O líder de extrema-direita francês Jordan Bardella procurou nesta segunda-feira tranquilizar os aliados europeus sobre seu compromisso com a Ucrânia e sua disposição de enfrentar a Rússia caso se torne primeiro-ministro, mas deixou claro onde o apoio de seu governo a Kiev iria parar.
O partido Reunião Nacional (RN), de Bardella, que os oponentes acusam de ser muito brando com a Rússia, está à caminho de conquistar o maior número de votos na eleição parlamentar que ocorrerá em 30 de junho e 7 de julho e poderá formar o próximo governo da França.
Isso tem levantado preocupações em Kiev e em outras capitais europeias de que o apoio da França à Ucrânia — firme sob o comando do presidente Emmanuel Macron — poderia enfraquecer devido aos sinais conflitantes que o RN vem enviando desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022.
Nos últimos meses, o governo de Macron tem enviado mísseis de longo alcance que podem alcançar o território russo, prometido aviões de guerra e pedido que os países europeus enviem militares à Ucrânia para treinar suas tropas.
“Não pretendo questionar os compromissos assumidos pela França no cenário internacional e prejudicar nossa credibilidade em um momento de guerra às portas da Europa”, disse Bardella.
Mas, ao contrário de Macron, que tem sido ambíguo sobre até onde Paris poderia ir em seu compromisso com a Ucrânia, Bardella disse que há uma linha que seu governo não cruzaria.
“Embora eu seja a favor de continuar apoiando a Ucrânia com logística e equipamentos de defesa, minha linha vermelha continua sendo os mísseis de longo alcance ou qualquer equipamento militar que possa levar a uma escalada, ou seja, qualquer coisa que possa atingir diretamente as cidades russas”, disse ele.
O envio de tropas francesas para a Ucrânia também estaria fora de discussão, disse ele.
Embora Macron permaneça no comando da defesa e da política externa mesmo com o RN no poder, ele precisaria do apoio do Parlamento para financiar qualquer ajuda à Ucrânia no próximo Orçamento.
O RN também poderia bloquear ou atrasar qualquer transferência futura de armas, pois elas precisam da aprovação do primeiro-ministro e de ministros relevantes.
Como parte de seu pacto de garantia de segurança de 10 anos com a Ucrânia, acordado em março, a França disse que fornecerá até 3 bilhões de euros em ajuda militar à Ucrânia em 2024, mas esse pacto ainda não foi ratificado pelo Parlamento.
Na semana passada, Bardella voltou atrás em sua promessa de deixar o comando militar integrado da Otan, dizendo que isso é impensável enquanto a Europa estiver em guerra.
A posição de seu partido em relação à Rússia está sob análise porque sua provável candidata na próxima eleição presidencial, Marine Le Pen, já expressou no passado sua admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin.
O governo russo há muito tempo corteja líderes da extrema-direita da Europa e está interessada em explorar qualquer sinal de divisão no continente que possa enfraquecer o apoio à Ucrânia.
Bardella, no entanto, reconheceu nesta segunda-feira que a Rússia é uma ameaça.
“Vejo a Rússia como uma ameaça multidimensional tanto para a França quanto para a Europa”, disse Bardella.
“A Rússia está desafiando os interesses franceses hoje… Estarei extremamente atento a qualquer tentativa de interferência por parte da Rússia, mas também por parte de quaisquer outros Estados ou potências do mundo.”