Em dia marcado por instabilidade e troca de sinais, o dólar (USDBRL) à vista encerrou cotado a R$ 5,8144 (+0,05%). As oscilações foram contidas, de pouco mais de quatro centavos de real entre a máxima (R$ 5,8324) e a mínima (R$ 5,7898).
Operadores relataram falta de apetite por apostas mais contundentes, com mercado à espera do anúncio do pacote de corte de gastos do governo Lula, prometido ontem à noite pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para segunda ou terça-feira. Na semana, o dólar acumulou valorização de 0,45%.
No exterior, a moeda americana experimentou nova rodada de fortalecimento, com o índice DXY ultrapassando pontualmente os 108,000 pontos.
O euro chegou a tocar o menor nível em relação ao dólar em quase dois anos, abalado por dados fracos de índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) de serviços e indústria na zona do euro e pelo agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia.
“Na Europa, indicadores econômicos fracos reforçam a possibilidade de cortes adicionais nas taxas de juros pressionando o euro e fortalecendo o dólar”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressaltando que PMIs de novembro “mostram atividade econômica robusta nos EUA”.
As divisas emergentes e de países exportadores de commodities recuaram em bloco. O rublo russo caiu mais de 3%. O real apresentou de longe o melhor desempenho entre as moedas latino-americanas.
Operadores citam o apetite pela bolsa brasileira, na esteira da disparada das ações da Petrobras com anúncio de dividendos extraordinários, e certa acomodação e realização de lucros após o dólar ter voltado ontem a superar R$ 5,80 no fechamento, algo não visto desde 1º de novembro.
“Foi um dia de compasso de espera com a questão fiscal. O câmbio andou praticamente de lado, mas encerra a semana acima de R$ 5,80, uma cotação ainda elevada. Isso mostra que o clima ainda é de cautela”, afirma a economista-chefe do Ouribank, ressaltando que o ambiente externo de dólar forte e a aversão ao risco também jogaram contra o real nos últimos dias.
Para mais de 10 economistas de mercado que se reuniram hoje com o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, o pacote em estudo pelo governo já está refletido em grande parte nos preços dos ativos e não deve levar a uma apreciação relevante do real, de acordo com apuração dos repórteres Cícero Cotrim e Daniel Tozzi Mendes.
Segundo participantes do encontro, a leitura é a de que a cotação de R$ 5,70 veio para ficar. Cerca de 80% do impacto potencial do plano de corte de gastos já entrou nos preços dos ativos.
Os 20% restantes podem causar algum impacto de curto prazo, mas seriam insuficientes para reduzir o dólar a uma faixa próxima de R$ 5,40.
Os economistas presentes já trabalham com um corte de despesas próximo de R$ 70 bilhões, como vem sendo aventado pela imprensa.
A grande preocupação, eles disseram, é que a maior parte dessa economia venha de um pente-fino em programas sociais, e não de medidas estruturais, a exemplo da limitação para o aumento do salário mínimo. Se esse for o caso, a surpresa seria negativa.