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Veja como foi o caminho da AgroGalaxy até a recuperação judicial

Na avaliação de consultores do mercado de distribuição de insumos, o pedido de recuperação judicial do grupo reflete a conjuntura desafiadora do setor

por Redação Dinheirama
3 min leitura
Agrogalaxy

A AgroGalaxy (AGXY3), grupo varejista de insumos agrícolas, protocolou na quarta-feira, 18, um pedido de recuperação judicial.

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O anúncio ocorreu pouco após ela ter comunicado a renúncia do diretor-presidente, Axel Jorge Labourt, e de cinco membros do Conselho de Administração.

O então diretor financeiro da companhia, Eron Martins, foi nomeado para o cargo de CEO.

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A empresa disse, em comunicado, que o pedido de recuperação judicial foi protocolado em caráter emergencial diante do vencimento antecipado de operações financeiras, visando à proteção de seus ativos e de suas investidas e para viabilizar a readequação de sua estrutura de capital diante dos desafios do agronegócio brasileiro.

Nesta quinta-feira, 19, as ações da AgroGalaxy chegaram a cair 23,47%, na maior queda do mercado brasileiro. A cotação chegou a R$ 0,75, o menor preço de tela desde IPO (oferta pública inicial de ações), em 2021.

Nos últimos anos, a combinação da queda nos preços das commodities, eventos climáticos adversos, juros elevados e aumento dos custos de produção provocou um aumento expressivo na inadimplência dos produtores rurais, com forte impacto na liquidez da companhia, disse a empresa, em comunicado.

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Procurada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a AgroGalaxy não quis se manifestar.

“O AgroGalaxy tentou, de todas as formas, evitar recorrer à Justiça, mas a medida é necessária para proteger o negócio e, mais importante, permitir que a empresa siga trabalhando lado a lado com os agricultores”, disse Eron Martins no comunicado.

A companhia disse também que vai adotar medidas adicionais para aumentar sua eficiência operacional, com redução de custos fixos, melhoria do mix de produtos, além da otimização do capital de giro, com foco em estoques e recebíveis, para assegurar a sustentabilidade da empresa no médio e no longo prazo.

“Conduziremos todo o processo sempre com muita transparência e respeito a todos os envolvidos, especialmente os produtores rurais. Estamos seguros de que as relações estabelecidas com nossos clientes e fornecedores nos darão a base necessária para enfrentar este desafio, bem como seguirmos fortalecendo o agronegócio brasileiro”, finalizou Eron Martins.

Para o Citi, a empresa passa por um período desafiador e parece depender da potencial recuperação do mercado brasileiro de insumos agrícolas, um processo que “pode demorar”, na visão do banco.

A queda nas vendas de insumos

Apesar de o pedido de recuperação judicial ter surpreendido o mercado, os resultados financeiros da companhia já mostravam dificuldade de reação e continuidade de atraso nas vendas de insumos aos produtores rurais.

A empresa registra prejuízo ajustado, margens de rentabilidade negativas e queda na receita líquida consecutivamente desde o primeiro trimestre de 2023, à exceção do quarto trimestre do ano passado.

Fora os indicadores de rentabilidade, a dívida líquida da companhia se mantinha em uma constante ao longo dos últimos meses.

Os números mais recentes da AgroGalaxy, referentes ao segundo trimestre deste ano, apontam para prejuízo líquido ajustado de R$ 362,4 milhões, 41% maior na comparação com igual período do ano passado.

Com o alongamento, as dívidas seriam liquidadas em até três anos, segundo a AgroGalaxy (Imagem: Reprodução/hannahlmyers/Pixabay)
Com o alongamento, as dívidas seriam liquidadas em até três anos, segundo a AgroGalaxy (Imagem: Reprodução/hannahlmyers/Pixabay)

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi negativo em R$ 83,4 milhões no segundo trimestre de 2024, ante R$ 72,5 milhões negativos um ano antes.

O agravamento do prejuízo

Em um ano, a margem Ebitda ajustado da companhia saiu de 4% negativa para 7,9% negativa. A receita líquida diminuiu 42,4% em um ano, do segundo trimestre de 2023 para R$ 1,056 bilhão no segundo trimestre deste ano.

A alavancagem do grupo (relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado) saltou de 3,3 vezes para 8,5 vezes, acima do covenant (cláusula restritiva para endividamento firmada em contratos de dívida) estabelecido pela companhia, de 3 vezes.

A dívida líquida da AgroGalaxy ao fim de junho totalizava R$ 1,512 bilhão, considerando empréstimos e financiamentos bancários e obrigações com títulos securitizados de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e sem incluir débitos com fornecedores.

A companhia encerrou o primeiro semestre do ano com geração de caixa negativa em R$ 156,6 milhões.

Na quarta, além do pedido de recuperação judicial, a Agrogalaxy atrasou um pagamento de R$ 70 milhões de títulos de dívida.

Mesmo com os desafios financeiros e operacionais apresentados desde o início de 2023, o mercado apostava em outros mecanismos de reestruturação pela AgroGalaxy.

As tentativas de evitar a recuperação judicial

Uma operador do setor financeiro que acompanhou de perto a situação da empresa diz que a possibilidade de recuperação judicial sempre foi descartada publicamente pelos executivos, mas era de conhecimento que a situação era ruim, sem capacidade de pagamento de algumas dívidas, embora havia esperança de alguma intervenção com aportes do Aqua (Capital, fundo de investimento de private equity controlador da empresa).

Em dezembro, o Aqua fez uma injeção de R$ 150 milhões no grupo para reforço de caixa e redução do endividamento, a fim de que a empresa cumprisse os covenants (compromissos de contratos de financiamento ou empréstimos que servem para proteger os interesses dos credores) de alavancagem de 2023.

A AgroGalaxy sinalizava ao mercado a retomada do mercado de insumos agrícolas e a melhor equalização de estoques.

Nas teleconferências aos investidores, executivos citavam que “o pior já passou”, a “tempestade ficou para trás” e que “o dever de casa foi feito” em controle de margens e redução de despesas, mas os balanços seguiam mostrando redução na receita.

A expectativa era de um ano mais favorável ao varejo agrícola. “Esperamos um ano mais estável em commodities e insumos, mas ainda entendemos que precisamos de estrutura financeira mais robusta. Não usaremos os recursos para comprar nenhuma empresa ou para comprar à vista, mas para enfrentar 2024 e estarmos mais preparados para passar por desafios”, disse o atual CEO e então CFO (diretor financeiro) e diretor de Relações com Investidores do AgroGalaxy, Eron Martins, ao Broadcast no início do ano.

O enxugamento da estrutura

O foco da companhia neste ano, segundo os executivos, era ampliar a sua rentabilidade com mix de produtos e ter uma estrutura mais enxuta. As intervenções incluíram desligamento de 80 posições corporativas e fechamento de 19 lojas, de um total de 169.

Em agosto, na última divulgação de resultados financeiros, Martins afirmou não estar nos planos da empresa novas ações de reestruturação, como demissão de funcionários ou fechamento de unidades adicionais.

“Estamos avaliando o desempenho de nossas unidades e regiões e, neste momento, mantemos a configuração estabelecida em fevereiro. Temos obtido sucesso nas renegociações de dívidas; todas as que venceram até agora foram prorrogadas por pelo menos 12 meses”, afirmou na ocasião.

Agronegócio, pneus
(Imagem: Unsplash/ roberto bernardi)

Segundo ele, os indicadores de saúde financeira da empresa estavam intactos, aguardando a retomada do mercado. “As adversidades fazem parte do negócio, assim como faz parte termos uma estrutura capaz de se adaptar a esse contexto”, disse.

A crise refletiu também no valor de mercado da AgroGalaxy, com desvalorização de cerca de 90%. “A empresa, que chegou a valer R$ 1,7 bilhão no auge, hoje está avaliada em cerca de R$ 250 milhões”, disse o sócio-fundador da L4 Investimentos, Hugo Queiroz.

O desafio do setor

Na avaliação de consultores do mercado de distribuição de insumos, o pedido de recuperação judicial do grupo reflete a conjuntura desafiadora do setor, com demanda fraca pelos produtores rurais, atraso no pagamento pelos agricultores e descasamento entre estoques.

“Há questões específicas também ligadas à gestão, sobretudo de estoques e preços de produtos. O grupo expandiu em momento de euforia do setor, em 2021 e 2022, e a desaceleração da abertura de lojas parece que foi tardia, dado que o mercado dava sinais de retração”, afirmou uma fonte do setor.

Para o sócio diretor da Blink Consultoria, Lars Schobinger, a queda na margem operacional do mercado nacional de distribuição de insumos agrícolas somado ao baixo fluxo de insumos contribuíram para a situação financeira delicada da empresa.

“Com as distribuidoras com margens achatadas e um movimento de RJs relevante de agricultores, há pouco espaço de manobra para as empresas lidarem com o baixo fluxo de caixa. O setor está em uma crise de fluxo de caixa”, classificou Schobinger.

(Com Estadão Dinheirama)

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