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Mercados erram ao viver a loucura da certeza, diz Howard Marks

“Se esquivar da certeza pode mantê-lo fora de problemas. Recomendo fortemente fazê-lo", afirma o cofundador da Oaktree Capital

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Mercados, Big Techs, Fed

Howard Marks, um renomado escritor e investidor bilionário, bem como cofundador da Oaktree Capital, uma gestora com mais de US$ 179 bilhões sob gestão, oferece em sua “memo” trimestral publicada nesta quarta-feira (17) uma análise perspicaz sobre a complexidade inerente à previsão do futuro dos mercados. Ele enfatiza que as previsões de mercado falham com frequência, na maioria devido à influência significativa e muitas vezes subestimada das emoções dos participantes do mercado.

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Em outubro de 2022, por exemplo, houve quem previu corretamente que o Federal Reserve (Fed) não reduziria as taxas de juros nos 20 meses seguintes. No entanto, Marks observa: “Aqueles que mantiveram essa previsão e se abstiveram do mercado perderam um ganho de aproximadamente 50% no índice S&P 500”.

Embora os otimistas sobre a redução de taxas estivessem errados, muitos deles estão em uma situação financeira melhor hoje. “Prever corretamente o comportamento do mercado é uma tarefa extremamente difícil”, afirma Marks.

Ele destaca que, ao contrário das previsões sobre economias e empresas, que podem ter um grau de previsibilidade devido a suas forças mecânicas, os mercados apresentam uma volatilidade maior. “Os mercados oscilam mais do que as economias e empresas”, observa ele, ressaltando a importância e a imprevisibilidade das emoções dos participantes do mercado. Isso, segundo Marks, é o que torna as previsões de mercado tão frequentemente incorretas.

Oscilações dos mercados

Marks ilustra a variabilidade dos mercados com dados concretos. Ele menciona que, ao longo de 40 anos, a variação anual do PIB foi de 1,8%, enquanto os lucros corporativos variaram 9,4%, e os preços do S&P 500 oscilaram 13,1%. “Por que os preços das ações sobem e descem muito mais do que as economias e empresas que os sustentam?”, questiona Marks, sugerindo que a psicologia e a emoção dos investidores desempenham um papel crucial.

Ele critica a suposição das ciências financeiras de que cada participante do mercado age de forma racional para maximizar seus interesses financeiros.

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“O papel crucial da psicologia e emoção frequentemente torna essa suposição equivocada”, ele explica, argumentando que a oscilação do sentimento dos investidores muitas vezes supera a influência de fundamentos no curto prazo. “Relativamente poucas previsões de mercado se mostram corretas, e menos ainda estão ‘certas pelas razões certas’”, destaca.

Marks cita a sabedoria de John Kenneth Galbraith ao afirmar que existem “dois tipos de previsores: aqueles que não sabem e aqueles que não sabem que não sabem”. Ele observa que a extrema brevidade da memória financeira e a associação enganosa entre dinheiro e inteligência são fatores frequentemente ignorados.

“Quando as pessoas ficam ricas, isso é tomado como um sinal de que são inteligentes”, diz Marks, sugerindo que o sucesso financeiro pode ser resultado de uma série de sorte ou um ambiente favorável, e não necessariamente de habilidades especiais.

Humildade intelectual

Marks destaca que, embora os investidores bem-sucedidos possam ser inteligentes, isso não significa que suas opiniões em outras áreas sejam válidas. “Eles podem não saber mais do que a maioria sobre assuntos fora do investimento”, alerta. Mesmo assim, muitos expressam suas opiniões com convicção, e essas opiniões muitas vezes são altamente valorizadas pelo público.

Ele menciona que muitas pessoas são “frequentemente erradas, mas nunca em dúvida”, lembrando uma citação atribuída a Mark Twain: “O que te coloca em apuros não é o que você não sabe, mas o que você sabe com certeza que simplesmente não é assim”. Marks enfatiza a importância da humildade intelectual, citando suas próprias memórias sobre o tema durante a pandemia de 2020.

Marks explica que a humildade intelectual é essencial para os investidores, permitindo-lhes reconhecer sua falibilidade e estar dispostos a serem provados errados. “Nenhuma declaração que comece com ‘Eu não sei, mas…’ ou ‘Eu posso estar errado, mas…’ jamais colocou alguém em grande apuro”, ele afirma, sugerindo que admitir a incerteza pode evitar grandes erros.

Marks adverte contra a certeza absoluta em campos influenciados por flutuações psicológicas, irracionalidade e aleatoriedade, como política, economia e investimentos. “A dúvida pode não ser uma condição agradável, mas a certeza é absurda”, ele cita Voltaire, concluindo que evitar a certeza pode mantê-lo fora de problemas.

Ele menciona um exemplo recente do torneio de tênis de Wimbledon, onde Barbora Krejcikova, uma azarona, venceu o título feminino. “Os apostadores podem estar certos em duvidar de seu potencial, mas não deveriam estar tão certos em suas previsões”, comenta Marks, usando isso como uma ilustração da imprevisibilidade.

Marks também menciona a recente tentativa de assassinato de Donald Trump como um exemplo de eventos imprevisíveis que podem ter impactos significativos, mas difíceis de prever. “Mesmo agora que aconteceu e Trump escapou de ferimentos graves, ninguém pode afirmar com certeza como isso afetará a eleição ou os mercados”, observa ele.

Em resumo, Marks reforça que fazer previsões é um jogo de perdedores. “Se esquivar da certeza pode mantê-lo fora de problemas. Recomendo fortemente fazê-lo”, conclui ele, enfatizando a importância de reconhecer a incerteza e proceder com cautela no mercado financeiro.

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