A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é vista como um movimento estratégico de Lula para realinhar a política monetária do Brasil visando crescimento econômico e justiça social defendidos pelo seu governo. Esta é a opinião do analista político Roberto Reis, da Convex Research, que vê essa nomeação como parte de um jogo político entre Lula e o mercado.
Segundo Reis, essa manobra foi cuidadosamente planejada por Lula e Haddad para atingir suas finalidades econômicas visando uma futura reeleição.
“Galípolo, com sua formação desenvolvimentista e estreita colaboração com economistas como Luiz Gonzaga Belluzzo, representa uma visão que valoriza a intervenção estatal e o estímulo ao crescimento econômico”, afirma o analista.
Galípolo é conhecido por suas ideias desenvolvimentistas, expressas em coautoria com Belluzzo em livros como “Manda Quem Pode, Obedece Quem Tem Prejuízo”, “A Escassez na Abundância” e “O Dinheiro, o Poder da Abstração Real”. Para Reis, “essas ideias estão presentes na essência das políticas que Lula e Haddad desejam implementar”.
Reis destaca a desconfiança do mercado em relação a essas abordagens. Embora a indicação de Galípolo possa significar uma mudança nas políticas tradicionais do Banco Central, ele é visto como a opção menos “exótica” disponível. “O mercado também reconhece que, entre as opções disponíveis, Galípolo é a escolha menos radical”, observa Reis.
Jogo de cena
O analista descreve a nomeação como um cuidadoso “jogo de cena” executado por Lula e Haddad. Eles evitam grandes demonstrações de apoio incondicional a Galípolo, preferindo orientá-lo a se alinhar com a maioria do atual Banco Central, elogiando a equipe atual e evitando declarações controversas.
“Essa abordagem mantém Galípolo voando abaixo dos radares, garantindo que sua aprovação seja tranquila e natural”, diz Reis.
A tática de Lula inclui a frase “Vai lá e vota pela manutenção dos juros e eu te anuncio como o novo presidente do BC, eles vão todos acreditar que foi uma escolha técnica”. Para Reis, isso encapsula perfeitamente a estratégia de Lula. “Lula está colocando Galípolo à prova, forçando-o a demonstrar lealdade ao atual Banco Central e a agir de acordo com suas diretrizes para ganhar a confiança do mercado e dos adversários políticos”, afirma.
Enganando o mercado
Essa abordagem astuta de Lula é vista como um “golpe político”, onde Galípolo é preparado para implementar a visão desenvolvimentista do governo, enquanto se apresenta como uma escolha técnica e independente.
O mercado, apesar de desconfiado, está em uma posição difícil. “Eles sabem que se espernearem em torno de Galípolo, poderia resultar em uma nomeação ainda pior”, observa Reis.
Para a esquerda e a militância do PT, a indicação de Galípolo é vista como uma oportunidade de finalmente implementar políticas que favoreçam o crescimento econômico. Eles apoiam a tática de Lula e se mantêm pacientes, entendendo que o alinhamento futuro de Galípolo com o governo pode trazer benefícios significativos.
Reis destaca que ao assumir o Banco Central, Galípolo enfrentará uma complexa dicotomia. Por um lado, há as expectativas de Lula por uma redução das taxas de juros para impulsionar o crescimento econômico. Por outro, existem as pressões do mercado, que busca garantir expectativas de inflação bem ancoradas. “Galípolo precisará andar com habilidade entre essas questões para alcançar um equilíbrio que satisfaça ambos”, analisa.
O analista acredita que Galípolo jogará o jogo político e priorizará a reeleição de Lula.
“Ele viu o que Roberto Campos Neto sofreu nas mãos de Lula. Ele sabe que não terá vida fácil, mesmo que o Banco Central tenha autonomia”, explica Reis.
Para Reis, é razoável concluir que Gabriel Galípolo tenderá a alinhar suas ações com os interesses do governo Lula. “Ele provavelmente tentará encontrar um meio-termo que permita alguma flexibilização monetária sem comprometer completamente a confiança do mercado”, afirma.
Redução dos compulsórios
A trajetória de Galípolo sugere que seu alinhamento será mais próximo das expectativas do governo do que das demandas do mercado. “Não seria surpreendente ver medidas regulatórias de estímulos, como a redução de depósitos compulsórios”, especula Reis.
O mercado, ciente dessas possibilidades, continua a observar atentamente os movimentos de Galípolo. “A pressão já está sendo feita, e não tem, por enquanto, outras armas”, aponta o analista.
Para Reis, o “jogo de cena” é claro: Lula como diretor, Haddad como roteirista e Galípolo como ator principal. “Eles ensaiam incansavelmente para convencer que tudo ficará bem e não há o que temer”, conclui.