O dólar (USDBRL) emplacou nesta quinta-feira a segunda sessão consecutiva de forte alta no Brasil, de 10 centavos de real, com as cotações impactadas pelo receio de que o governo Lula não cumpra a meta fiscal e pelo avanço firme da moeda norte-americana também no exterior, em um dia de pressão para os países emergentes.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,5887 reais na venda, em alta de 1,89%. Em dois dias a divisa saltou 2,94%, ou o equivalente a 16 centavos de real.
Às 17h07, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,77%, a 5,5955 reais na venda.
O mercado de câmbio brasileiro recebeu novamente um estímulo duplo para a alta do dólar.
Em primeiro lugar, a moeda norte-americana também tinha fortes ganhos ante outras divisas de emergentes e exportadores no exterior, com real, peso chileno, peso mexicano e peso colombiano liderando a lista de maiores perdas globais.
Em segundo lugar, os investidores se mantinham cautelosos com a aproximação do dia 22 de julho, quando o governo apresentará seu Relatório Bimestral de Receitas e Despesas com a definição sobre quanto será preciso contingenciar no Orçamento para cumprir a meta de resultado primário zero deste ano.
Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que o mercado teme que o governo anuncie um contingenciamento abaixo do necessário para cumprir o arcabouço fiscal cifra estimada por especialistas em pelo menos 10 bilhões de reais, com alguns cálculos apontando para ajustes maiores.
Além do contingenciamento, o mercado aguarda os detalhes sobre como se darão os cortes de 25,9 bilhões de reais em despesas do Orçamento para 2025, anunciados pelo governo há algumas semanas. Como parte destes cortes pode recair já sobre as contas de 2024, algum detalhamento pode surgir no dia 22.
“A alta do dólar ante o real se deve um pouco ao que a gente vê lá fora e muito ao que vemos aqui dentro”, comentou durante a tarde Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
“A preocupação de que o governo não segure os gastos faz o mercado empurrar o dólar antes do dia 22. Assim, dependendo do que for anunciado (no dia 22), o dólar pode devolver (os ganhos dos últimos dias) ou subir ainda mais”, acrescentou.
A Junta de Execução Orçamentária, que inclui Haddad e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, iniciou sua reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perto de 16h15.
No mercado, não se descartava a possibilidade de que algo concreto pudesse ser anunciado após as discussões, que miram justamente a divulgação do relatório e do contingenciamento no dia 22.
Sem novidades concretas por ora, ainda reverberavam nas mesas as declarações mais recentes de Lula sobre o fiscal, na terça-feira, quando afirmou que o governo não é obrigado a cumprir a meta fiscal “se você tiver coisas mais importantes para fazer”.
Neste cenário, o dólar à vista subiu de forma relativamente contínua ao longo do dia, da mínima de 5,4803 reais (-0,09%) às 9h01, pouco depois da abertura, à máxima de 5,5903 reais (+1,92%) às 16h56, pouco antes do fechamento.
No fim da tarde o dólar subia de forma generalizada no exterior, sendo que o real e suas divisas pares eram as mais pressionadas.
Às 17h25 o índice do dólar que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas subia 0,49%, a 104,180.