A ausência de turbulência no mercado de câmbio, com o dólar (USDBRL) operando ao redor da estabilidade na comparação com o real, e a especulação em torno de quais serão as indicações do governo federal para a presidência e a diretoria do Banco Central aliviaram as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) no decorrer da tarde.
A expectativa de uma leitura mais benigna sobre a inflação no IPCA-15 de agosto, que será divulgado amanhã, também contribuiu para o movimento.
Na primeira etapa do pregão, as taxas chegaram a apresentar viés de alta ao longo da curva, diante da piora nas expectativas de inflação exibidas na Focus – em particular para 2025 e da expectativa com o discurso do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.
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Em evento no Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI), ele reforçou que a interrupção do ciclo de corte de juros no País reflete a cautela e dependência da autoridade monetária em relação a dados, e manteve a porta aberta para um novo aumento da Selic.
Ele também classificou como “granulares” eventuais divergências entre os diretores do Banco Central a respeito da política monetária.
Os comentários ficaram dentro do que o mercado esperava e foram mais “organizados” do que os de discursos feitos ao longo da semana passada, que trouxeram ruído à percepção do mercado sobre a rota a ser seguida pelo Banco Central, segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Sem surpresas no conteúdo do discurso, o que chamou a atenção dos investidores foi a antecipação da fala de Galípolo – de 10h para 9h30, aproximadamente e a justificativa dada pelo presidente do TCE do Piauí, Kennedy Barros, para a mudança no horário.
“Vamos correr um pouco com a programação porque o Dr. Galípolo recebeu uma convocação do presidente da República e não vai ficar o tempo que nós gostaríamos”, disse ele, segundo o repórter Cícero Cotrim, do Broadcast.
A “convocação” não consta na agenda nem de Lula nem de Galípolo, que é cotado para assumir o comando do Banco Central em 2025 no lugar do atual presidente, Roberto Campos Neto.
Mas a possibilidade de haver uma reunião entre o presidente da República e o diretor do BC ainda nesta segunda-feira aumentou a especulação sobre ele ser indicado ao comando da instituição pelo governo federal. Essa hipótese teria provocado a queda das taxas de DI à tarde, com sucessivas renovações das mínimas intradia.
“Pode ser um efeito direto da maior probabilidade de indicação do Galípolo”, disse Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset.
Segundo ele, o impacto nas taxas decorre da expectativa de que a Selic subiria agora, em linha com falas recentes do diretor sobre a possibilidade de um novo aperto na política monetária, abrindo espaço para taxas menores à frente. A Porto Asset espera quatro aumentos sequenciais da Selic de setembro em diante, de 0,25 ponto porcentual cada.
Cristian Pelizza, economista da Nippur Finance, explica que ao sinalizar a possibilidade de alta de juros, a comunicação do Banco Central “afeta os vencimentos curtos com abertura das taxas, mas traz visão de compromisso com meta inflacionária, o que acaba ancorando as expectativas futuras” e resulta em taxas de médio e longo prazo menores.
Cruz, da RB Investimentos, considera que o declínio dos juros futuros seria um reflexo do mercado “dando um voto de confiança no Galípolo, de que o nome dele é melhor do que os que foram especulados, cotados pela ala política do governo”.
A isso, segundo ele, se soma a notícia publicada no fim de semana pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, apontando que Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, e Roberto Paris, chefe da tesouraria do banco, são os nomes mais cotados no mercado financeiro para substituir Galípolo na diretoria de Política Monetária.
Também fica no radar do mercado a divulgação do IPCA-15 amanhã. A expectativa é de que os dados mostrem uma inflação mais controlada do que na leitura anterior.
A Porto Asset prevê alta de 0,13% para o índice cheio em agosto ante julho, quando houve avanço de 0,30%.
Pelizza, da Nippur, aponta que alguns dos efeitos inflacionários de meses anteriores estão se dissipando. “A questão do Rio Grande do Sul gerou um pequeno choque que vem amortecendo.
No cenário externo o dólar acelerou muito, depois amenizou. As commodities também não tem desgarrado. Quando olha o número em 12 meses fica perto do topo da meta, mas não deve fugir disso”, afirmou.
No fechamento, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 caía a 11,420%, de 11,485% no ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2027 diminuía a 11,385%, de 11,469%, e a taxa para janeiro de 2029 recuava a 11,495%, de 11,561%.
(Com Estadão Conteúdo)