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Dinheirama Entrevista: Elvira Cruvinel, Chefe do Departamento de Educação Financeira no Banco Central do Brasil

por Conrado Navarro
3 min leitura
Dinheirama Entrevista: Elvira Cruvinel, Chefe do Departamento de Educação Financeira no Banco Central do Brasil

Vivemos um momento especial no país, com diversas iniciativas de educação financeira pautadas, organizadas e patrocinadas por organizações/entidades ligadas ao sistema financeiro do país e governo federal. O caso do Banco Central do Brasil é um exemplo muito positivo e que eu gostaria de compartilhar hoje com você, caro leitor.

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Conversei com Elvira Cruvinel Ferreira sobre isso. Elvira é Chefe do Departamento de Educação Financeira (Depef) no Banco Central do Brasil, Doutora em Administração (EBAPE/FGV), mestre (EBAP/FGV) e bacharel (EAESP/FGV) em Administração Pública.

Elvira também é autora do livro “Responsabilidade Social em instituições financeiras” (Elsevier, 2008), coordenadora dos livros Governança Cooperativa (Banco Central, 2009) e “Perspectivas e Desafios para Inclusão Financeira no Brasil: visão de diferentes atores” (Banco Central, 2009), além de diversos capítulos de livros e artigos acadêmicos.

Conversamos sobre as iniciativas apoiadas pelo Banco Central e também sobre como ele vê a educação financeira Brasil afora. Confira nossa conversa:

Elvira, como você enxerga a educação financeira do brasileiro nos dias atuais? É possível dizer que estamos melhorando neste sentido? Como avaliar essa evolução?

Elvira Cruvinel: Podemos afirmar que o nível de educação financeira da população brasileira é baixo. Chegamos a essas conclusões com base em três pesquisas: o Indicador de Educação Financeira (IndEF), realizada pela Serasa Experian e Ibope Inteligência em 2013 e 2014 (que a partir de 2015 será feita anualmente), a Pesquisa de Educação Financeira do SPC Brasil, apresentada em janeiro de 2014, e a Pesquisa Nacional do Grau de Educação Financeira da População Brasileira, promovida em 2008 pelo Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (Coremec).

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O IndEF permite acompanhar as variações no nível de educação financeira. De 2013 para 2014, a nota média da população se manteve em 6,0, mas houve piora entre os jovens. E, em 2014, 81% dos pesquisados tiveram nota inferior a 7. Nota-se que a educação financeira melhora à medida que as pessoas ficam mais velhas.

Já a Pesquisa de Educação Financeira do SPC evidencia que os mesmos 81% têm pouco ou nenhum conhecimento sobre suas finanças pessoais, e esses resultados independem da renda dos indivíduos.

A Pesquisa Nacional sobre o Grau de Educação Financeira da População Brasileira aponta na mesma direção: o nível é baixo.

A pesquisa apresenta resultados curiosos: apesar de 25% dos entrevistados terem restrições cadastrais, 44% terem pedido dinheiro emprestado nos últimos meses e 33% pagarem apenas o valor mínimo da fatura do cartão crédito quando a situação aperta, 52% se autodenominaram “pessoas poupadoras”.

A pesquisa também indica que 69% têm alguma planilha de acompanhamento dos gastos e 66% guardam os comprovantes de compras. Ou seja, existe uma percepção do que é certo e do que é errado na hora de gastar, contudo ante a pressão das necessidades e urgências do dia-a-dia, essa percepção é prejudicada.

Há poucas semanas vivemos, no Brasil todo, a 2a. Semana da Educação Financeira, com atividades ligadas ao tema espalhadas por todo país. Qual o balanço do evento? Quais foram os principais feedbacks e quais as lições para os próximos anos?

E. C.: O balanço é muito positivo. Se olharmos apenas os dados do Banco Central e os parceiros convidados pelo BC, em 2014 promovemos 54 eventos com público total de 5.000 pessoas em 11 cidades. Em 2015, foram realizados 151 eventos e quase 14.000 pessoas em 32 cidades. Ou seja, quase triplicamos o público.

E quando olhamos para os dados preliminares de todas as entidades representadas no Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF), temos 505 iniciativas (170 em 2014), mais de 55 mil pessoas atingidas diretamente (cerca de 10.000 em 2014) em noventa municípios de 21 unidades da Federação.

Queremos multiplicar ainda mais esses números nas edições futuras da Semana Nacional de Educação Financeira, e trabalharemos para que isso aconteça, já que o assunto está ganhando relevância.

Este ano o CONEF realizou a Semana ENEF simultaneamente à Global Money Week, orientada a crianças e jovens, e que promoveu eventos em 122 países, com a participação de 78 autoridades nacionais de educação financeira.

A demanda por nossos cursos, palestras e materiais aumentou muito, o que consideramos um feedback positivo. Também temos recebido muitos agradecimentos e elogios pelo esforço desenvolvido para a produção e divulgação de iniciativas voltadas para a educação financeira da população.

Por outro lado, há também críticas no sentido de que temos que ampliar a oferta e o alcance das ações. A principal lição aprendida é que a multiplicação das ações deve acontecer por meio de parceria.

Assim, temos que nos aproximar ainda mais de potenciais parceiros para estimular a promoção de iniciativas de educação financeira durante a Semana ENEF e também fora dela. Como afirmou o Presidente Alexandre Tombini, em dezembro passado: “Precisamos também aperfeiçoar a parceria público-privada em prol da educação financeira e, de forma mais abrangente, continuar avançando, com segurança, na introdução de novas tecnologias de acesso e facilitação das transações financeiras”.

Quais são as iniciativas de educação financeira com envolvimento direto do Banco Central? Como se dá o processo de evolução nessa participação e por que, na sua opinião, é fundamental contar com esse apoio oficial?

E. C.: Primeiramente, o Banco Central integra o Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF), alternando sua presidência com mais quatro instituições. O Banco Central também atua permanentemente como Secretaria Executiva do CONEF.

O CONEF é responsável por definir planos, programas, ações e coordenar a execução da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). A ENEF foi instituída pelo Decreto 7.397, de 22.12.2010, com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do Sistema Financeiro Nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores.

No âmbito da ENEF, são desenvolvidas diversas iniciativas, como o Programa Educação Financeira nas Escolas – Ensino Médio e Ensino Fundamental – e a Semana Nacional de Educação Financeira. Mais informações sobre essas atividades podem ser encontradas em www.vidaedinheiro.gov.br e www.semanaenef.gov.br.

Além da atividade ligada ao CONEF, de caráter transversal, o Banco Central também desenvolve o seu programa setorial: o Cidadania Financeira, voltado para a promoção da educação financeira e o acesso a informações sobre o Sistema Financeiro Nacional, e que visa a contribuir para a proteção dos consumidores de produtos e serviços financeiros e a melhorar a qualidade do relacionamento do cidadão com as instituições do Sistema Financeiro.

O Programa Cidadania Financeira desenvolve, dentre outras ações:

  • Uma série de produtos (palestras para o público em geral; publicações como o Caderno de Educação Financeira, o Glossário Simplificado de Termos Financeiros, e duas séries de folhetos sobre Gestão de Finanças Pessoais e Relacionamento do Cidadão com o SFN; vídeos animados; a Calculadora do Cidadão, um aplicativo que permite simular situações do cotidiano financeiro);
  • As ações educacionais do Museu de Valores do Banco Central; e
  • Projetos em parceria com outras instituições, como o Educação Financeira Cidadã, Educação Financeira Cooperativa e curso de Gestão de Finanças Pessoais a distância desenvolvido com a ESAF e já disponível no site do Programa: http://cidadaniafinanceira.bcb.gov.br.

O projeto Educação Financeira Cidadã, por exemplo, visa a promover o empoderamento financeiro da população brasileira, notadamente dos indivíduos em situação de pobreza e extrema pobreza, por meio de educação financeira com instrumentos audiovisuais.

O Programa Cidadania Financeira é o resultado da evolução da abordagem do Banco Central à Educação Financeira, iniciado em 2003, com o objetivo de disseminar conhecimentos econômico-financeiros, de forma que se estabelecessem condições para que a sociedade refletisse a respeito do papel do órgão e dos agentes financeiros e da responsabilidade de cada um no planejamento e na administração da economia.

Levando em conta o aumento da importância do tema na sociedade, em 2012, o Banco Central criou a Área de Relacionamento Institucional e Cidadania e, dentro de sua estrutura, o Departamento de Educação Financeira, com o objetivo principal de desenvolver e coordenar ações voltadas para a Educação e a Inclusão Financeira.

Essa institucionalização é importante para possibilitar a promoção da educação financeira de acordo com uma série de diretrizes balizadas pelo interesse público, não sem considerar a heterogeneidade e as dimensões continentais do País, bem como a necessidade de participação de diferentes atores, o que está totalmente aderente às diretrizes definidas no decreto que instituiu a ENEF e o CONEF.

O Banco Central lançou um site muito interessante chamado Cidadania Financeira. Conte-nos um pouco mais sobre o que o  interessado em educação financeira encontrará por lá. Vi que existem ferramentas, vídeos, textos, parece bastante completo.

E. C.: O cidadaniafinanceira.bcb.gov.br reúne os conteúdos do programa Cidadania Financeira, entre eles, destaco:

  • Curso online gratuito sobre gestão de finanças pessoais, desenvolvido em parceria com a Escola de Administração Fazendária (Esaf);
  • Série “Eu e meu dinheiro”, com cinco vídeos educativos de aproximadamente 5 minutos cada, que tratam de maneira lúdica sobre as formas de lidar com o dinheiro e fazer escolhas financeiras. Cada vídeo vem acompanhado de um guia de discussão impresso, um vídeo para auxiliar professores e instrutores no desenvolvimento do tema e o link “Já parou pra pensar?”, com perguntas feitas pelo ator do episódio, levando o público à reflexão;
  • Série de vídeos com personagens animados sobre temas de maior interesse dos usuários do SFN, coletados a partir do contato do cidadão com o serviço do BCB de atendimento ao cidadão, com assuntos como: portabilidade de crédito, empréstimo consignado, poupança, circulação de moeda e portabilidade de salário;
  • Caderno de Educação Financeira com Foco na Gestão de Finanças Pessoais. um livro gratuito para aqueles que desejam melhorar a gestão das suas finanças pessoais.

O site apresenta o conteúdo por temas como “Nossa Relação com o Dinheiro”, “Orçamento Pessoal ou Familiar”, “Crédito e Gestão de Dívidas”, “Relacionamento com o SFN”, entre outros.  E também indica quais conteúdos cada usuário pode acessar primeiro, dependendo do seu perfil: “Estou endividado”, “Quero me planejar” e “Quero aprender a poupar e investir”, entre outros.

Também disponível no site, está a Política de desenvolvimento, uso e distribuição de conteúdos e produtos do Programa Cidadania Financeira. Convido potenciais multiplicadores a conhecer as orientações e regras para usar os nossos materiais do Programa Cidadania Financeira em ações de Educação Financeira.

Como você enxerga as iniciativas de educação financeira independentes e o papel das próprias instituições financeiras enquanto formadoras de opinião e criadoras de conteúdo? O nosso cidadão está bem servido de material para aprendizado?

E. C.: Acredito que todos os setores da sociedade são importantes para a promoção da educação financeira e, consequentemente, do exercício pleno da cidadania.

Dentre as diretrizes estabelecidas no decreto que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, às quais o Banco Central se alinha, pode-se destacar a atuação em âmbito nacional, a descentralização da execução das atividades, e, principalmente, a formação de parcerias com órgãos e entidades públicas e instituições privadas.

Por outro lado, também é essencial zelar pela prevalência do interesse público e pela gratuidade das ações de educação financeira chanceladas pela Estratégia Nacional. Por isso, o Comitê Nacional de Educação Financeira publicou recentemente edital para concessão do Selo ENEF, que reconhecerá iniciativas de educação financeira em conformidade com as diretrizes da Estratégia Nacional.

Em 2014, foi apresentado o Mapeamento Nacional de Iniciativas de Educação Financeira, desenvolvido no segundo semestre de 2013 com a coordenação da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), organização da sociedade civil de interesse público que serve como instância executiva da ENEF.

Nesse mapeamento, foram identificadas 803 iniciativas, aumento de mais de 700% em relação a trabalho correlato (embora com universo mais restrito) desenvolvido em 2010. Dentre elas, 317, ou quase 40%, puderam ser mais bem estudadas, possibilitando resumos analíticos e quantitativos. Com isso, foi possível observar e quantificar o aumento da disponibilidade de material sobre educação financeira no Brasil.

Elvira, muito obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo trabalho à frente da educação financeira no Banco Central. Por favor deixe uma mensagem final para os interessados na área e como eles podem acompanhar as iniciativas do BC neste sentido.

E. C.: Agradeço pela oportunidade e parabenizo o Dinheirama, assim como todos os interessados no assunto, pelo trabalho realizado na promoção da educação financeira, essencial para o fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional e para o exercício pleno da cidadania.

Trata-se de um trabalho que só poderá ser executado com sucesso se realizado por toda a sociedade: instituições públicas e privadas, de todos os setores.  Reforço aqui a informação de que o Banco Central conta com o site http://cidadaniafinanceira.bcb.gov.br, recentemente lançado e que concentra todos os conteúdos do programa.

Se alguém tiver alguma dúvida ou comentário, pode entrar em contato por meio da área “Fale Conosco” do site. Obrigado e até a próxima.

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