O dólar (USDBRL) caía nos primeiros negócios desta terça-feira depois que a ata da última reunião de política monetária do Banco Central mostrou que todos os membros da diretoria defenderam a adoção de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, apesar da decisão dividida sobre o ritmo de corte da Selic.
Às 9h55 (de Brasília) o dólar à vista caía 0,48%, a 5,1268 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento recuava 0,52%, a 5,1385 reais na venda.
Na última quarta-feira, o Copom anunciou uma redução no ritmo de afrouxamento monetário ao fazer um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, para 10,50% ao ano, após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto na taxa. Também foi abandonada a indicação para passos futuros da política monetária.
Abalando o apetite por risco nos mercados domésticos, a decisão sobre o corte foi tomada com divergência dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defenderam a manutenção do corte mais forte nos juros básicos, de 0,50 ponto.
Essa dissidência levantou temores de que a diretoria do BC poderia se mostrar menos ortodoxa a partir de 2025, quando a maior parte da diretoria será formada por indicados do governo.
No entanto, a ata desta terça-feira mostrou cautela de todos os diretores do Banco Central, mesmo nos indicados pelo atual governo, que justificaram seu voto num corte mais intenso da Selic com a vontade de não desrespeitar a orientação futura anterior do BC, de que provavelmente reduziria os juros em 0,50 ponto em maio.
“Acredito que houve um alívio geral na principal preocupação do mercado: o peso do voto político dentro do comitê”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercado do Ebury Bank. Na visão dele, “os principais riscos contra o real (estão) se dissipando, e a moeda deve se estabilizar a partir daqui”.
Na mesma linha, o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, disse que a ata “sugere que o balanço do Copom é, em geral, mais cauteloso do que se presumia imediatamente após a reunião”, acrescentando que isso poderá proporcionar algum apoio ao real.
Num geral, uma Selic mais alta no Brasil torna o real mais atraente para uso em estratégias de “carry trade”, em que investidores tomam empréstimos em países de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercados mais rentáveis, de forma a lucrar com o diferencial de juros.
Desta forma, a perspectiva de um Copom mais brando a partir do ano que vem jogaria contra o real num prazo mais longo. Devido a esse risco, a moeda norte-americana acumulou ganho de 1,75% na semana passada.
Enquanto isso, no exterior, o dólar rondava a estabilidade contra uma cesta de moedas fortes e os rendimentos dos títulos norte-americanos avançavam, após dados mostrarem que os preços ao produtor dos Estados Unidos aumentaram mais do que o esperado em abril.
Após os dados de inflação desta terça-feira, os investidores passaram a ver cerca de 60% de probabilidade de um corte nos juros pelo Federal Reserve em setembro, contra chance de 64% observada antes.
Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a 5,1515 reais na venda, em leve queda de 0,12%.