A dívida dos EUA tem sido foco de preocupações no mercado financeiro, com grandes players apontando para possíveis riscos e consequências, o que tem ganhado novas nuances em meio ao período eleitoral e a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris.
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Em análises recentes, Morgan Stanley, Richard Bernstein Advisors e Goldman Sachs apresentaram diferentes perspectivas sobre o impacto da crescente dívida norte-americana e o papel do ouro como ativo de proteção. Os comentários apontam para um cenário onde a incerteza fiscal e o aumento das taxas de juros moldam o comportamento dos investidores.
Sinais de alerta
Lisa Shalett, Chief Investment Officer do Morgan Stanley, destacou que, enquanto o mercado de ações bate recordes e se beneficia da perspectiva de uma vitória republicana nas próximas eleições, o mercado de títulos apresenta sinais de alerta. Shalett apontou a recente elevação de mais de 50 pontos-base nos rendimentos dos Treasuries de 10 anos, atribuída ao aumento das expectativas de inflação e crescimento econômico. “As taxas reais estão próximas dos níveis que normalmente pesam sobre as avaliações de ações, aumentando o custo do capital”, explicou.
Ela também comentou sobre a elevação da chamada “term premium” – o prêmio exigido pelos investidores para manter títulos de longo prazo devido à incerteza sobre futuras mudanças nas taxas de juros. Com o crescimento da dívida e do déficit fiscal, Shalett acredita que essa incerteza afeta diretamente a trajetória de juros futuros.
Em um ambiente onde os preços de ouro têm batido recordes, o Morgan Stanley alerta que o comportamento do mercado de títulos pode ser um prenúncio de riscos não considerados nas avaliações de ações. “Os investidores deveriam considerar diversificar seus portfólios e buscar proteção em ativos reais e fundos de hedge”, recomenda a análise do banco.
Previsões apocalípticas
Por outro lado, Richard Bernstein Advisors (RBA) adota um tom menos alarmante, sugerindo que o quadro de dívida, embora preocupante, não é tão catastrófico quanto alguns indicam. Em sua análise, a RBA argumenta que previsões de um “abismo financeiro apocalíptico” são exageradas.
A empresa relembra que, durante as décadas de 1980 e 1990, o percentual de pagamento de juros da dívida em relação ao PIB foi significativamente alto por 17 anos, sem resultar em uma crise econômica. A análise sugere que essa situação se repetiu em administrações de diferentes partidos, o que torna improvável que a situação da dívida seja resolvida por mudanças políticas no curto prazo.
A RBA conclui que, apesar de uma possível deterioração nas finanças públicas, os investidores não devem se concentrar demais nas eleições como fator para mudar suas estratégias. Para Richard Bernstein Advisors, o problema da dívida está longe de ser terminal, e o histórico mostra que projeções catastróficas nem sempre se confirmam.
Segundo a consultoria, muitos investidores se preocupam com um iminente “dia do acerto de contas” para a dívida. “Eles temem que a imprudência fiscal dos EUA eventualmente force uma reprecificação repentina e dramática da dívida dos EUA. A realidade é que o dia do acerto de contas ocorreu há 13 anos!”, ressalta a RBA.
Os títulos do Tesouro dos EUA foram rebaixados em 2011, perdendo a nota AAA.
“A teoria do mercado de títulos sugeriria que os títulos deveriam ter fornecido um rendimento de prêmio de risco em relação a outras dívidas soberanas classificadas como AAA após esse rebaixamento, e foi exatamente isso que aconteceu”, pontua a RBA.
O gráfico abaixo mostra o spread de rendimento entre os títulos dos EUA e os Bunds alemães, classificados como AAA. Os papeis foram negociados com rendimentos comparáveis por muitos anos, mas têm sido vendidos consistentemente com um rendimento de prêmio de risco desde o rebaixamento em 2011.
No pico, os títulos do Tesouro renderam mais de 275 pontos-base a mais do que os Bunds alemães, enquanto atualmente está em 286 pontos-base.
Spread entre os títulos do Tesouro dos EUA e da Alemanha
Ouro como proteção
A análise do Goldman Sachs destaca o aumento na procura por ouro, especialmente por bancos centrais de mercados emergentes, que têm aumentado suas reservas no metal precioso desde o congelamento dos ativos do banco central russo em 2022, após a invasão da Ucrânia. A instituição aponta que o ouro se tornou uma proteção contra possíveis sanções financeiras e riscos fiscais, em um contexto onde os EUA acumulam uma dívida de aproximadamente US$ 35 trilhões, o que corresponde a 124% do PIB do país.
Demanda trimestral de BCs e outras instituições (ton)
O Goldman Sachs também destaca que, enquanto bancos centrais de economias desenvolvidas, como os dos EUA e da Europa, já possuem reservas elevadas de ouro, alguns países emergentes, como a China, continuam aumentando suas reservas. Para esses países, a demanda por ouro funciona como uma tentativa de mitigar o risco de exposição excessiva ao dólar e à dívida americana. Além disso, a aproximação das eleições presidenciais reacendeu o interesse dos investidores ocidentais no mercado de ouro, visto como um hedge contra potenciais choques geopolíticos e fiscais.