Desde o começo de outubro, a cotação do dólar (USDBRL) no mercado doméstico subiu R$ 0,25, passando de R$ 5,45 para R$ 5,70. Deste aumento, 60% ou R$ 0,15 são atribuídos à evolução desfavorável do ambiente externo, segundo aponta relatório escrito pela equipe de analistas da LCA Consultores. Os outros R$ 0,10 correspondem à depreciação do real em relação à cesta – ou seja, estão associados a fatores internos, principalmente às incertezas em torno do cenário fiscal.
O cenário delineado pela consultoria decorre da substituição de uma euforia – que se instalou no mercado após a reunião sobre juros do Federal Reserve em 18 de setembro – por um estado de apreensão motivado por estatísticas recentes, que mostram que o mercado de trabalho nos EUA segue fortalecido, e que o consumo das famílias se mantém dinâmico, o que resulta em perda de ímpeto no recuo da inflação.
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Na reunião de setembro, o Fed cortou em 0,50 ponto porcentual a taxa básica de juro e, ali, parecia prenunciar um ciclo rápido de normalização da política monetária americana, o que injetou, num primeiro momento, certa euforia no mercado.
Essas estatísticas econômicas, segundo escrevem os analistas da LCA, “contribuíram para uma reavaliação dos mercados” em relação ao ciclo de cortes nos juros do Fed – e a reavaliação foi motivada, também, pelos desenvolvimentos políticos nos EUA, observa a LCA.
“A duas semanas das eleições, os modelos de predição e as casas de apostas apontam probabilidade relevante de uma vitória tripla dos republicanos: Trump é eleito e o partido obtém maioria na Câmara e no Senado. As propostas que Trump vem apresentando ao longo da campanha, se levadas a cabo, tenderiam a trazer implicações significativas para o cenário econômico norte-americano e mundial”, anotaram o corpo de economistas da LCA Consultores.
As propostas do republicano colocadas para avaliação do eleitorado, como aumento de impostos de importação, corte de impostos corporativos e restrições drásticas à imigração, poderão ampliar ainda mais o déficit fiscal e pressionar a inflação. Ainda, segundo a LCA, o receio de que esse cenário político mais desafiador passe a preponderar contribuiu para pressionar as taxas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA, fortalecendo o dólar nos mercados internacionais.
“A evolução do ambiente internacional tem contribuído para renovar as pressões sobre a cotação cambial doméstica – que, desde o começo de outubro, passou de R$ 5,45 para R$ 5,70 por dólar. Comparando a evolução da moeda brasileira com a evolução de uma cesta de moedas de economias concorrentes, estimamos que cerca de 15 centavos da alta de 25 centavos observada na cotação do dólar no acumulado deste mês podem ser atribuídos à evolução desfavorável do ambiente externo”, apontam os analistas da LCA Consultores.
Os outros 10 centavos, de acordo com eles, correspondem à depreciação de nossa moeda em relação à cesta: ou seja, estão associados a fatores internos, principalmente relacionados às incertezas em torno do cenário fiscal, complementam.
Segundo os profissionais, embora a casa continue a avaliar que o governo buscará reafirmar seu compromisso com o arcabouço fiscal, também passa a considerar improvável que as incertezas fiscais, e também as externas, venham a ter diluição consistente no curto prazo.
Dólar a R$ 5,50
Mesmo considerando que o governo vai buscar reafirmar o compromisso com o arcabouço fiscal, a LCA Consultores afirma achar improvável que as incertezas fiscais, e também as externas, venham a se diluir no curto prazo. Com base nesse entendimento, a consultoria elevou de R$ 5,30 para R$ 5,50 o dólar projetado para o final de 2024.
Nesse contexto de dólar mais alto, e em que a inflação deverá seguir próxima ao teto da meta, a persistente pressão cambial aumenta a chance de que a taxa Selic seja elevada acima dos 12%. Por ora, escrevem em relatório os economistas da LCA, esse é o cenário-base da instituição.
“Para 2025, mantemos expectativa de moderada descompressão cambial, que ajudará na desaceleração da inflação e permitirá alguma flexibilização monetária até o final do ano. Mas esse cenário está condicionado a um (incerto) refluxo de riscos políticos externos e de incertezas fiscais domésticas”, escrevem os economistas da LCA.