Muitas pessoas passam a enfrentar problemas financeiros após realizarem um ato que, em um primeiro momento, parece ser o mais correto e apropriado: emprestar dinheiro para alguém da família ou para um amigo. De acordo com o dicionário on-line Michaelis, emprestar significa “confiar, dar alguma coisa a outrem com a obrigatoriedade de restituição: Emprestou um livro ao colega. Emprestei-lhe várias quantias”. Na prática, sabemos que emprestar pode ser sinal de dor de cabeça e chateação. Em resumo, ao emprestar valores nos expomos a duas situações problemáticas:
- Quem precisa de dinheiro emprestado, pela dificuldade que passa, terá muita dificuldade em honrar mais este compromisso assumido. Aceite que o risco de calote é alto;
- A segunda situação acontece como conseqüência da primeira: muitas amizades verdadeiras e de muito tempo terminam por conta de um ou mais empréstimos sem retorno.
Não empreste, doe!
Ao emprestar dinheiro a alguém nós combatemos um efeito. Podemos ajudar resolver um problema emergencial que, de fato, pode não representar uma solução definitiva para a vida do ente ou amigo que precisa. Se você tem mesmo condições e disponibilidade, prefira doar o dinheiro a emprestá-lo. Porque uma amizade verdadeira não tem preço e não vale a pena correr o risco de perdê-la.
Na verdade, o ideal que deve ser passado e ensinado a um amigo em dificuldades é a importância e necessidade de educação financeira. No longo prazo, isso é mais importante que qualquer quantia – o acesso à boa informação acaba sendo mais útil do que dinheiro. Ajude-o a montar uma estratégia para sair das dívidas. Como?
- Priorizando o que deve ser pago;
- Mostrando o caminho correto e razão para o esforço;
- Ajudando-o a fazer um raio-x de suas despesas;
- Anotando, dia após dia e por no mínimo 3 meses, todas as despesas – desde as pequenas até as maiores;
- Analisando os números ao seu lado, com paciência.
Assim, seu amigo perceberá o quanto sua amizade é leal. De posse dos números, finalmente você pode ajudar seu amigo a voltar a sonhar. Sonhar de forma mais interessante, com a chance de realização e com as possibilidades que se abrirão através do forte trabalho da educação financeira.
Aprendizado mútuo, alegrias compartilhadas
Serão momentos de troca constante. Além de ajudar seu familiar ou amigo, você aprenderá muito com as situações e desafios decorrentes desta experiência. Mesmo conseguindo pagar as dívidas, deixe claro a importância de se pensar no futuro. Os objetivos precisam ser cultivados e, para isso, no mínimo 10% do orçamento devem ser reservados mesmo antes do pagamento de qualquer conta.
Aja com sinceridade e honestidade. Mostre que o orçamento deve se encaixar dentro desse novo padrão e que o estudo dos pequenos gastos feitos antes será a chave para independência financeira futura. Insisto, mude a vida de um amigo deixando bem claro que pelo menos 10% das receitas devem ser poupadas antes do pagamento de qualquer outra despesa.
Importante lembrar que os compromissos precisam ser honrados, mas que a negociação realizada com paciência e inteligência (inclusive utilizando o tempo como aliado) pode trazer ótimos resultados. Deixe que o credor também se preocupe em receber e crie uma boa oportunidade de pagamento.
Transforme um amigo endividado em investidor
Ao ajudar seu amigo endividado o levará através de um novo caminho. Mostrará que com um controle mais apurado, logo ele poderá chegar ao patamar de investidor – quando só 10% será pouco perto do seu potencial como investidor. Com o tempo, os sonhos se renovarão e surgirão novos objetivos. Tudo porque você deu mais do que dinheiro. Deu esperança, boa vontade e educação financeira.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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