O Brasil talvez não saiba baixar os juros sem causar problemas para a economia, avalia o Goldman Sachs em um relatório enviado a clientes nesta quinta-feira (12).
Em um relatório “Easing is Not for Everybody”, em que “easing” é o temo utilizado, em inglês, para os cortes de juros, o economista-chefe para América Latina, Alberto Ramos, comenta sobre a política monetária do Brasil.
O Banco Central, talvez, tenha perdido a mão nos cortes de juros tendo em vista a política fiscal expansionista do governo Lula. O resultado foi um aumento do PIB, mas de mãos dadas com uma nova pressão inflacionária.
A Selic começou a ser tesourada em agosto de 2023, quando passou de 13,75% para 13,25%. A taxa caiu até os atuais 10,5% em maio deste ano e vem sendo mantida desde então. A expectativa, agora, é de uma elevação de 0,25 p.b. em 18 de setembro.
Ou seja, o Brasil estará elevando os juros em um momento em que outros países desenvolvidos, como os Estados Unidos, liderados pelo Federal Reserve (Fed), estão cortando suas taxas. Apesar disso, o Copom precisa agir para preservar sua credibilidade diante da piora das expectativas inflacionárias, optando por uma postura ativa ao invés de esperar passivamente.
O BCE já anunciou hoje um corte em suas principais taxas de juros em 25 pontos-base (pb), após concluir reunião de política monetária. Desta forma, a taxa de depósito foi reduzida de 3,75% para 3,50%, a de refinanciamento, de 4,25% para 3,65%, e a de empréstimos, de 4,50% a 3,90%.
Expectativas de inflação não ancoradas para 2024-25
PIB em alta
Ramos ressalta que a economia se expandiu em ritmo acelerado durante o 1º semestre de 2024, impulsionada em grande medida pela política fiscal altamente expansionista.
“A economia agora está superaquecendo: o hiato de produção mudou para um território positivo claro e a taxa de desemprego está abaixo da NAIRU”, ressalta o economista. A NAIRU (Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment) é a taxa de desemprego que não acelera a inflação.
O PIB veio mais forte do que o esperado e muito acima da tendência de 1,45% na passagem trimestral no 2º trimestre, com base na impressão também acima da tendência de 1,04% trimestral no 1º tri.
“A demanda doméstica final cresceu 2,5% na passagem trimestral no começo do ano e 1,5% no 2º trimestre (2,3% incluindo estoques), impulsionada pelo forte consumo das famílias, consumo do governo e investimento fixo bruto”, pontua Ramos.
Com isso, o Goldman Sachs espera que a economia cresça pelo menos 3% em 2024, recentemente atualizado de 2,5%. O banco estima que o hiato de produção agora esteja acima de 1% do PIB.
O hiato de produção é a diferença entre o nível real de produção de uma economia e o seu nível potencial de produção, que é aquele que poderia ser alcançado utilizando todos os recursos de maneira eficiente, sem gerar pressões inflacionárias.
Selic subindo a escada
De acordo com Ramos, o próximo aumento dos juros se justifica pelo aquecimento da economia brasileira, com crescimento acima da tendência e um hiato de produção agora positivo. Além disso, o mercado de trabalho continua apertado, com a taxa de desemprego em seu nível mais baixo em 10 anos, inferior às estimativas da NAIRU (taxa de desemprego que não acelera a inflação).
O aumento dos salários e da renda real disponível das famílias, políticas fiscais pró-cíclicas e a depreciação de 11% do real desde março também contribuem para a necessidade de uma ação por parte do Copom.
O relatório aponta que, apesar de a Selic estar em 10,50%, o nível não é considerado excessivamente restritivo.
O Goldman Sachs espera que a taxa atinja 11,75% até janeiro de 2025, com cortes sendo iniciados em junho de 2025, levando a Selic a 10,25% até o final do ano. No entanto, há riscos equilibrados para essa previsão: uma desvalorização adicional do real ou a deterioração das expectativas de inflação poderiam resultar em um ciclo de alta mais profundo. Por outro lado, uma melhora no câmbio e nas expectativas poderia reduzir o ciclo para 100 pontos-base.