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Princípios de economia e o fantasma da crise

por Alexsandro Rebello Bonatto
3 min leitura

Princípios de economia e o fantasma da criseExiste um ditado popular que diz: “Quando tudo mais falhar… leia o manual”. É exatamente isso que vou propor para que possamos finalmente entender que diabos é essa crise financeira internacional. Entendo que devemos consultar o manual – ou, no caso, o livro-texto de economia[bb]. Embora muitos dos nossos comentaristas não abra um desses livros desde seu tempo de “calouro” no curso de economia, geralmente as respostas estão todas lá, basta consultar. Vou provar minha tese utilizando os princípios básicos de economia (que normalmente são ensinados no primeiro dia de aula) para explicar o furacão financeiro que estamos vivendo.

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1. Pessoas enfrentam tradeoffs: “Não existe almoço grátis”. Para obter uma coisa que desejamos, em geral temos de abrir mão de outra coisa da qual gostamos. Tomar decisões exige comparar um objetivo com outro. Quando as pessoas estão agrupadas em sociedade, elas se deparam com diferentes tipos de tradeoff.

O tradeoff clássico é aquele entre “armas e manteiga”. Quanto mais for gasto em defesa nacional para proteger o país de agressores externos (armas), menos se poderá gastar com bens pessoais para aumentar o padrão de vida (manteiga).
Lição para a crise: se você enfrentar o tradeoff entre refinanciar pela quarta vez a hipoteca de sua casa ou não trocar o seu SUV (Sport Utility Vehicle), escolha a segunda opção.

2. O custo de alguma coisa é do que você desiste para obtê-la: como as pessoas enfrentam tradeoffs, a tomada de decisões exige a comparação dos custos e benefícios dos vários cursos de ação. O custo de oportunidade de um item é aquilo de que se abre mão para obtê-lo. Ao tomar qualquer decisão, como quando se trata de freqüentar uma universidade, deve-se estar atento aos custos de oportunidade que acompanham cada ação possível.
Lição para a crise: o custo de oportunidade para aprovar o milésimo empréstimo subprime muito provavelmente será a falência de seu banco.

3. Pessoas racionais pensam na margem: as decisões que tomamos na vida são, raramente, em preto e branco; em geral, têm tons de cinza. Quando é hora de jantar, a decisão não é jejuar ou se entupir de comida, mas a de pegar mais uma colher de sopa. Quando as provas se aproximam, a decisão não é de jogá-las para o alto ou estudar 24 horas por dia, mas entre gastar mais uma hora revendo a matéria ou assistir televisão.

Os economistas empregam a expressão alterações marginais para descrever pequenos ajustes incrementais a um plano de ação incremental. “Margem” também significa “beirada”, de modo que alterações marginais são ajustamentos na beirada daquilo que você está fazendo.

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O princípio marginal nos permite tomar melhores decisões[bb]; podemos usá-lo para determinar se o aumento de uma unidade em uma variável nos deixará ou não em melhores condições. Por exemplo: um barbeiro poderia decidir se deve manter sua barbearia aberta por mais uma hora. Você poderia decidir se deve estudar mais uma hora para a prova de economia.

O princípio marginal se baseia na comparação de benefícios e custos marginais de uma determinada atividade. O benefício marginal de alguma atividade é o benefício adicional resultante de um pequeno aumento na atividade, como, por exemplo, a receita adicional gerada quando uma barbearia fica aberta por mais 1 hora. De modo semelhante, o custo marginal é o custo adicional resultante de um pequeno aumento na atividade, como, por exemplo, os custos adicionais incorridos quando se mantém uma loja aberta por mais 1 hora.

De acordo com o princípio marginal, você deve aumentar o nível de atividade enquanto o benefício marginal for maior que o custo marginal. Ao atingir o nível em que o benefício marginal é igual ao custo marginal, seu aprimoramento está realizado.
Lição para a crise: se você acha que benefício marginal de adquirir mais uma cota do fundo administrado pela empresa de Madoff é maior que o custo marginal, pense de novo.

4. Pessoas respondem a incentivos: como as pessoas tomam decisões comparando custos e benefícios, seu comportamento pode mudar quando os custos ou benefícios se alteram. Isto significa que as pessoas respondem a incentivos. Quando o preço das maçãs aumenta, por exemplo, as pessoas decidem comer mais peras e menos maçãs, porque o custo de comprar maçãs está maior. Ao mesmo tempo, os produtores de maçãs decidem contratar mais gente e colher mais maçãs, porque o benefício de vender maçã também é maior.
Lição para a crise: se você trabalha num grande banco americano que concedeu bônus milionários para seus executivos como incentivo para que eles tomassem decisões mais arriscadas, acho que você provavelmente já está desempregado.

5. O comércio pode melhorar a situação de todos: quando um membro de sua família procura emprego, concorre com membros de outras famílias que também estão em busca de emprego. As famílias concorrem umas com as outras quando vão às compras, porque cada uma das famílias quer comprar os melhores produtos pelo menor preço. Assim, em certo sentido, cada família em uma economia compete com todas as outras famílias.

Apesar desta competição, sua família não estaria em melhor situação se se isolasse das outras famílias. Se o fizesse, teria de produzir seus alimentos, confeccionar suas roupas, construir sua própria casa etc. Evidentemente, sua família ganha muito com a possibilidade de poder comerciar com outros.

O comércio permite que cada pessoa se especialize nas atividades em que é mais apta, seja na agricultura, na confecção de roupas ou na construção. Realizando negócios[bb] com outras, as pessoas podem comprar uma maior variedade de bens e serviços a um custo menor.
Lição para a crise: quando você ouvir o Obama anunciar mais algum pacote de incentivos para a indústria americana, como o Buy American Act, comece a ficar preocupado.

6. Os mercados são, em geral, uma boa forma de organizar a atividade econômica: em seu livro de 1776, o economista Adam Smith fez a mais famosa observação de toda a teoria econômica. As famílias e as empresas, ao interagirem nos mercados, agem como que guiadas por uma “mão invisível” que as conduz a resultados de mercado desejáveis.

Na verdade, são os preços que permitem à “mão invisível” dirigir a atividade econômica. Os preços refletem tanto o valor que a sociedade atribui a um bem quanto os custos em que ela incorre para produzi-lo. Como as famílias e as empresas levam os preços em consideração ao tomar suas decisões, elas, sem saber, estão levando em conta os benefícios e custos de suas ações. Em decorrência, os preços encaminham esses tomadores de decisões individuais para resultados que, muitas vezes, maximizam o bem-estar da sociedade como um todo.
Lição para a crise: da próxima vez que você ouvir falar em deflação, não fique tão animado. Sempre que ocorre queda generalizada nos preços a economia fica sem saber para onde ir.

7. Os governos podem às vezes melhorar os resultados do mercado: a mão invisível orienta os mercados para uma alocação eficiente dos recursos. Contudo, por várias razões, a mão invisível às vezes não funciona. Os economistas usam a expressão falha de mercado para referir-se à situação em que o mercado por si só não consegue alocar recursos eficientemente.

Uma das possíveis causas de falhas de mercado são as externalidades. Uma externalidade é o impacto das ações de alguém sobre o bem-estar dos que estão em torno. A poluição é um exemplo clássico. Se uma fábrica de produtos químicos não paga todo o custo da fumaça que emite, ela tenderá a emitir demais. Neste caso, o governo pode aumentar o bem-estar geral através de uma regulamentação ambiental.

O exemplo clássico de uma externalidade benéfica é a criação de conhecimento. Quando um cientista faz uma descoberta importante, ele produz um recurso valioso que pode ser utilizado por outras pessoas. Neste caso, o governo pode aumentar o bem-estar econômico ao subsidiar a pesquisa básica – como de fato faz.
Lição para a crise: ok, aqui não vou fazer nenhuma piada. O negócio é segurar na mão do Obama e rezar. Mas, se você está confiando no marido da Carla Bruni, no autor da frase “a crise virá só como uma marolinha” ou no coitado do Gordon Brown, entre na procissão e reze também.

8. O padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços: quase toda variação nos padrões de vida pode ser atribuída a diferenças na produtividade[bb] – isto é, a quantidade de bens e serviços produzida em uma hora de trabalho. Nos países onde os trabalhadores podem produzir grande quantidade de bens e serviços por unidade de tempo, a maior parte das pessoas tem um alto padrão de vida; nos países onde os trabalhadores são menos produtivos, a maior parte das pessoas vive com menor conforto.
Lição para a crise: se até o país com a mais alta produtividade do mundo teve que montar um pacote de salvamento para sua indústria automobilística, a coisa deve estar feia mesmo.

Bibliografia:

  • Mankiw, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia; tradução de Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
  • Mendes, Judas Tadeu Grassi. Economia: fundamentos e aplicações. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
  • O´Sullivan, Arthur. Introdução à economia: princípios e ferramentas; tradução de Maria Lúcia G. L. Rosa. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

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Alexsandro R. Bonatto, economista e com MBA em Gestão Empresarial, é professor universitário, instrutor e sócio da Ventura Corporate, empresa de treinamentos corporativos. Tem mais de 13 anos de experiência no mercado de crédito.

Crédito da foto para stock.xchng.

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