Após ter renovado recorde de fechamento na quarta-feira, pela primeira vez na casa dos 137 mil pontos em encerramento, o Ibovespa (IBOV) teve acomodação nesta quinta-feira, 29, realizando lucros em dia de pressão no câmbio e na curva de juros doméstica.
O desempenho da B3 se manteve na contramão do avanço em Nova York dos principais índices de ações na maior parte do dia e, após oscilação na reta final, sem sinal único no fechamento: Dow Jones +0,59%, S&P 500 estável e Nasdaq -0,23%, o que contribuiu para que as perdas se acentuassem por aqui, perto do encerramento.
Nesta quinta, o Ibovespa oscilou dos 135.857,81 aos 137.370,36 pontos, saindo de abertura aos 137.349,23 pontos. Ao fim, mostrava queda de 0,95%, aos 136.041,35 pontos, com giro a R$ 20,7 bilhões na sessão.
Na semana, o índice ainda acumula ganho de 0,32%, com o do mês a 6,57%. No ano, a referência sobe 1,38%.
Com o fim do foco na temporada de balanços nos Estados Unidos, as atenções do mercado devem se voltar ao cenário econômico mais amplo.
Especula-se sobre possível redução de 100 pontos-base nas taxas de juros americanas até o final do ano, embora persista a incerteza quanto à decisão do Federal Reserve de implementar um corte modesto, de 25 pontos-base, ou um mais significativo, de 50 pontos-base, no próximo mês”, observa em nota a Guide Investimentos, na qual chama atenção também para a divulgação, amanhã, do indicador preferido do Fed para a inflação, o núcleo do PCE, que “será crucial para essa deliberação.
O Brasil operou hoje na contramão do exterior, com as bolsas lá fora em alta em boa parte da sessão”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, destacando a forte segunda leitura do PIB dos EUA no trimestre abril-junho. “Houve uma revisão altista do crescimento econômico nos Estados Unidos.
E a primeira leitura do PIB de abril-junho já tinha vindo acima do esperado, acrescenta. “Isso resultou, hoje, em alta global do dólar e também em abertura da curva de juros americana”, aponta a analista, referindo-se aos efeitos imediatos, no mercado, da percepção de que a economia americana segue mais sólida do que se estimava.
A economia americana está muito sadia, em crescimento, ainda que a inflação esteja vindo para baixo – uma combinação que traz recursos dos investidores para os Estados Unidos”, conclui Larissa, referindo-se a cenário de “goldilocks” para a economia americana “nem quente o suficiente para trazer inflação, nem fria a ponto de resultar em temores sobre recessão ou dúvida sobre os lucros corporativos”. Ou seja, como sugere a expressão citada pela analista (“cachinhos dourados”), o cenário perfeito para uma economia.
Na agenda doméstica, “tivemos alguns dados importantes, como IGP-M abaixo do esperado pelo mercado, e IPP mensal ligeiramente acima da expectativa”, diz Anderson Silva, sócio da GT Capital. “Após alguns dias de expressivo movimento de alta, o mercado fez mesmo um movimento de realização de lucros”, hoje, acrescenta o especialista.
O dólar, ainda em faixa de indecisão, após alguns dias de queda forte em semanas anteriores, voltou hoje a patamar acima de R$ 5,60, podendo inclusive ter sido impactado por essa realização de lucros na Bolsa pelos investidores estrangeiros, que tinham começado a voltar quando o Ibovespa estava na casa de 120 mil pontos o que ajudou a aumentar um pouco o volume de negociação na B3, que vinha bem abaixo da média”, diz também o sócio da GT Capital.
Ele observa que os juros futuros continuam a precificar alta da Selic, apesar de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já ter dito que “o mercado vê uma coisa e os economistas veem outra”, aponta Silva. “Com isso, seguimos observando alta volatilidade em todos os vencimentos futuros”, na curva do DI.
Na Bolsa, com dólar à vista em alta de 1,22%, a R$ 5,6231 no fechamento desta quinta-feira, a realização de lucros foi perceptível nas ações de maior peso e liquidez, com poucas exceções.
No setor metálico, Gerdau (GGBR4) e Metalúrgica Gerdau conseguiram subir nesta quinta, respectivamente, 2,27% e 1,84%. Entre os grandes bancos, BB (BBAS3) fechou em alta de 0,43%.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, além das duas ações de Gerdau, destaque também para CSN Mineração (CMIN3) (+1,62%), Natura (NTCO3) (+1,01%) e Cemig (CMIG4) (+0,43%).
No lado oposto, Azul (AZUL4) (-24,14%), Eztec (-4,85%) e Pão de Açúcar (PCAR3) (-4,56%).
Entre as blue chips, Petrobras (PETR3; PETR4) cederam, respectivamente, 1,18% e 0,68%, e Vale (VALE3) ensaiou virar no fim, mas ainda fechou em leve baixa, de 0,12%.
A Azul divulgou comunicado no período da tarde em que informa ter desenvolvido um novo plano estratégico para melhorar a estrutura de capital e liquidez, em resposta aos desafios econômicos atuais.
A declaração foi feita após reportagens sugerirem que a Azul poderia estar considerando uma oferta de ações e a busca por proteção contra credores nos EUA, através do Chapter 11, reporta a jornalista Beatriz Capirazi, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A empresa diz que as notícias foram mal interpretadas.
Os rumores de que a Azul pode estar em trajetória de crise financeira foram recebidos com preocupação pela parte do governo que acompanha o setor aéreo, informa de Brasília o jornalista Luiz Araújo, do Broadcast.
Um representante do alto escalão disse também ao Broadcast que a demanda da companhia por liquidez se assemelha ao observado nas operações da Gol.
O volume de recursos necessário para o pagamento de dívidas já adiadas, considera a fonte do governo, supera a capacidade das políticas estatais de socorro em curso.
A viabilização da linha de crédito de R$ 5 bilhões, que passou na quarta-feira pelo Congresso, “é apenas um respiro”, afirma a fonte.
(Com Estadão Conteúdo)