O líder do Hamas Ismail Haniyeh foi assassinado na madrugada de quarta-feira no Irã, segundo o grupo militante palestino e Teerã, gerando ameaças de vingança contra Israel em uma região já abalada pela guerra em Gaza e pelo aprofundamento do conflito no Líbano.
A Guarda Revolucionária do Irã confirmou a morte de Haniyeh, horas depois que ele participou de uma cerimônia de posse do novo presidente do país, e disse que estava investigando.
Haniyeh, normalmente baseado no Catar, tem sido o representante da diplomacia internacional do Hamas, à medida que a guerra desencadeada pelo ataque liderado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro se desenrola em Gaza.
O braço armado do Hamas afirmou em um comunicado que a morte de Haniyeh “levaria a batalha a novas dimensões e teria grandes repercussões”, enquanto o Irã também prometeu retaliar.
“Vale a pena notar que a última vez que as tensões aumentaram perigosamente entre o Irã e Israel foi em abril, devido ao suposto ataque israelense a um prédio próximo à embaixada iraniana em Damasco. Teerã respondeu então lançando seu primeiro ataque em solo israelense com mísseis e drones”, pontua a GZERO, subsidiária da consultoria de risco político Eurasia Group, em um relatório distribuído nesta manhã e obtido pelo Dinheirama,
Petróleo sobe
Os preços do petróleo se recuperaram acentuadamente no início da sessão de negociação de hoje, com o contrato de vencimento inicial do Brent da ICE (UKOIL) sendo negociado acima de US$ 80 o barril, à medida que as tensões no Oriente Médio aumentaram.
“O mercado alocando um prêmio de risco maior para o petróleo”, disse Ewa Manthey, estrategista de commodities do ING em um relatório enviado a clientes nesta manhã obtido pelo Dinheirama.
Escalada para o Irã
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse que Israel havia fornecido as bases para uma “punição severa para si mesmo” e que era dever de Teerã vingar a morte do líder do Hamas, já que ela ocorreu na capital iraniana. As forças iranianas já fizeram ataques diretamente contra Israel durante a guerra de Gaza.
Não houve comentário ou reivindicação de responsabilidade por parte de Israel. Os militares israelenses disseram que estavam avaliando a situação, mas não emitiram nenhuma nova diretriz de segurança para os civis.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deve se reunir para consultas com autoridades de segurança.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant disse que Israel não está buscando uma escalada da guerra, mas está se preparando para lidar com todos os cenários, disse, nesta quarta-feira, ao elogiar as forças que realizaram ataque a um comandante do Hezbollah em Beirute durante a noite.
Durante a visita, Gallant conversou com oficiais da defesa aérea sobre a morte do comandante do Hezbollah que Israel diz ter sido responsável por um ataque com foguetes no sábado, que matou 12 crianças e adolescentes nas Colinas de Golã, ocupadas por Israel.
“O desempenho (ontem) à noite em Beirute foi focado, de alta qualidade e contido”, disse Gallant, de acordo com uma nota de seu gabinete.
“Não queremos guerra, mas estamos nos preparando para todas as possibilidades, e isso significa que vocês devem estar preparados conforme necessário, e nós faremos nosso trabalho em todos os níveis acima de vocês”, afirmou ele.
Posição dos EUA
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, disse que Washington trabalharia para tentar aliviar as tensões, mas afirmou que os Estados Unidos ajudariam a defender Israel em caso de ataque.
“Não acho que a guerra seja inevitável. Eu mantenho isso. Acho que sempre há espaço e oportunidades para a diplomacia”, disse ele aos repórteres durante uma visita às Filipinas.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse nesta quarta-feira que os EUA não estão envolvidos ou cientes do assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.
“Isso é algo de que não estávamos cientes ou envolvidos. É muito difícil especular”, disse Blinken em uma entrevista ao Channel News Asia durante uma visita a Cingapura, quando perguntado sobre o impacto que isso poderia ter, de acordo com uma transcrição.
O assassinato, que ocorreu menos de 24 horas depois que Israel alegou ter matado o comandante do Hezbollah que, segundo o país, estava por trás de um ataque mortal nas Colinas de Golã, ocupadas por Israel, parece ter diminuído as chances de qualquer acordo de cessar-fogo iminente na guerra de 10 meses em Gaza.
Hamas
“Esse assassinato do irmão Haniyeh pela ocupação israelense é uma grave escalada que tem como objetivo quebrar a vontade do Hamas”, disse à Reuters Sami Abu Zuhri, oficial sênior do Hamas.
Ele declarou que o Hamas, grupo islâmico palestino que governava Gaza antes do ataque israelense, continuará o caminho que estava seguindo.
“Estamos confiantes na vitória”, disse ele.
O Catar, que tem intermediado conversações com o objetivo de interromper os combates em Gaza, condenou a morte de Haniyeh como uma perigosa escalada do conflito. China, Rússia e Turquia também condenaram.
O principal órgão de segurança do Irã se reuniu para decidir a estratégia do país em reação à morte de Haniyeh, um aliado próximo de Teerã, disse uma fonte com conhecimento da situação.
(Com Reuters)