As taxas dos DIs fecharam a terça-feira em alta firme, superior a 30 pontos-base em alguns vencimentos, com a percepção de que a ata do Copom adotou um tom mais duro ao tratar do combate à inflação e com o avanço dos rendimentos dos Treasuries, em um dia de alívio para os mercados globais após o estresse da véspera.
Com o movimento, a curva de juros brasileira voltou a precificar chances majoritárias de que a taxa básica Selic, hoje em 10,50% ao ano, possa subir já em setembro.
No fim da tarde desta segunda-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 que reflete a política monetária no curtíssimo prazo estava em 10,7%, ante 10,585% do ajuste anterior.
Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,535%, ante 11,227% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,675%, ante 11,439%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,84%, ante 11,795%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,84%, ante 11,808%.
A curva brasileira foi influenciada nesta terça-feira por dois fatores principais: a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada pela manhã, e a queda dos yields dos Treasuries.
Na ata, o BC indicou que não hesitará em elevar a Selic para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado.
“O Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, registrou o documento.
A mensagem foi considerada por parte do mercado como hawkish (dura) com a inflação, com os patamares mais elevados do dólar ante o real servindo de justificativa para o aumento recente da precificação de alta da Selic.
“A ata, nas entrelinhas, sugere um aperto, uma leitura um pouco mais hawkish. Não é nada tão explícito, mas transpareceu ser mais conservadora mesmo. Aí bateu na curva”, comentou Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e chefe de economia e finanças da ESPM.
Com isso, a taxa do DI para janeiro de 2025 de curtíssimo prazo subiu 11 pontos-base já no início da sessão, precificando chances maiores de o Copom subir a Selic ainda em 2024.
A curva brasileira também era influenciada pelo exterior, onde os yields dos Treasuries subiam após terem atingido os menores níveis em mais de um ano na véspera.
Por trás do movimento desta terça-feira estava a percepção de que houve certo exagero na leitura de que os Estados Unidos estão entrando em recessão rapidamente.
Assim, enquanto o rendimento do Treasury de dez anos subia 11 pontos-base durante a tarde, a taxa do DI para janeiro de 2033 um dos mais líquidos na ponta longa — chegou a avançar 6 pontos-base.
“O DI curto está abrindo, com perspectiva de que possa ter aumento da Selic, e as pontas longas acompanham o exterior”, pontuou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava apenas 24% de probabilidade de manutenção da Selic em 10,50% ao ano em setembro, na próxima reunião do Copom.
A probabilidade de alta de 25 pontos-base era novamente majoritária, de 76%. Na segunda-feira os percentuais eram de 57% e 43%, respectivamente.
Apesar da precificação, profissionais ouvidos pela Reuters têm afirmado que o Copom tende a manter a Selic estável até o fim do ano, a menos que o cenário se deteriore ainda mais.
Um dos argumentos é o de que o Federal Reserve deve iniciar seu processo de corte de juros em setembro, podendo reduzir os juros em 50 pontos-base já na largada. Isso traria algum alívio para o câmbio no Brasil e, em paralelo, para as expectativas de inflação.
“O texto da ata sugere um risco relevante de o Comitê decidir por uma alta de juros já na próxima reunião. Diante do cenário internacional volátil, mantemos a projeção de Selic estável em 10,5% até o final de 2024, mas reconhecemos que aumentou a chance de a taxa de juros terminar o ano mais elevada”, avaliou o time de economia do C6 Bank, liderado pelo economista-chefe Felipe Salles, em nota enviada a clientes.
Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos referência global para decisões de investimento subia 11 pontos-base, a 3,89%.