Gilberto comenta: “Navarro, tenho 68 anos, três filhos e sou aposentado. Todos os meus filhos têm mais de 40 anos e ainda dependem da minha aposentadoria e empréstimos para viverem. Eles moram com suas famílias, mas sempre sou eu quem precisa emprestar dinheiro para pagarem cartão de crédito e outras despesas. Queria que escrevesse algo para eles. Obrigado”.
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Quando o dinheiro “fica mais caro”. Ou seja, quando os juros do crédito sobem e os produtos sobem de preço (inflação), as pessoas compram menos.
Em outras palavras, o orçamento aperta e as famílias geralmente despertam para a importância do planejamento financeiro e do cuidado com as finanças.
O cenário atual é bem típico neste sentido. A aquisição via crédito vê números negativos em relação aos níveis vistos no ano passado.
Por outro lado, os saques da caderneta de poupança aumentaram significativamente para cobrir despesas e a renegociação de dívidas virou prioridade.
Uma exceção, no entanto, chama a atenção. O crédito consignado foi a única modalidade de empréstimos que registrou alta em relação aos períodos anteriores.
Seus clientes mais fiéis são os aposentados, gente que abre mão de parte de sua renda para tomar dinheiro emprestado para, em grande parte, ajudar familiares.
Até quando filhos devem ser dependentes dos pais?
A pergunta acima não tem uma resposta certa, e eu não seria maluco de tentar respondê-la com algum número mágico.
Proponho, então, mudar a maneira de olhar para a questão. A independência em relação aos pais não pode ser considerada uma atitude de amor e agradecimento?
Leio bastante sobre formação de filhos, educação para princípios e valores e, principalmente, legado.
Todos os especialistas e grandes exemplos neste sentido são unânimes em afirmar que o principal a se desenvolver nas crianças e jovens é a autoconfiança. Claro, balanceada com a curiosidade e resiliência.
Dito de outra forma, é importante “ensinar os filhos a falhar”, como diz Jean-Pierre Lebrun. E, ao mesmo tempo, incentivá-los a manter a cabeça erguida, dispostos a enfrentar novos desafios e criar suas próprias oportunidades.
Não parece algo fácil, mas a negligência neste sentido pode criar problemas mais graves no futuro.
Futuro? Parece longe, não é mesmo? Para você, talvez… Futuro que já é presente para muitos pais, conforme comentei no início.
Aposentados e aposentadas que precisam pegar dinheiro emprestado, sempre em seu nome, para sustentar filhos adolescentes de 40, 50 anos – e farão isso enquanto forem vivos.
A relação de dependência é delicada e tem base emocional
Você já viu pais abandonarem seus filhos diante de problemas? A situação financeira delicada é um dos principais causadores de conflitos entre pais e filhos adultos.
De fato, muitas vezes desencadeia situações graves de dependência disfarçadas no objetivo genuíno de diminuir o atrito e manter a harmonia.
Não raro, vejo pais assumirem as despesas dos filhos adultos (muitos deles casados, com filhos e mais de 40 anos) simplesmente para que o dinheiro não seja razão de desentendimento e distanciamento. É uma troca aparentemente honesta, feita a partir do simples desejo de ser uma “família normal e feliz”, mas com desdobramentos incontroláveis.
Não adianta, o resultado dessa “troca” costuma ser desastroso para todos. Os pais frequentemente se complicam, veem seus nomes se “sujarem”, além de abrirem mão de sua própria vida (desejos pessoais, supérfluos e gastos diversos), enquanto os filhos permanecem imaturos e emocionalmente instáveis (uma combinação perigosa!).
Se você ama mesmo seus filhos, pare de fazer tudo por eles!
É complicado dizer isso, mas é óbvio que adultos dependentes são geralmente fruto de uma formação fundada na servidão e dependência.
Casos de filhos cujas vontades sempre foram atendidas e que nunca precisaram lidar com a frustração são os mais comuns e um “prato cheio” para um futuro de exigências sem limites (e sem fim).
Como pai de primeira viagem que sou, arrisquei-me em um texto-resumo sobre três atitudes perigosas na educação dos filhos e peço que você leia e veja se concorda. O texto é polêmico, mas porque entendo que só assim abriremos espaço para uma discussão adulta sobre legado.
De forma objetiva, creio que como pais devemos confiar mais na capacidade dos filhos, mas sem jogar neles expectativas ou cobrar-lhes resultados que nós, durante nossa fase produtiva ou nos nossos sonhos, não alcançamos.
Ao mesmo tempo, é preciso dar a dimensão certa de responsabilidade e cidadania, para que também não pensem que a vida será sempre perfeita, ao estilo “fazer o que gosta” e “ser feliz”.
Falar é fácil
Escrever é muito mais fácil que fazer, você está certo ao pensar assim nesta altura do texto. É possível que nenhum pai assuma ser super protetor porque faz isso com as melhores intenções e com muito amor.
Também por isso o tema torna-se tão delicado – o que aumenta a importância de reflexões e mudanças de comportamento.
Um bom começo talvez seja parar de fazer tudo o que o(a) filho(a) pede, na hora em que ele(a) pede e do jeito que ele(a) quer.
Todos temos que momentos de solidão, problemas para lidar e resolver, bem como dilemas e decisões a serem tomadas. Todos precisamos ter responsabilidades.
Entendo que como pais, nosso papel é amparar nossos filhos diante de todos esses desafios, mas deixando-os livres para escolher e, principalmente, lidar com as consequências dos caminhos escolhidos.
E, claro, procurar dedicar tempo de verdade às atividades ao lado deles em vez de tentar “comprar” essa ausência anos depois (isso simplesmente não funciona!).
Conclusão
A motivação de escrever um texto mais profundo e pessoal surgiu de uma constatação cruel: pais aposentados vivendo dias complicados e afundando-se em dívidas para manter o padrão de vida de seus filhos, muitos deles com mais de 40 anos, casados e com filhos (o que significa bancar também os netos!?).
Infelizmente, esta realidade é muito comum aqui e no mundo. O problema é que no Brasil temos os juros mais altos do planeta e em pouco tempo muitos destes idosos terão seus nomes negativados e/ou passarão por problemas financeiros; viverão dias horríveis, mas sempre em silêncio, angustiados e temorosos de não serem capazes de prover segurança para seus filhos.
Deixo, portanto, meu convite para que a nova geração de pais não cometa o clássico erro de confundir amor com dependência e amizade com responsabilidade. Pais precisam amar seus filhos, ensinando-lhes princípios e valores associados ao trabalho, resiliência, persistência, curiosidade e compaixão.
Que tenhamos menos pais do tipo “melhores amigos” e mais pais de verdade. Ou isso ou continuaremos presenciando filhos transformando seus pais em eternos provedores, criando neles a sensação de que nunca foram pais suficientemente bons, o que machuca muito a alma e o bolso desses pais – e eles não merecem isso!
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