Um grupo de empresas interessadas na expansão do transporte urbano com veículos eletrificados no Brasil ampliou objetivos depois de ter um desempenho melhor do que o esperado desde o lançamento em 2022, afirmou nesta quarta-feira a 99, líder da iniciativa.
A aliança, que inclui empresas como a distribuidora de combustíveis Raízen (RAIZ4), a locadora de veículos Movida (MOVI3) e a montadora chinesa BYD, tinha previsto em 2022 alcançar até o final do ano que vem 10 mil carros elétricos conectados ao aplicativo de transporte urbano da 99 até 2025.
Mas, diante dos números até agora, o grupo dobrou o volume para 20 mil.
“Hoje estamos mais rápido do que imaginávamos. O objetivo era 3.500 este ano e estamos agora em 4.100. Revisamos para 8 mil neste ano e 20 mil ano que vem”, disse Thiago Hipolito, diretor sênior de inovação da 99, em entrevista à Reuters.
A companhia, controlada pela chinesa Didi, não revelou o investimento específico feito pelo grupo, chamado de Aliança pela Mobilidade Sustentável, mas Hipolito afirmou que nos últimos dois anos a parceria injetou 245 milhões de reais na iniciativa.
Considerando o investimento total da 99 em inovação, incluindo outros projetos, a programação prevê 250 milhões de reais em três anos desde 2022.
O aumento da meta ocorre em um momento em que o Brasil se tornou o maior mercado de carros elétricos e híbridos da China, superando a Bélgica.
Em abril, as exportações de carros elétricos e híbridos plug-in da China para o Brasil aumentaram 13 vezes em relação ao ano anterior, atingindo 40.163 unidades, tornando o país o maior mercado para as montadoras chinesas pelo segundo mês consecutivo, de acordo com dados da Associação de Carros de Passageiros da China (CPCA). Em janeiro, o Brasil era o 10º maior mercado de exportação de carros eletrificados chineses.
O governo federal elevou em janeiro o imposto de importação destes veículos em um processo gradual que vai se estender até meados de 2026, quando o tributo chegará a 35%.
Segundo Hipolito, o aumento do imposto não será um problema para a aliança. “Para contornar o Imposto de Importação vamos ter fábrica local”, disse o executivo, referindo-se aos centros de produção da BYD na Bahia e da GWM em São Paulo.
“Nosso nicho é mais ‘low end’, então se encaixa com a produção local começando a partir deste ano. Achamos que o imposto pudesse ser um problema, mas com a evolução das estratégias e da tecnologia, não vai ser”, acrescentou Hipolito, mencionando a queda nos preços dos veículos elétricos desde 2022 e maior disponibilidade de modelos no país.
No lançamento da aliança, em 2022, o grupo teve dificuldade para encontrar 50 motoristas do aplicativo dispostos a encarar a locação do modelo elétrico Leaf, da Nissan, que custava quase 300 mil reais.
“Hoje o número de carros (elétricos) tem crescido mais rápido do que imaginávamos”, disse Hipolito. A autonomia do Leaf não atingia os 200 quilômetros, ante mais de 300 quilômetros de um BYD Dolphin, que custa mais barato.
A aliança da 99 está trazendo mais carros elétricos da BYD. Um total de 200 unidades do Dolphin serão importadas e disponibilizadas para locação para motoristas do aplicativo por meio da parceria da aliança com o grupo brasileiro Osten, disse o executivo.
Hipolito evitou mencionar cifras da operação, mas o principal objetivo da 99 no incentivo aos carros elétricos é o engajamento dos motoristas com a plataforma. “Engajamento nessa indústria custa muito dinheiro”, afirmou. “É a nossa principal métrica.”
Segundo ele, um carro elétrico para um motorista de aplicativo reduz em 80% o custo operacional ante um modelo a combustão.
Além dos carros da parceria com a Osten, a 99 incluiu na aliança o braço de locação de veículos elétricos da Renault no Brasil, a Mobilize, que vai disponibilizar também este ano 100 Leafs e 100 compactos Kwid a motoristas do aplicativo, afirmou.
Hipolito afirmou que a 99 cobra uma comissão máxima de 19,99% no mês dos motoristas, mas no caso dos que dirigem o modelo Dolphin Mini a empresa cortou a taxa para 9,99%, também como forma de incentivar a adoção de carros elétricos na plataforma.
“O elétrico para algumas situações (como motorista de aplicativo) é mais eficiente. O motorista roda numa área 100% urbana e não precisa de viagens longas”, disse o executivo ao ser questionado sobre a meta de 10 mil estações de recarga até 2025 no Brasil que foi mantida pela aliança. “Por isso, se concentrar a infraestrutura de recarga numa área relativamente pequena resolve o problema.”
No Brasil, a principal rival da 99 é a norte-americana Uber.
Motos Elétricas
Além de dobrar a meta de carros elétricos na plataforma da 99, a aliança também anunciou a inclusão de motos eletrificadas para mototáxi na iniciativa, em parceria com duas montadoras nacionais, Vammo e Riba.
A 99 também incluiu o aplicativo de entrega de comida iFood no grupo, disse o executivo.
“A 99Moto é o negócio que mais cresce na indústria no Brasil nos últimos dois ou três anos. Somos líderes absolutos no segmento com 3.300 cidades cadastradas. Tem potencial de crescimento muito grande”, afirmou.
A inclusão só agora das motos ocorre também pela evolução da tecnologia. Dois anos atrás não havia modelos no Brasil com autonomia capaz de levar garupa para um serviço de mototáxi, disse o executivo, citando que o mototaxista pode ter uma economia de 600 reais por mês com uma moto elétrica ante uma de motor a combustão. “Eles rodam 5 mil quilômetros por mês”, afirmou.