O projeto da biorrefinaria da Acelen tem atraído interesse de outros investidores, além da Petrobras (PETR3; PETR4), disse o presidente-executivo da companhia detida pelo fundo Mubadala Capital, Luiz de Mendonça, nesta quarta-feira.
Segundo ele, o projeto de biorrefinaria da empresa na Bahia está dentro do prazo e deve entrar em operação entre o final de 2026 e início de 2027.
Quando anunciou o projeto da biorrefinaria em abril de 2023, a Acelen estimou investimentos de 12 bilhões de reais em dez anos para a produção de diesel e querosene de aviação renováveis na Bahia, onde a companhia já detém uma refinaria de petróleo.
Mendonça destacou que companhia está finalizando o projeto de engenharia e conversado com investidores interessados na biorrefinaria.
“Estamos finalizando a engenharia da planta, com isso a gente vai montando o pacote financeiro final, vendo com investidores, equity, dívida, fundos, e tudo mais”, disse Mendonça à Reuters, após participar de um evento promovido pela Argus.
O projeto foi idealizado para ter capacidade de produzir 1 bilhão de litros por ano de biocombustíveis (ou 20 mil barris/dia) a partir do hidrotratamento de óleos vegetais e gordura animal.
Questionado sobre uma anunciada eventual parceria com a Petrobras, ele evitou entrar em detalhes.
“Não posso comentar o interesse da Petrobras no projeto, da minha perspectiva as diligências estão sendo feitas, os times estão conversando, mas não posso comentar”, afirmou.
“Tem tanta gente interessada neste projeto, a Petrobras poderia ser um excelente parceiro, mas não posso ir além desta especulação”, declarou.
No ano passado, a Petrobras afirmou que avaliaria aquisição de participação acionária em ativos de refino e biorrefino da Mubadala Capital na Bahia, assim como parcerias estratégicas no segmento.
Sobre o interesse da Petrobras na refinaria de petróleo da Acelen na Bahia, Mendonça disse que a estatal já recebeu todas as informações. “A bola está com eles”, destacou.
Em fevereiro, o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, havia dito que a empresa esperava fechar um acordo com o Mubadala para retomar o controle da refinaria de Mataripe até o final do primeiro semestre.
A refinaria de Mataripe foi vendida na gestão anterior para o Mubadala em 2021 por 1,65 bilhão de dólares, como parte de uma estratégia de desinvestimento realizada durante a administração do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Agora a estatal é comandada pela CEO Magda Chambriard. Questionada sobre o assunto nesta quarta-feira, ela afirmou que as conversas como Mubadala prosseguem, enquanto os técnicos da estatal realizam estudos sobre o ativo.
Biorrefinaria caminha
Mendonça disse que a empresa já começou o desenvolvimento do seu centro tecnológico agrícola, enquanto está adquirindo as primeira fazendas piloto para o plantio da macaúba, que no futuro será a matéria-prima para a produção do biocombustível.
“Estamos falando em fazenda de 5 mil hectares, piloto mas na escala brasileira”, afirmou, explicando que a ideia é que a empresa tenha a posse das áreas por 30 a 40 anos.
“E aí a gente começa construção da planta, já temos o site, estamos olhando a parte do licenciamento para começar a construção”, disse.
Para colocar a biorrefinaria em funcionamento entre o final de 2026 e início de 2027, a Acelen anunciou anteriormente que vai utilizar óleo de soja, e precisará de grandes volumes, enquanto a produção de macaúba não fica disponível.
O volume necessário por ano, de cerca de 1 milhão de toneladas de óleo de soja, representa cerca de um décimo da produção brasileira estimada para 2024.
“Começamos com óleo de soja… vamos precisar de 1 milhão de toneladas de óleo de soja, é um projeto grande”, disse Mendonça. Questionado sobre as opções, ele disse ainda que “tem a Argentina também”, sinalizando que poderia importar o produto, em caso de necessidade.
A Argentina é um dos maiores exportadores de óleo de soja.
“A primeira produção da macaúba demora três a quatro anos, ela chega na maturidade plena com sete anos, por isso é muito importante a gente correr, por isso que a parte agrícola está saindo na frente”, explicou.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, o volume de óleo de soja que a Acelen precisará deve impactar positivamente o processamento da oleaginosa no Brasil.
Segundo ele, a Acelen deverá eventualmente negociar com as empresas processadoras o fornecimento de óleo de soja, considerando o elevado volume demandado.
Nassar falou durante evento nesta quarta-feira que a demanda por biocombustíveis vem sendo cada vez mais importante para manter o crescimento do plantio de soja no Brasil, em um momento em que a China, o maior importador global, passa a adotar uma estratégia de não elevar muito suas importações da oleaginosa como fazia antes.