O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que para “resolver a briga” sobre as eleições na Venezuela é preciso que as autoridades locais apresentem as atas de votação. Além disso, afirmou que a “imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada a de anormal”.
A declaração, primeira manifestação do presidente sobre o impasse eleitoral venezuelano desde a eleição de domingo, foi dada pelo presidente em entrevista a uma emissora afiliada da TV Globo no Mato Grosso, segundo o site G1, também da Globo.
“Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela”, disse Lula, segundo o G1.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou que Maduro venceu a eleição de domingo com 51% dos votos, mas a oposição disse que os 73% dos votos aos quais tem acesso mostram que González teve mais do que o dobro de votos que Maduro.
Protestos eclodiram na Venezuela desde a votação, enquanto os Estados Unidos e vários líderes latino-americanos rejeitaram os resultados ou disseram que é necessária maior transparência.
“É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido de que é um processo normal, tranquilo”, afirmou o presidente.
Lula também comentou a nota do PT. Ele disse que não há nada “grave” nem “assustador” no processo eleitoral venezuelano.
“O PT reconheceu, a nota do partido dos trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram. E, ao mesmo tempo, ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada a de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e Justiça faz.
Lula e Biden
Segundo uma fonte da Reuters, Lula reiterou nesta terça-feira ao presidente norte-americano Joe Biden a posição do Brasil de que é essencial o acesso às atas de votação das eleições venezuelanas para que se aceite o resultado.
Lula e Biden conversaram por cerca de 40 minutos, em um telefonema realizado a pedido do líder norte-americano.
O presidente brasileiro contou a Biden sobre as conversas que seu assessor especial, embaixador Celso Amorim, teve em Caracas com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e com o candidato da oposição, Edmundo González.
De acordo com a fonte, a decisão de Lula e Biden foi de manter os canais de conversa abertos entre Brasil e Estados Unidos sobre a situação na Venezuela.
Protestos na Venezuela
Manifestantes foram às ruas ao redor da Venezuela nesta terça-feira, agitando bandeiras e exigindo que o presidente Nicolás Maduro reconheça que perdeu a eleição de domingo para uma oposição que afirma ter obtido uma vitória esmagadora.
Os protestos, denunciados pelo governo como uma tentativa de “golpe”, começaram após o órgão eleitoral declarar na segunda-feira que Maduro havia conquistado um terceiro mandato com 51% dos votos para estender o governo de um quarto de século do movimento chavista.
A oposição, que considera que o órgão eleitoral está no bolso de um governo ditatorial, diz que os 80% da contagem de votos aos quais teve acesso mostram que o seu candidato, Edmundo González, recebeu mais do que o dobro dos votos que Maduro.
A renovada instabilidade trouxe uma reação internacional dividida: os Estados Unidos afirmaram que estão considerando novas sanções contra indivíduos associados à eleição a menos que haja mais transparência sobre a votação, enquanto China e Rússia deram os parabéns para Maduro.
Além de novas sanções, a situação pode estimular ainda mais imigração em um país que perdeu um terço da sua população nos últimos anos.
Mas, sem sinais de que o Exército romperá o seu apoio de longa data a Maduro, e após ciclos anteriores de protestos contra o governo e sanções não terem conseguido derrubá-lo, os mecanismos abertos à oposição parecem limitados.
A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, proibida de concorrer na eleição, mas que liderou a campanha para González, apareceu ao lado dele em uma reunião em Caracas nesta terça-feira.
“O que estamos combatendo aqui é uma fraude do regime”, afirmou Machado, pedindo protestos pacíficos.
Uma grande multidão, muitos agitando bandeiras venezuelanas, entoavam: “Não temos medo!”.
“Edmundo é o presidente. Nós sabemos que ele venceu a eleição”, disse Andrea García, funcionária de 27 anos de uma corretora, esperando ao lado de outras milhares de pessoas pelas aparições de Machado e González. “Queremos viver na Venezuela que nossos pais tinham, onde não havia fome nas ruas”.
“(Maduro) não pode governar com 80% do país contra ele.”
Manifestantes de oposição também foram às ruas nas cidades de Valencia, Maracay, San Cristóbal, Maracaibo e Barquisimeto. Em alguns locais, testemunhas da Reuters viram manifestantes sendo atacados por forças de segurança. Muitas lojas permanecem fechadas.
Manifestações pró-Maduro foram organizadas para mais tarde nesta terça-feira.
Pelo menos seis pessoas foram mortas ao redor do país em incidentes relacionados à contagem dos votos ou com os protestos associados, segundo o grupo de direitos humanos Foro Penal.
O coordenador nacional do partido de oposição Vontade Popular, Freddy Superlano, foi detido, disse o partido no X.
O procurador-geral do país, Tarek Saab, disse na televisão estatal que houve 749 prisões e duas mortes de membros das forças de segurança no Estado de Aragua. Ele não mencionou Superlano e, em um primeiro momento, não respondeu aos pedidos para comentar se Superlano foi detido e por quais acusações.
(Com Reuters)