em São Paulo desta terça-feira.