Em uma análise recente realizada pelo comitê de pesquisa e investimentos do Bank of America, foi levantada a questão: chegou a hora de apostar no estouro da bolha de IA?
A análise publicada nesta terça-feira (16) faz uma comparação intrigante entre o momento atual das ações das empresas focadas em inteligência artificial e o estouro da bolha das ações ferroviárias, onde William Riggin Travers, um cosmopolita de Wall Street, fez fortuna.
Travers, um dos grandes patrícios da Era Dourada dos EUA, certa vez perguntou durante uma regata dos melhores de Wall Street: “onde estão os iates dos clientes?”
Se Travers vivesse hoje, ele poderia se mudar para os castelos de Atherton ou Palo Alto e se maravilhar com todas as empresas comuns recentemente induzidas a comprar IA gerida em nuvem. Acompanhando seus pares, sim, mas sem um propósito específico: “onde estão os aplicativos matadores dos clientes”?
Ou seja, a inteligência artificial pode seguir o caminho de outras tecnologias que, embora aumentassem a produtividade a longo prazo, não retornaram rapidamente os investimentos iniciais.
“As ferrovias nos EUA e no Reino Unido em meados de 1800, os cabos de fibra óptica e a Internet na década de 1990, a fraturação hidráulica de xisto na década de 2010: tudo isso exigiu enormes despesas de capital, com benefícios obtidos apenas após o estouro de uma bolha inicial de ações”, afirmou o comitê.
Antes da Guerra Civil, Travers julgou que a Old Southern, uma das ações ferroviárias mais apreciadas, havia emitido demasiadas ações para especuladores. Ele e seu sócio compraram discretamente todos os contratos a descoberto que puderam, divulgaram suas descobertas e ganharam milhões quando as ações despencaram 60%.
A pergunta que paira no ar é se os investidores estão prontos para enfrentar uma possível correção no mercado de IA, semelhante ao que aconteceu com as ferrovias e a internet no passado. Como William Riggin Travers observou, a chave para o sucesso pode estar em questionar constantemente os retornos dos investimentos e se preparar para possíveis reviravoltas no mercado.
Segundo o Bank of America, os investidores de longo prazo podem se sair melhor em ativos subvalorizados em comparação ao S&P 500, como ações de pequena capitalização, serviços públicos, energia e bancos, além de regiões como Índia e América Latina.
Novas tecnologias, grandes investimentos, produtividade em expansão… e bolhas de ações estourando
Investimentos de US$ 500 bi em IA
Os riscos para os clientes de IA também parecem estar a aumentar. Novos designs de chips aceleram a depreciação de investimentos mais antigos: cada avanço da Nvidia (NVDA; NVDC34) reduz o valor das compras do ano passado.
As empresas utilizadoras finais da IA e os seus investidores irão em breve procurar receitas que justifiquem os US$ 500 bilhões já gastos.
Parece também provável que as empresas de nuvem enfrentem novos entrantes e menor poder de fixação de preços, ou sofram com limites de recursos da rede, exigindo investimentos dispendiosos em infraestrutura de energia.
Expectativas de lucros
O Bank of America também ressalta que “os investidores estão ficando inquietos”.
O primeiro motivo para esta situação está nas expectativas de crescimento dos lucros entre as ações dos ETFs de inteligência artificial, que atingiram o pico em fevereiro de 2024 e, desde então, caíram 16 pontos percentuais, no caminho para convergir com o mercado todo.
Além disso, os spreads de crédito revelam que a alta das ações parece instável, lançando o maior alerta desde a bolha pontocom.
Os spreads dos títulos corporativos de qualidade mais baixa, com rating CCC, aumentaram mesmo com a queda dos rendimentos dos papeis com nota B. Em 1999, a diferença entre os spreads CCC e B subiu acima de 3 vezes, quase exatamente um ano antes do pico do mercado pontocom.