O Brasil tem até 36,6 milhões de hectares de pastagens aptas a receber plantio de soja, em áreas livres de desmatamento recente, apontou nesta quarta-feira um estudo da Serasa Experian.
O estudo, divulgado em momento em que aumenta a pressão de consumidores contra uso pela agricultura de terras desmatadas, indica que, somente com o uso de pastagens, a área de soja brasileira teria potencial de crescer cerca de 80% em relação ao nível atual, na hipótese de todo o montante ser utilizado.
O uso desse grande estoque de áreas de pastagens — isentas de proibições que serão colocadas pela União Europeia para a soja e outros produtos cultivados em terras desmatadas após 2020 — é uma das opções defendidas pelo governo e produtores para expandir suas lavouras, respeitando o meio ambiente.
O Brasil, maior produtor e exportador global de soja, cultivou na última safra quase 46 milhões de hectares com a oleaginosa, segundo a última revisão da Companhia Nacional de Abastecimento.
Em nota, o diretor de novos negócios agro da Serasa Experian, Joel Risso, comentou que em dez anos o país poderá ver um aumento de cerca de 12 milhões de hectares no plantio de soja no Brasil, se as projeções do Ministério da Agricultura estiverem corretas.
“Esse montante representa o consumo de apenas um terço de toda a disponibilidade de pastagens com alta aptidão para o cultivo de soja no Brasil, que é mais de 36 milhões de hectares”, afirmou.
Apesar dessa disponibilidade de pastagens aptas não ser a mesma para todos os Estados e regiões brasileiras, o levantamento indica que existem mais áreas que o necessário para suprir essa demanda seguindo os protocolos ambientais mais rígidos, disse ele, citando as recentes exigências do mercado comprador europeu, previstas para vigorar em mais alguns meses.
A análise também foi realizada considerando as áreas pastagens aptas por nível de degradação por conta de perda de biomassa no tempo.
Em termos absolutos, o Cerrado é o bioma com maior número de hectares degradados de forma severa, com 6,1 milhões de pastagens aptas para a soja nesta condição, de um total de 17,6 milhões de hectares de pastagens, que incluem 3,8 milhões sem degradação e 7,8 milhões com degradação intermediária.
O bioma Pampa se destaca pela maior proporção de pastagens aptas com ausência de degradação, com 52% (1,6 milhão de hectares) dos 3,1 milhões totais.
Já o bioma Amazônico tem 11,9 milhões de hectares de pastagens, sendo 2,2 milhões com degradação severa e 4,2 milhões em melhores condições ao eventual plantio de soja.
Por Estados, o Pará dispõe da maior área de pastagens aptas ao plantio de soja e sem degradação (1,7 milhão de hectares), e o Mato Grosso do Sul é o que possui a maior disponibilidade de pastos, com cerca de 6 milhões de hectares propícios à sojicultura. No entanto, é também nesse Estado em que se encontra a parcela mais expressiva de área degradada, proporcionalmente ao todo, conforme o relatório.
Risso ressaltou que, “além da disponibilidade de pastagens aptas, olhar para o grau de degradação das áreas ajuda a definir a necessidade de investimentos para que esse processo de conversão ocorra”.
“E, ao juntarmos isso com a probabilidade de inadimplência de cada de cada produtor, a informação se torna ainda mais estratégica para quem vai financiar esse processo.”
O estudo da Serasa deve apoiar bancos e o sistema financeiro no estabelecimento de condições para se ofertar crédito a produtores rurais que querem expandir suas áreas.
Para uma expansão de 12 milhões de hectares em dez anos, como projeta o ministério, seria demandado um investimento de cerca de 60 bilhões de reais, sendo grande parte desse volume proveniente de linhas de crédito, de acordo com os especialistas da Serasa.
O cálculo considera que o valor médio necessário para converter 1 hectare de pastagem para o plantio de soja é de aproximadamente 5 mil reais, podendo ser inferior em áreas menos degradadas ou até passar de 6 mil reais em áreas mais severamente degradadas, segundo Risso.