O dólar (USDBRL) à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 16, em leve queda no mercado doméstico, alinhado ao sinal predominante de baixa da moeda norte-americana no exterior.
As taxas dos Treasuries recuaram em meio a especulações sobre o fôlego da economia dos EUA após indicadores apontarem em direções contrárias e dirigente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) alertar sobre risco maior de desaquecimento da atividade.
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Pela manhã, momento de queda mais expressiva das taxas dos Treasuries, o dólar tocou mínima a R$ 5,4371. A moeda moderou as perdas no início da tarde e, após máxima a R$ 5,4860, encerrou o dia em baixa de 0,29%, cotada a R$ 5,4678.
Com recuo em três dos últimos cinco pregões, o dólar termina a semana com desvalorização de 0,86% o que leva as perdas em agosto para 3,32%.
Termômetro do desempenho da moeda americana em relação a seis divisas fortes, o DXY operou em queda ao longo do dia e rondava os 102,400 pontos no fim da tarde. Houve ganhos de mais de 1% do iene, o que trouxe certa pressão para divisas emergentes de países de juros altos.
Real e peso mexicano conseguiram se manter em terreno positivo, enquanto peso colombiano e chileno recuaram. Moedas de países desenvolvidos exportadores de commodities, como dólar australiano, canadense e neozelandês se apreciaram.
Nos EUA, as construções de moradias iniciadas tiveram queda de 6,8% em julho em relação a junho, bem acima do esperado por analistas (-0,6%).
Já o índice de sentimento do consumidor nos EUA, da Universidade de Michigan, subiu de 66 em julho para 67,8 em agosto, quando se esperava 67. As expectativas de inflação para 12 meses e cinco anos não sofreram alterações.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, observa que o mercado está muito sensível aos indicadores americanos nos últimos dias, até porque o próprio Fed tem reiterado sua postura ‘data dependent’.
“Tivemos dados melhores das vendas no varejo ontem. Mas hoje veio indicador de moradia bem mais fraco e que tem peso relativo no PIB maior do que o sentimento do consumidor. Isso derrubou o dólar lá fora”, afirma Costa.
Para o economista, a perspectiva é que a ata do Fed, que será divulgada na próxima quarta-feira, 21, traga um tom ‘dovish’, que deve ser reforçado por discurso do presidente do BC norte-americano, Jerome Powell, na sexta-feira, 23, no Simpósio de Jackson Hole.
“Olhando o curto prazo, a perspectiva é que essa postura do Fed abra espaço para o real continuar se apreciando, porque o dólar vai seguir em tendência de enfraquecimento no exterior”, afirma Costa, para quem, caso a taxa de câmbio recue para algo entre R$ 5,35 e R$ 5,40, o Banco Central brasileiro pode se sentir mais confortável para manter a taxa Selic em 10,50%. “O BC disse na última reunião do Copom que o câmbio levou a uma piora do balanço de riscos.”
Em evento pela manhã, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que o BC está “muito incomodado” com as expectativas de inflação e repetiu que está disposto a promover uma alta da taxa Selic, se for necessário para levar a inflação à meta.
Campos Neto revelou que o diagnóstico de que parte da piora das expectativas se devia à perda de credibilidade da política monetária levou os dirigentes do BC a adotar um discurso mais alinhado.
Em tese, a combinação de um início de corte de juros pelo Federal Reserve em setembro com uma alta da taxa Selic tende a ser benéfica ao real, não apenas por aumentar o diferencial de juros interno e externo, mas também por, segundo analistas, reforçar a independência e credibilidade da gestão da política monetária.
Fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado)falaram na necessidade de aumento da taxa Selic em até dois pontos porcentuais, em reunião com diretores do BC pela manhã.
Os motivos: hiato do produto apertado, mercado de trabalho aquecido e temor de que a política fiscal siga expansionista. Dois presentes no encontro disseram que, após declarações duras do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, seria importante elevar os juros para o BC preservar sua credibilidade.
“Isso pode ter ajudado o real a ter um desempenho relativo melhor que o dos pares, com o peso mexicano quase no zero a zero e o peso chileno em baixa”, diz Costa, da Monte Bravo, para quem uma eventual alta da Selic seria realmente um gatilho para nova rodada de apreciação do real.
“Tivemos também declarações de Lula hoje dizendo que o presidente do BC vai ter liberdade para subir os juros.”