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Se você ama seu filho, não escolha a profissão dele (pois é, não é tão simples)

por Conrado Navarro
3 min leitura
Se você ama seu filho, não escolha a profissão dele (pois é, não é tão simples)

Raquel comenta: “Navarro, uma das discussões que sempre surgem em casa diz respeito à escolha da profissão de nossos filhos. Eu insisto na importância de escolherem um caminho que seja capaz de oferecer retornos financeiros interessantes, mas sou muito criticada por aqueles que defendem a realização em primeiro lugar. Confesso que parte desse pensamento vem da minha frustração por não enxergar valorização no trabalho que faço atualmente. O que você acha disso tudo? Obrigada”.

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Você já deve ter ouvido falar de alguém que começou um determinado curso na faculdade e, no meio do caminho, percebeu que não era bem o que desejava. Essa pessoa abandonou o curso e partiu para outro rumo, buscando (ou não) outro curso que tivesse mais a ver consigo e com aquilo que gostava. História comum, não é mesmo?

Outro caso similar é o daquele colega jovem que, depois trabalhar por alguns anos em determinada função, promove uma mudança radical de carreira e começa a trabalhar com algo completamente diferente, de repente até mesmo iniciando seu próprio negócio. Já ouviu casos assim?

A hora de decidir o que fazer da vida

Se analisarmos estes casos, perceberemos que muitos jovens não possuem maturidade suficiente para escolher, tão cedo, aquilo vão fazer pelo resto de suas vidas – e essa decisão normalmente ocorre quando chega a época da faculdade.

Com pouca idade e sem experiências nas áreas de interesse, esses jovens se sentem inseguros para a tomada de decisão que poderá mudar o rumo de suas vidas. Como há uma pressão social e familiar para que sigam adiante, terminam escolhendo de forma precipitada e muitas vezes enviesada (por dinheiro, tradição ou ambos).

Para o resto de nossas vidas? Quem disse?

O resultado de uma decisão precipitada em relação ao curso universitário é que alguns jovens se arrependem e desistem de seus cursos no meio do trajeto, enquanto outros seguem até o final, mas não encontram realização quando começam a trabalhar. Em qualquer dos casos, haverá perdas financeiras e emocionais.

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Mas, vem cá, quem disse que a escolha da profissão precisa ser algo para o resto das nossas vidas? Pensar assim é manter uma mentalidade restrita e típica do início do século XX, quando a expectativa de vida das pessoas não passava muito de 50 anos. E pai escolher a profissão do filho, é normal isso? Sobre decidir por eles, escrevi um texto bem polêmico que merece sua leitura (clique aqui).

Hoje em dia, arrisco-me a dizer que estamos diante de uma oportunidade ímpar: poderemos desenvolver duas, três ou mais carreiras ao longo de nossas vidas. Isso significa que no decorrer dos anos talvez desejemos cursar mais de uma universidade, abrir uma empresa, trabalhar no mercado corporativo, mudar de área, enfim, acho meio estranho procurar por algo de que se ocupar pela vida inteira quando o curso da vida muda bastante.

O papel dos pais

Muitos pais, movidos pelo comodismo, acabam querendo decidir o caminho de seus filhos. Outros tentam realizar os seus próprios sonhos através de seus herdeiros. Seja por estes ou por outros motivos, o resultado final dificilmente é positivo.

Muito embora algumas escolhas de carreira possam fazer sentido sob o ponto de vista financeiro, afinal de contas escolher a mesma profissão dos pais ou aquela que paga salários melhores realmente facilita as coisas no começo, há um enorme peso emocional que deverá ser administrado no futuro – e ele pode soterrar expectativas e talentos de forma brutal.

Assim, entendo que os pais devem assumir o papel de facilitadores, ajudando seus filhos a encontrar seus próprios caminhos. Como? Explorando os dons e atributos dos filhos desde a infância, bem como estimulando-os a participar do dia a dia de diversas profissões e apresentando-os para colegas de diversas áreas, preferencialmente os bem-sucedidos (e eles existem em todos os campos).

Também gosto de pensar nos pais como seres observadores e capazes de captar o interesse dos filhos, mas certos de que estes também podem se alterar ao longo do tempo. Assim, acredito que a ferramenta essencial que devemos transmitir adiante é menos relacionada à profissão e mais ao trabalho: falhar será parte do processo e aprender lidar a com a frustração é a chave do processo.

Resiliência, persistência, curiosidade e foco são as características que os pais devem estimular nos filhos. A ideia é explicar e mostrar que é mais importante fazer bem-feito, com dedicação e cuidado, que escolher o melhor caminho. Além disso, se algo der errado (e vai dar), a saída é recomeçar, se adaptar, mas nunca desistir de caminhar.

A propósito, você já ouviu falar em Geração Canguru? São os filhos que passam cada vez mais tempo morando com os pais, alguns deles até os 30, 40 e 50 anos. Clique aqui para entender este fenômeno e ler mais sobre o tema.

Construindo um ser humano empreendedor

Outro fator importante nesta relação é que os pais estimulem seus filhos a adotarem um perfil empreendedor. Não importa se o filho será empregado de uma empresa, um profissional liberal ou se vai começar seu próprio negócio, o perfil empreendedor será bem-vindo em quaisquer destes casos. O empreendedor é aquele que faz, acontece e motiva.

Iniciativa, organização, planejamento, liderança, capacidade de trabalhar em equipe e saber lidar com as finanças são apenas algumas das características de um perfil empreendedor, além das demais que eu mencionei no item anterior e que compõem o caráter. É tarefa dos pais ensinar cada uma delas, preferencialmente através de seu próprio exemplo.

Conclusão

Se você é pai ou mãe e se enxergou fazendo algo diferente do que proponho neste artigo, calma. Primeiro, eu não sou um terapeuta ou especialista em educação infantil, sou apenas um pai de primeira viagem que gosta de empreender como um estilo de vida. Se posso sugerir algo, é que esqueça o passado e procure fazer o melhor possível a partir de agora. Você os conhece desde que eram bebês e terá boas chances de ajudá-los a compreender mais sobre suas características.

Se você é filho ou filha e sente-se desconfortável com sua situação atual, seja em seu processo de formação ou no trabalho que desempenha, considere (se possível for) aconselhar-se com seus pais. Eles poderão revelar coisas incríveis sobre seu comportamento e preferências, bem como dar testemunhos de vida fantásticos da época em que tinham a sua idade. Fale também com mentores de diferentes áreas e idades.

Em um artigo que publiquei recentemente, defendo que atitude e educação financeira são parte do legado ideal de pais para filhos (clique para ler). O importante é conseguir alinhar nosso trabalho aos nossos propósitos de vida, pois só assim seremos capazes de experimentar a verdadeira e tão desejada realização profissional, que tem forte relação com o sucesso financeiro.

Se tem uma coisa que eu aprendi rápido (e de formas dramáticas), é que tudo aquilo que começamos pensando em dinheiro geralmente termina em frustração e desânimo. O dinheiro não deve ser um objetivo, um fim em si mesmo, mas uma consequência. Se você se mantiver fiel às suas características e agir segundo o norte de caráter que mencionei neste texto, pode crer que ele virá!

Tenha em mente que eu trabalho com algo completamente diferente da minha formação em nível de bacharelado. Sou um cientista da computação que escreve sobre finanças pessoais e investimentos e trabalha no mercado financeiro. Eu não saberia dizer exatamente o que “deu errado”, afinal de contas foram muitas frustrações (empresas falidas e reviravoltas na vida pessoal, inclusive), mas muitas alegrias. Foi natural.

Que tal? Exagerei em alguma coisa? Você se identificou com a minha opinião? Por favor registre sua opinião no espaço de comentários abaixo. Espero que possamos construir uma importante discussão em torno deste tema tão importante. Um abraço e até a próxima!

Foto “Father and son”, Shutterstock.

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