Terminou às 23h45 desta sexta-feira (25) o último debate do segundo turno entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, transmitido pela TV Globo. Participaram o atual prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Em mais de um momento, o prefeito ficou incomodado e irritado com a proximidade de Boulos no estúdio, chegando a pedir espaço para a sua passagem.
No primeiro turno, Nunes obteve 1.801.139 votos, sendo 29,48% dos votos válidos. Já Boulos registrou 1.776.127 votos, 29,07%. Uma diferença de apenas 0,41 ponto porcentual (25 mil votos) de diferença.
A mais recente pesquisa Quaest, divulgada na última quarta-feira, 23, mostrou que a distância entre os candidatos vem se estreitando. O prefeito aparece com 44% das intenções de votos, enquanto o parlamentar tem 35%. A margem de erro do levantamento é de três pontos porcentuais para mais ou para menos.
Boulos é apadrinhado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e recebeu o apoio dos candidatos derrotados Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB). Nunes é endossado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e recebeu apoio de Marina Helena (Novo).
Nunes, rachadinha e Marcola
O candidato Boulos usou seu direito de resposta, durante o debate contra o candidato à reeleição, para pedir aos espectadores que pesquisassem a relação do atual prefeito com Marcola, do PCC.
“Vou aproveitar esse pedido para pedir para pesquisarem no Google: ‘Nunes’, ‘rachadinha’ e ‘Marcola’. Vai sair a reportagem e um vídeo estarrecedor para comprovar o que estou falando”, provocou Boulos.
O resultado da pesquisa cai em uma notícia da revista Fórum, que publicou uma denúncia feita por um servidor público de São Paulo que acusa o Nunes de supostamente praticar “rachadinha” antes mesmo de assumir a prefeitura.
Arcabouço fiscal
Boulos desconversou, durante o debate, o motivo de ter votado contra o arcabouço fiscal.
Em fala sobre a capital, Nunes perguntou sobre o arcabouço. “Por que você votou contra o arcabouço fiscal, que é tão importante para manter o equilíbrio das contas públicas?”.
Boulos, então, desconversou. “Ele falou que ia falar da cidade e perguntou de uma votação minha como deputado federal. Acho que o marqueteiro não treinou bem essa”.
Sigilo bancário e tiro para o alto
Os candidatos trocaram acusações sobre o passado no terceiro bloco. O psolista voltou a desafiar o emedebista a abrir o seu sigilo bancário. “Deve ter alguma coisa cabeluda”, afirmou.
Nunes, em resposta, afirmou que não abriria o sigilo para o público, mas o faria para “qualquer autoridade” que o solicitasse, descrevendo o desafio do psolista como uma “tática de marketing” baseada em fazer “cortina de fumaça”.
O prefeito voltou a afirmar que não possui indiciamentos e o seu adversário está com “dor de cotovelo” do trabalho feito durante a sua gestão. Em seguida, o mandatário revisitou uma nota da Polícia Civil paulista sobre uma detenção de ativistas do MTST, entre os quais Guilherme Boulos, acrescentando que o psolista também está envolvido na depredação ao prédio da sede da Fiesp.
“Eu não depredei a Fiesp, é mais uma das suas mentiras”, rebateu Boulos, insistindo no desafio da abertura do sigilo bancário, alegando suspeitas no inquérito conhecido como “máfia das creches”. “Quem não deve não teme. Eu não devo e abro o meu”, disse o candidato do PSOL.
Boulos declarou que “não pode haver corrupção” para uma boa administração municipal, e cita a suposta participação de Nunes no esquema conhecido como Máfia das Creches. Ele questiona o atual prefeito o motivo de valores de serviços prestados por uma de suas empresas terem sido depositados em uma de suas contas bancárias pessoais. “Não tenho nada para esconder, nunca tive nenhum indiciamento, nenhuma condenação”, respondeu o emedebista
O candidato do MDB continuou, relatando que o adversário já foi referido como “criminoso” em um antigo processo judicial. “É muito ruim a gente querer falar da cidade e ele vem trazer mentiras aqui. Contra mim, absolutamente nada”, concluiu Nunes. Boulos reafirma que seu oponente “não responde” às suas perguntas. “Ele diz que eu não trabalho. Quando você diz isso você não ofende a mim, você está ofendendo aos professores”, diz o psolista.
Na sequência, o candidato do PSOL relembrou que o prefeito foi preso por supostamente dar tiro para o alto em boate. Nunes diz que não houve inquérito sobre o caso.
Impostos
O atual prefeito disse que reduziu impostos e trouxe empresas para a capital.
“Eu reduzi impostos, eliminei taxas e a gente está avançando, trazendo muitas empresas para São Paulo. As ações que estamos desenvolvendo em relação à desburocratização, combate à corrupção e ambiente saudável para as pessoas empreenderem, tem feito dessa cidade, a cidade do trabalho, um local propício para as pessoas virem aqui”, disse Nunes.
O atual prefeito perguntou para seu adversário o motivo de o PSOL ter votado contra o projeto para reduzir impostos na capital. Dentre os impostos, Nunes cita a redução de ISS de audiovisual, streaming e franquia.
Boulos se justificou, dizendo que os vereadores colocaram “jabuti” na segunda votação da proposta. “O PSOL votou a favor na primeira votação. Na segunda votação, ele e a turma dele incluíram jabutis, que são coisas que não tem nada a ver com o projeto. O jabuti que colocaram é a prefeitura poder pegar moedas estrangeiras”.
Nas propostas, Boulos falou ter incorporado uma proposta de Tabata Amaral (PSB), que apoiou ele para o segundo turno, como o Jovem Empreendedor.
CEUs
Boulos afirmou que sua vice, Marta Suplicy (PT), criou o CEU e, se eleito, ele melhorará o centro educacional. “A Marta, minha vice, fez os CEUs. O CEU cuida da criançada e dos adolescentes até 14 anos. Agora, vamos fazer o CEU 2.0, o CEU Profissões. O CEU Profissões vai trazer, em um único espaço, Wi-Fi livre, estúdio de audiovisual e formação em economia digital. Você, jovem da periferia, vai se formar em programador, designer, robótica e inteligência artificial”.
Boulos questiona o motivo de Nunes não ter entregue nenhum CEU em seu mandato e se ele não considera isso importante. Nunes rebate, dizendo que os CEUs são importantes e fez a reforma de todos os eles, citando problemas na piscina e de infraestrutura.
Déficit
O candidato Boulos questionou contra o atual prefeito, quanto o Executivo municipal tem em caixa.
Nunes afirmou que a Prefeitura tem um “caixa saudável”, mas que está comprometido com os pagamentos. “Temos hoje, na Prefeitura de São Paulo, um caixa saudável. Tudo que a gente tem está empenhado ou comprometido para os pagamentos. O saldo hoje deve estar, em torno, de R$ 22 bilhões. Não quer dizer que está com o dinheiro livre. Resolvi a saúde financeira para cuidar da saúde das pessoas. O orçamento em 2017 eram R$ 10 bilhões, esse ano serão R$ 21 bilhões”.
Boulos rebateu Nunes, dizendo que a Prefeitura teve déficit de R$ 5 bilhões em 2023. “Você fala em saúde financeira, é importante dizer que você fez déficit de R$ 5 bilhões no ano passado. Mais importante do que isso, hoje a cidade tem mais de R$ 22 bilhões no caixa, mas por que esse dinheiro não foi, de verdade, para a saúde das pessoas?”.
Nunes projetou, então, que fará 25 UBSs e 15 UPAs em um possível novo mandato. Boulos o rebateu, dizendo que parte desses equipamentos foram feitos na gestão de João Doria.
“Primeiro, das UPAs que ele fala que fez, três foram do Doria. Acho que ele se vê como continuidade do governo do Doria, então é natural que se coloque dessa maneira”, disparou Boulos.
O candidato do PSOL voltou a falar de seu projeto que, segundo ele, terá ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Poupatempo da Saúde. “Decidi fazer o Poupatempo da Saúde para que isso melhore na realidade, não só no discurso e propaganda do Nunes. Poupatempo da Saúde terei ajuda do presidente Lula, que já se comprometeu a trazer recursos federais para isso”.
Capital da vacina
O atual prefeito desviou de pergunta sobre se o ex-presidente Jair Bolsonaro teria feito tudo certo na pandemia de covid-19 e salientou a gestão de Bruno Covas (PSDB) afirmando que a cidade foi “capital da vacina”.
“A vacina que você tomou, o Bolsonaro mandou para cá.”, disse, Nunes.
O emedebista também criticou a gestão do governo Lula (PT) sobre a incidência de casos de dengue em 2024.
Sabesp é a ‘Enel da água”
O candidato Boulos criticou, durante o debate, a privatização da Sabesp (SBSP3).
Questionado por Nunes se iria acabar com o Smart Sampa após o PSOL entrar com uma ação judicial contra o projeto, Boulos rebateu. “Vou ampliar o Smart Sampa. E uma correção: não foi só o PSOL [que entrou com ação], o Ministério Público também entrou porque a empresa que você contratou, como em vários outros casos, tinha histórico de corrupção. É uma constante na sua gestão. É impressionante. Depois, você corrigiu, fez as coisas direitinho e foi liberado”.
“A Sabesp pode virar a Enel da água. Olha o que aconteceu nos cemitérios, na Enel e o que pode acontecer com a Sabesp”, afirmou Boulos.
Nunes, então, apontou para a questão da segurança e perguntou a Boulos o porquê de ele ser a favor da descriminalização da maconha. O candidato do PSOL desconversa, dizendo que ele quer diferenciar o traficante e o usuário.
“O que sempre defendi foi a diferenciação de usuário e traficante, a descriminalização do usuário. O que quer dizer isso? Traficante de droga é caso de polícia. Usuário tem que ser tratado e recuperado. É isso que defendo”, disparou Boulos.
Nunes criticou as mudanças de posicionamento de Boulos, que, segundo ele, foram feitas na época de eleição. “Quem tem duas caras nesse debate é você. Teve durante a campanha toda. Você é que defende uma coisa, uma hora outra”, rebateu Boulos.
Tarcísio
Nunes defendeu as privatizações de sua gestão e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), destacando a ida do seu padrinho político ao debate. “A questão da Sabesp é essencial para universalizar o atendimento”, disse.
Ao ser questionado sobre as privatizações do serviço funerário, Nunes argumentou que ele era um dos “piores” e mais “mal avaliados”.
(Com Estadão Conteúdo)