A demora da equipe econômica e do presidente Lula em elaborar e divulgar um plano de contenção de gastos gerou danos irreversíveis para o desempenho do País em 2025, revelam estudos elaborados por bancos e consultorias. Isso acontece porque as expectativas continuam piorando, o que afeta as decisões das empresas e também do Banco Central.
Conforme disse o presidente do BC, Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (19), a grande expectativa hoje é como vai ser o ajuste.
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“(…) A gente precisa ter um anúncio que gere esse impacto positivo, porque no final das contas não é o fiscal que afeta a política monetária diretamente, é a expectativa de que o fiscal vai gerar uma dívida equilibrada na frente. Então a gente precisa que essa expectativa se realize”, disse durante uma palestra para empresários reunidos na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
A principal preocupação dos investidores são os níveis iniciais de dívida do Brasil, com Lula herdando uma dívida pública bruta de 72% do PIB (comparado aos 53% de Dilma Rousseff em seu 1º mandato) e tendo aprovado medidas significativas de aumento de gastos no início de seu mandato (+1,7% do PIB), aponta o BTG Pactual em um relatório enviado a clientes.
“Com razão, os mercados estão preocupados com a trajetória da dívida, com nossos economistas projetando que a dívida em relação ao PIB aumentará para cerca de 84% até o final do mandato de Lula. Isso é significativo, pois a dívida em relação ao PIB está se expandindo 12 p.p. durante o mandato de Lula, colocando o nível de dívida do Brasil bem acima de pares como México em 50%, Chile em ~40%, Colômbia em 54% e Turquia em 30%, para citar alguns”, apontam os analistas Leonardo Correa, Carlos Sequeira, Antonio Junqueira e Osni Carfi.
Segundo eles, até que o governo aborde os níveis de dívida e implemente medidas (de preferência cortes de gastos) para desacelerar esse aumento, os preços dos ativos provavelmente continuarão refletindo altos prêmios de risco.
Mais juros e inflação
O Itaú calcula que o ajuste de despesas necessário seria de pelo menos R$ 60 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026.
Um relatório assinado por Mario Mesquita, economista-chefe do banco, destaca que as incertezas fiscais somadas às externas, com perspectiva de um dólar (USDBRL) mais forte globalmente, o levou a revisar a projeção de câmbio para R$ 5,70 por dólar em 2024 e 2025 (de R$ 5,40 e R$ 5,20, respectivamente) – a despeito do aumento do diferencial de juros.
A projeção de crescimento do PIB para 2024 foi mantida em 3,2%, porém a de 2025 caiu para 1,8% (de 2%). Além disso, a inflação esperada para este ano subiu de 4,4% para 4,8% e, em 2025, de 4,2% para 5%.
“Com câmbio mais depreciado, atividade ainda resiliente, expectativas desancoradas (por um período prolongado) e riscos crescentes, o Banco Central precisará recalcular o grau de aperto monetário e avançar ainda mais, e com maior celeridade, em território contracionista”, opina Mesquisa.
Ou seja, com isso, a Selic poderá saltar a 13,5% no próximo ano, enquanto a estimativa anterior estava em 12%. O banco está mais pessimista do que o mercado, que projeta o juros a 12% em 2025, segundo o último boletim Focus do Banco Central.